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A construção do conceito de pulsão
As primeiras aproximações ao conceito de pulsão de Freud estão descritas no texto Como se origina a angústia do Rascunho E (1987 [1894]) . Freud considera que a angústia de seus pacientes neuróticos possui vínculo estreito com a sexualidade. Ele estabelece uma conexão entre o aparecimento da angústia e acumulação da tensão sexual física. Esta sucede em decorrência de sua descarga ter sido evitada, levando o autor a indagar-se sobre o motivo da vinculação entre ela e a angústia.
Para compreender a relação entre sexualidade e angústia, Freud considera que a atenção deve estar voltada para a excitação endógena, tensão endógena. Ele cita a fome, a sede e a pulsão sexual 1 como exemplos destas excitações. Das excitações endógenas, é a pulsão sexual a que será indispensável para dar continuidade ao trabalho investigativo e clínico de Freud.
Quando a tensão endógena, mais precisamente a tensão sexual física, ultrapassa determinado limiar, ela passa a ter uma significação psíquica e desperta a libido 2 psíquica. Esta significação psíquica decorre da ação da tensão endógena sobre determinado grupo de ideias. A ação sobre este grupo de ideias apresenta como consequência a busca de soluções para pôr fim à tensão endógena. As expressões excitação endógena e pulsão sexual não são tomadas como sinônimas, mas a primeira já manifesta em si o gérmen da elaboração da segunda.
No Projeto para uma psicologia científica (1987 [1895]), Freud apresenta uma diferença entre os estímulos externos e aqueles originados no próprio elemento somático, os estímulos endógenos, cada um deles fazendo exigências distintas ao aparelho psíquico. A aproximação e as semelhanças entre os estímulos endógenos e as pulsões é que interessam à investigação.
O princípio de inércia neuronal revela a atividade empreendida pelos neurônios para libertar-se dos estímulos presentes neles, ou seja, para eliminar totalmente as quantidades de energia recebidas dos estímulos externos. Os neurônios se repartem em motores e sensoriais e funcionam como um dispositivo cuja função é eliminar os estímulos externos por meio da descarga.
O sistema nervoso primário busca libertar-se dos estímulos externos mediante uma descarga pelo aparelho muscular. E ssa descarga do estímulo representa para o sistema nervoso a sua função primária, mas é possível o desenvolvimento de uma função secundária relacionada com a fuga ao estímulo.
Freud apresenta outra situação que também é capaz de romper o princípio de inércia: os estímulos endógenos. Estes têm origem no elemento somático e traduzem também a necessidade de descarga. Eles representam as grandes necessidades: fome, respiração e sexualidade. A fuga empreendida pelo organismo não tem qualquer efeito sobre os estímulos endógenos, o que os distingue dos estímulos externos.
A descarga dos estímulos endógenos só é executada mediante ações específicas realizadas no mundo externo. Para a realização desta ação, faz-se necessário um esforço independente dos estímulos endógenos presentes nos neurônios e normalmente maior.
No Projeto para uma psicologia científica (1987 [1895]), Freud expressa as relações estabelecidas entre os estímulos endógenos, o esforço independente destes estímulos e a ação específica:
Eles cessam apenas mediante certas condições, que devem ser realizadas no mundo externo. (Cf., por exemplo, a necessidade de nutrição.) Para efetuar essa ação (que merece ser qualificada de "específica"), requer-se um esforço que seja independente da Qn 3 endógena e, em geral, maior, já que o indivíduo se acha sujeito a condições que podem ser descritas como as exigências da vida. Em conseqüência, o sistema nervoso é obrigado a abandonar sua tendência original à inércia (isto é, a reduzir o nível [da Qn] a zero). Precisa tolerar [a manutenção de] um acúmulo de Q suficiente para satisfazer as exigências de uma ação específica (FREUD, 1987 [1895], v.I, p. 317).
Este tipo de estimulação sujeitará o sistema nervoso a renunciar à tendência original à inércia, redução da quantidade de estímulo a zero. O sistema será obrigado a conviver com uma quantidade de estímulo capaz de uma ação específica.
