Acheronta  - Revista de Psicoanálisis y Cultura
A topología e o tempo
Seminario 1978-1979
Jacques Lacan

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Tradução, organização e notas de Frederico Denez e Gustavo Capobianco Volaco

Aula 6
20 de Fevereiro de 1979

Estou incomodado por causa do borromeu generalizado. Eu não posso crer que os generalizados, seja 4 menos 2, 5 menos 3, 6 menos 4, 7 menos 5, 8 menos 6. Eu não posso crer dado que em todos esses casos há dois de diferença, e que de tomá-los dois a dois isso seja neutro, como que tomá-los três a três seja borromeu. Tenho a sensação de que seria necessário que a generalização do borromeu se estenda a quatro e, inclusive - por que não? - a cinco. De modo que seria necessário que não se tratasse de dois de diferença. A questão é saber se tudo é neutro antes de quatro e mesmo cinco.

Então, hoje eu vou reservar esta questão e espero trazer-lhes alguma coisa na próxima vez. Pois é um fato que o borromeu generalizado tem sempre uma diferença de dois e que seria necessário seguramente que o borromeu generalizado procedesse de outra maneira.

Hoje eu gostaria de desenhar para vocês outra coisa, a saber, o que se chama banda de Slade. Coisa curiosa, é a mesma banda que esta, o que se vê dobrando em princípio isto, o que simultaneamente permite dobrar isto. Se dobram esse, esse lhes permite dobrar este e aquele conduz ao mesmo tempo para o retorno idêntico a esse, em outros termos, dobrando esse, quer dizer, este, aquele lhes permite a este dobrá-lo de uma maneira tal que é igual a este, quer dizer, aos seis cruzamentos dessa figura, ainda que esta tenha oito. Talvez isso me ajude a resolver a questão do borromeu generalizado.

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Faça a pergunta!

Madame Mouchonnat:  – Desculpe-me senhor, por eu lhe fazer uma pergunta em meu estilo, quer dizer, bastante ingênua, penso que não sou aqui a única, de qualquer maneira, mas... se você acha que vale a pena, é uma questão que, para mim, vale.
Se está com seis e oito, agora estou completamente passada. Até três, isso vai. Me faço a questão, para dizer a verdade, depois do que você adiantou, não faz muito tempo, faz quase dois seminários, que talvez a metáfora do nó borromeu, quer dizer, os três - ...eu me detenho nisso neste momento - não convém para dar conta de R.S.I.

Então, eu não sei como é isso para meus camaradas, isso me tocou bastante, me pareceu bastante importante, penso que inclusive se poderia dizer que é o suficiente para não dormir mais, o que não seria, talvez, tão mal assim. 
Então aqui está um pouco de minhas reflexões: o nó borromeu, como tudo o que conduz Lacan, é necessário - em todo caso, para mim é assim - me é necessário alguns anos para compreender, entender...bem! Eu cheguei a entender um pouco o que é o nó borromeu e em todo caso, eu, isso me serve em análise. É um meio (2). Meu truque, não são as matemáticas, não me aferro a isso como a minha primeira camisa, diria inclusive mais! Mas é um meio para um fim, quer dizer que isso permite que me desembaraçar melhor com o que é a psicanálise.

Assim, o interesse do nó borromeu, é que é um modo de escrever R.S.I. A grosso modo - bem o recordo - que há três anéis que se ligam, no meio há furo: é o pequeno a. E eles se ligam de um certo modo, isso, é muito importante. Não? Creio que depois do tempo que se nos esmaga, isso, até agora, está feito o trabalho de entrar...

Ainda assim quero dizer algo. É que a propósito do nó borromeu, o interesse que Lacan suscitou em mim com tudo isso, o vejo em dois níveis: em princípio nos faz uma demonstração que durou, que dura, que é uma verdadeira demonstração, quer dizer, que se agarra com o Real, se emaranha, ele nos mostra isso, diria, inclusive, que põe aí uma certa complacência e penso que é uma lição (3), enfim, para mim é uma. O segundo nível, ele me interessa já que, como dizia, me ajuda para trabalhar na psicanálise.
Então, para voltar a vaca fria, eu diria, quer dizer, uma história mitológica (4), a grosso modo, reconheço aí uma história mitológica, quer dizer, o corpo primordial que se incorpora, como cada um sabe, de que a origem é talvez mítica, enfim, eu o colocaria bem ao lado do R, o Real. E depois há, em segundo lugar, o "Tu deves uma vida a seu pai", o S, aproximadamente. Não, é claro, me engano pois o primeiro é o imaginário, é o que eu queria dizer, a mitologia do carneiro (5), o corpo imaginário. E em seguida o Simbólico do lado de Jeová: ""Tu deves uma morte a Deus". Qual Deus, pouco importa! A questão de Deus se põe para qualquer um, como cada um sabe, inclusive aos ateus.