Esta nova modalidade econômica de funcionamento do sistema nervoso se esforça por manter a quantidade de estímulos nos neurônios no nível menor possível ou mantê-la constante. São os estímulos endógenos, mais particularmente, os que estão relacionados à sexualidade, os precursores das pulsões.
No escrito Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1987 [1905]), citam-se três dos quatro elementos da pulsão: a fonte, o objeto e a finalidade. A pressão da pulsão, seu quarto elemento, só é introduzida em Os instintos e suas vicissitudes (1987[1915]).
Quando Freud trabalha neste escrito, o assunto da inversão 4 nos desvios relativos ao objeto sexual, ele procede a uma observação relevante sobre o objeto da pulsão. Refere-se ao elo estabelecido entre a pulsão e seu objeto. Poder-se-ia imaginar, equivocadamente, a existência de uma relação estreita e necessária entre a pulsão e seu objeto, caso tomasse em consideração apenas a ligação entre um homem e uma mulher. A inversão vem denunciar a precariedade deste vínculo.
Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1987 [1905]), Freud assim expressa o vínculo entre a energia da pulsão sexual e os sintomas:
[...] não quero dizer simplesmente que a energia do instinto sexual faz uma contribuição às forças que mantêm as manifestações patológicas (os sintomas). Pretendo expressamente afirmar que essa contribuição é a mais importante e a única fonte constante de energia da neurose e que, em consequência, a vida sexual das pessoas em questão é expressa seja exclusiva ou principalmente, seja apenas parcialmente nestes sintomas. Como disse alhures, os sintomas constituem a atividade sexual do paciente (1987 [1905], v. VII, p. 166).
Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1987 [1905]), Freud apresenta a pulsão como situada na fronteira entre o anímico e o somático. Ele enfatiza que a pulsão, em si, não tem qualidade e que deve ser vista tão-somente como exigência de trabalho feita à mente. A diferença entre as pulsões é estabelecida a partir de suas fontes e alvos. Para Freud, "a fonte de um instinto é um processo de excitação que ocorre num órgão e o objetivo imediato do instinto consiste na eliminação deste estímulo orgânico" (FREUD, 1987 [1905], v. VII, p. 171). A supressão deste estímulo orgânico é algo bastante problemático para a teoria das pulsões, senão, impossível, pois, a força da pulsão é constante, como está expresso em Os instintos e suas vicissitudes (1987 [1915]).
Freud alerta acerca dos perigos e das limitações de considerar a infância sem sexualidade. Isto implica uma barreira à compreensão das pulsões e da sexualidade do adulto. Para a psicanálise, a pulsão sexual está presente desde a infância. Foi o estudo dos distúrbios neuróticos que permitiu afirmar a existência de uma organização sexual infantil. A criança é um perverso polimorfo, ou seja, a excitação sexual pode se originar em várias zonas erógenas, não se restringindo aos genitais. O adulto, tal como a criança, é, também, marcado pela pluralidade das zonas erógenas.
Outro aspecto muito importante no estudo das pulsões refere-se à noção de apoio. Este termo representa a relação primitiva que as pulsões sexuais mantêm com a finalidade de autopreservação. Tome-se o exemplo da pulsão oral, vinculada, inicialmente, à necessidade alimentar da criança. O alimento, ao ser ingerido, não só sacia a fome, mas também desperta algo mais, o prazer da sucção do seio e aquele associado ao contato do alimento com as membranas mucosas. A finalidade autopreservativa da alimentação desperta uma pulsão, a pulsão oral e uma área produtora de prazer, agora denominada de zona erógena 5. A noção de apoio na teoria freudiana não serve para apontar uma continuidade entre a função autopreservativa e a sexual, mas, pelo contrário, para mostrar o desvio desta em relação aquela.
Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1987 [1905]), Freud refere-se ao vínculo estabelecido entre a sexualidade infantil e a finalidade de autopreservação:
De início, a atividade sexual se liga a funções que atendem à finalidade de autopreservação e não se torna independente delas senão mais tarde. Ninguém que já tenha visto um bebê reclinar-se saciado do seio e dormir com as faces coradas e um sorriso feliz pode fugir à reflexão de que este quadro persiste como protótipo da expressão da satisfação sexual na vida ulterior. A necessidade de repetir a satisfação sexual desliga-se agora da necessidade de nutrir-se (FREUD, 1987 [1905], v. VII, p. 186).
A pulsão sexual, na infância, não é unificada; inicialmente, ela é auto-erótica, ou seja, sem objeto. O erotismo oral surge numa fase bastante primitiva da vida sexual das crianças. Noutro momento desta organização, a ênfase está no sadismo e no erotismo anal. Mesmo na infância, há o caráter erógeno dos órgãos genitais e isto poderá incidir de duas maneiras: a primeira, pela estimulação direta nestas zonas e a segunda de um modo ainda não totalmente inteligível, quando a zona erógena é objeto da excitação indireta por meio de outras fontes. Para Freud, não era evidente como se estabelecia a relação entre a excitação e a satisfação sexual, e qual a conexão entre a atividade da zona genital e a das demais zonas erógenas.
Nesse texto, Freud refere-se ao recalcamento como uma força, ou um obstáculo psíquico, que impede a pulsão sexual de atingir seu alvo, a satisfação. A pulsão é impelida para outros caminhos e se manifesta por meio dos sintomas. O texto Repressão (1987 [1915]) trabalha minuciosamente este tema.
O primeiro dualismo pulsional: pulsões sexuais e pulsões do eu
A importância do escrito A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão (1987 [1910]) decorre do fato de Freud haver empregado pela primeira vez a expressão pulsões do eu. É certo que ele já se havia reportado às pulsões sexuais nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1987 [1905]), mas, nele, as situa em oposição às necessidades fisiológicas. Com a formulação das pulsões do eu e das pulsões sexuais, no artigo A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão (1987 [1910]), tem-se, pois, a formulação do primeiro dualismo pulsional.
Em uma carta escrita em 12 de abril de 1910 para Ferenczi 6, Freud descreve este artigo como não tendo nenhum valor. Este seu comentário, contudo, parece ao investigador, um exagero, pois, apesar de ser um texto curto, de apenas sete páginas, oferece questões importantes para a investigação psicanalítica.
Ele apresenta a origem da vida psíquica como estando relacionada à interação mútua entre forças. Vê-se aqui, como também, desde o Projeto para uma psicologia científica (1987 [1895]) e até o final de sua obra com o Esboço de Psicanálise (1987 [1938]), a presença do fator econômico como inerente ao funcionamento psíquico.
Freud oferecerá uma explicação da perturbação psicogênica da visão a partir do conflito existente entre d uas exigências: as das pulsões sexuais e as das pulsões do eu. As pulsões sexuais, na medida em que investem economicamente nos seus objetos, acabam investindo sexualmente no campo visual: o prazer sexual em olhar. Isto acaba por atrair para si a ação defensiva das pulsões do eu. As ideias através das quais a pulsão sexual se manifestava sofrem o efeito maciço do recalque. O eu deixaria de ter o controle sobre o órgão da visão, já que este se encontra a disposição da pulsão sexual recalcada.
Em A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão (1987 [1910]), Freud discorre também sobre um assunto que será detalhado no texto O mal-estar na civilização (1987 [1929]): o homem e a renúncia pulsional imposta pela civilização. Ele mostra o quanto o desenvolvimento da civilização decorre do recalcamento da pulsão sexual, assim como de sua transformação para fins que possibilitem manter e fazer evoluir a civilização.
Em Sobre o narcisismo: uma introdução (1987 [1914]), Freud trata da questão do narcisismo, e, mais particularmente, da libido do eu e libido objetal. A expressão narcisismo foi utilizada por Paul Näcke, em 1899, para traduzir o comportamento de uma pessoa que toma o próprio corpo como um objeto sexual. A libido é investida no próprio corpo.
O estudo do narcisismo foi, sobretudo, decorrente dos trabalhos desenvolvidos por Freud acerca da psicose e das perversões. Ele observou, entretanto, que o narcisismo também fazia parte do desenvolvimento normal do indivíduo. Inicialmente, a libido toma o eu como objeto de seus investimentos. O eu pode ser tomado pelos investimentos diretos da libido, narcisismo primário, ou ser alvo da ação dos investimentos libidinais que retornam dos objetos, narcisismo secundário.