Bem, então, então, para mim isso serve, o nó borromeu. Devo dizer que quando Lacan nos disse, faz duas ou três sessões, que talvez a metáfora não convém, isso me transtornou verdadeiramente. Então, ei-lo aqui, me disse: isso não convém, isso quer dizer o quê? Enfim, ele disse alguma coisa - não encontrei minhas anotações, as emprestei a alguém, não pude rever com exatidão - mas era alguma coisa, enfim, havia um adjetivo com "ável" do tipo "não é favorável", talvez fosse outro... digamos, "injustificável"?
Então é injustificável, me disse: porque é injustificável? Injustificável, isso quer dizer que nossa demonstração não convém muito bem, nosso modelo que nos foi adiantado - digo nosso porque fazemos assistência a seu seminário e, mesmo depois de alguns anos, penso que se assiste a seu seminário, é por isso que me permito falar - bem, então é injustificável porque esse modelo não convém, se erra em alguma parte, como se sabe bem que ocorre, deve ser revisto, retornar um pouco, ou, então, isso verdadeiramente não pode convir, esse modelo não pode convir, então, aí está, minha pergunta está aí - para mim é uma questão muito importante (6).

Ele disse: essa metáfora é, digamos, injustificável. Então, é isso o que se pode dizer de uma metáfora, que está liquidada porque ela não é muito...justa? Eu, penso que não. Uma metáfora jamais é totalmente justa senão não seria uma metáfora. Só que não se pode falar se não se utiliza metáforas e, nesse sentido o nó borromeu, isso me é útil como metáfora. Então eu entendo um pouco de lado a metáfora paterna, mas, talvez seja porque compreendo mal Lacan. A questão que queria fazer, é esta: se trata simplesmente é um problema das matemáticas? Se for isso, fico tranquila, enfim, isso não me interessa, não especialmente, não verdadeiramente!

Mas se o R.S.I, esse arranjo particular dessas três categorias, ligadas como elas estão, com esse furo no meio, era a metáfora paterna, ou ligado talvez a isso um quarto anel, assim foi evocado, talvez Freud tenha jogado com o pai, com o outro anel lá.
Bem, bem, se isso não convém, isso nos leva longe, creio que é uma questão muito importante. Enfim a questão..., mas creio que não está muito claro o que digo, o digo como posso, a questão que faço a Lacan é: somos nós, neste momento, todos nós, emaranhados com os nós que estão ali na frente, com dificuldades propriamente matemáticas? Mas isso não tem incidências? Já que apesar de tudo ele nos fala, lá, na psicanálise, para a psicanálise. É que isso não nos volta a interrogar em nossas categorias psicanalíticas? É que não há lá alguma coisa ao nível dos nomes do pai que haveria de reajustar? Se teria equivocado: ou o nosso modelo não convém ou é necessário voltar a pensar alguma coisa ao nível da metáfora paterna. Assim a terceira solução pode existir - o que não está totalmente excluído - o que evidentemente não compreendi, é certo.

Lacan: – O que me inquieta no nó borromeu, é uma questão matemática e é matematicamente e eu entendo dela tratar.

X: – Doutor, permita-me corrigir o seu terceiro esquema. Na parte da banda de Slade, se for dado 1-2-3 no ponto de partida, teremos embaixo 1-2-3, mas na parte do terceiro esquema, se é 1-2-3 no ponto de partida, é 2-1-3 no final.

Lacan: – Isso é totalmente verdadeiro................................................................. (7)

É totalmente verdadeiro, mas estou confuso. Bem, lhes digo adeus. Tentarei fazer melhor da próxima vez. (8)

Notas

(1) Esses nós de Slade estão, nas versões que consultamos, logo abaixo de “Faça a pergunta”. Resolvemos antecipá-los para que se articulem diretamente com o que Lacan descreve no parágrafo acima.

(2) De “entendi” até “um meio” idem as notas 6, 8 e 10.

(3) E logo agora que vínhamos pensando que Lacan, beirando os 80 anos, estava confuso, chega Madame Mouchonnat para nos dar a lição de que é sempre possível piorar.

(4) No original, “histoire de bélier”.

(5) No original, “le bélier”.

(6) Nas versões que consultamos este e os parágrafos seguintes fazem um só. Resolvemos fragmentá-lo para que, dentro do caos de Madame Mouchonnat, exista ao menos uma chance de acompanhamento.

(7) Idem nota 6, 8, 10 e 15.

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