Uma grande contribuição do escrito Sobre o narcisismo: uma introdução (1987 [1914]) para o estudo da teoria das pulsões trata-se de o eu ser tomado como o grande reservatório da libido das pulsões sexuais. Isto submete a risco o primeiro dualismo pulsional, aproximando-o da teoria monista de Jung. A solução para este problema não foi dada de imediato, pois teve de esperar até 1920, quando Freud, em Além do princípio de prazer (1987 [1920]), reagrupou as pulsões sexuais e as pulsões do eu no grupo das pulsões vida, situando-o em oposição às pulsões de morte. Ele salva, desta forma, o dualismo pulsional na teoria das pulsões.
No texto Os instintos e suas vicissitudes (1987 [1915]), existe a advertência de que a pulsão, mesmo se expressando como uma exigência de trabalho feita à mente, não deve ser igualada ao estímulo mental. Essa exigência de trabalho parte de um estímulo de dentro do próprio organismo e possui força constante.
O estímulo mental, que tem origem no mundo exterior, apresenta impacto único. Em relação ao que procede da estimulação externa, o sujeito terá pela ação muscular a opção de tentar afastá-lo ou fugir de seu campo de ação. A ação muscular apresenta um efeito sobre a ação do estímulo externo, mas não sobre a pulsão. A eficácia da ação muscular proporciona a primeira diferenciação entre o que é interno e externo.
Para Freud, o que melhor expressa um estímulo pulsional é a "necessidade" e o que pode aplacar este estado é a satisfação decorrente de uma modificação adequada na fonte desta pulsão. A existência de estímulos pulsionais revela a presença de um mundo interno.
No texto há pouco aludido, discute-se novamente um tema que já havia sido abordado no Projeto para uma psicologia científica (1987[1895]) e que será analisado detalhadamente em Além do princípio de prazer (1987[1920]). Freud diz que o sistema nervoso busca desembaraçar-se de seus estímulos ou reduzi-los ao mínimo possível.
Vê-se que, para os estímulos externos, o sistema nervoso opera com sucesso muito facilmente, pois pode alcançar sua meta simplesmente afastando-os do seu campo perceptivo. No que diz respeito à pulsão, todavia, isso não é atingido tão prontamente, pois, do estímulo pulsional, o sujeito não pode se apartar. Em relação a isto, Freud conclui que foi a pulsão, e não os estímulos externos, a responsável pelo atual desenvolvimento do sistema nervoso. A necessidade de ter que lidar com o afluxo constante de estímulo pulsional foi que permitiu o progresso deste sistema.
A pulsão é situada como um conceito na fronteira entre o psíquico e o somático. Freud assim se refere no que diz respeito aos vínculos estabelecidos entre a pulsão, o somático, o corpo, a exigência de trabalho e a mente:
Se agora nos dedicarmos a considerar a vida mental de um ponto de vista biológico, um instinto nos aparecerá como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida da exigência feita à mente no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo (1987 [1915], v. XIV, p. 142).
Neste excerto, Freud ressalta vários aspectos que o conceito de pulsão apresenta: o primeiro, de estar na fronteira entre o mental e o somático; o segundo, de ser representante de estímulos originados internamente ao organismo; o terceiro, da exigência de trabalho que resulta da ligação da mente com o corpo. Este último aspecto da pulsão evoca a ideia de que a ligação da mente com o corpo não é um dado imediato. Não se trata de um elemento inato e sim de algo que exige da mente trabalho e representação; um valioso alerta para não esquecer os fatores indispensáveis para a articulação e compreensão deste conceito fundamental da psicanálise.
A elaboração do conceito de pulsão realiza-se por meio de seus quatro elementos: a fonte, quelle; a pressão, drang; a finalidade, ziel e o objeto, objekt.
A fonte (quelle) é o lugar a partir do qual o estímulo pulsional tem sua origem. Em tese, a fonte da pulsão seria aplicada para todas as pulsões, mas no seu desenvolvimento teórico, Freud somente a associa às pulsões sexuais. Freud faz, em Os instintos e suas vicissitudes (1987[1915]), as seguintes considerações acerca da fonte de uma pulsão:
Por fonte [Quelle] de um instinto entendemos o processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo, e cujo estímulo é representado na vida mental por um instinto. Não sabemos se esse processo é invariavelmente de natureza química ou se pode também corresponder a liberação de outras forças, por exemplo, forças mecânicas. O estudo das fontes dos instintos está fora do âmbito da psicologia. Embora os instintos sejam inteiramente determinados por sua origem numa fonte somática, na vida mental nós os conhecemos apenas por suas finalidades. O conhecimento exato das fontes de um instinto não é invariavelmente necessário para fins de investigação psicológica; por vezes sua fonte pode ser inferida de sua finalidade (1987 [1915], v. XIV, p.143-4).
A pressão (drang) da pulsão é o aspecto motor, econômico ou quantitativo da pulsão; é uma força constante e se revela na exigência de trabalho operada sobre a mente desde a fonte. A pressão exercida pela pulsão passa a ser concebida como a essência de toda pulsão. A pressão é o elemento que mais se aproxima da máxima freudiana de que toda pulsão é um fragmento de atividade.
A satisfação é o que pode ser observado como a finalidade (ziel) da pulsão, ou, em outras palavras, é a abolição do estado de excitação na fonte da pulsão.
O objeto (objekt) é o elemento por meio do qual a pulsão atinge a sua satisfação. O objeto é o que existe de mais variável em uma pulsão. O essencial não é a sua natureza intrínseca, mas sim, o fato de que, por meio dele, a pulsão atinja a sua satisfação. A pulsão não está ligada, inicialmente, a ele. Não há a necessidade de que seja algo estranho ao sujeito, mas é possível que seja parte de seu próprio corpo.
Na avaliação de Freud, o estudo das pulsões com base na consciência oferece grandes limitações, o que torna seu estudo dependente da pesquisa psicanalítica das perturbações mentais. A investigação será centralizada nas pulsões sexuais, visto que é o grupo pulsional que poderá ser identificado mais facilmente nesta observação.
As pulsões ou, mais precisamente, as pulsões sexuais, podem ser objeto, em seu desenvolvimento e no transcurso da vida, dos seguintes destinos: reversão ao seu oposto, retorno em direção ao próprio eu do indivíduo, recalque e sublimação. Estes destinos constituem defesas no que concerne à pulsão.
A reversão ao seu oposto é alvo de um desdobramento em dois processos: uma mudança da atividade para a passividade e uma reversão do conteúdo. Estes processos devem ser tratados isoladamente, pois dessemelhantes são as suas naturezas. O sadismo-masoquismo e a escopofilia-exibicionismo são os exemplos citados no caso da reversão da atividade para a passividade. Na substituição da atividade (torturar e olhar) pela passividade (ser torturado e ser olhado), o que ocorre de fato é uma modificação no modo de atingir a satisfação; quanto a isso, pode haver uma forma ativa ou passiva.
O retorno da pulsão em direção ao próprio eu ocorre quando o sujeito é quem passa a ser o objeto da ação da pulsão. Os pares sadismo-masoquismo e escopofilia-exibicionismo são exemplos para este destino pulsional. O masoquismo, neste texto, é considerado como o sadismo, que retorna ao sujeito tomado como objeto. A compreensão do masoquismo será transformada com a formulação da hipótese da pulsão de morte introduzida no texto Além do princípio de prazer (1987[1920]). Nos exemplos ora citados, pode-se asseverar que houve para a pulsão não somente uma reversão ao seu oposto, mas também um retorno em direção ao próprio eu.
O recalque, o terceiro destino pulsional, é estudado pormenorizadamente no artigo Repressão (1987 [1915]). O recalque é uma modalidade de defesa que procura tornar inoperante o impulso pulsional, mas nunca excluí-lo. Nesta modalidade de defesa, é negado o acesso dos representantes ideativos da pulsão à consciência. É uma batalha realizada entre duas forças, a das pulsões sexuais, buscando a satisfação, e a do recalque, tentando neutralizar a primeira. Observa-se o aspecto econômico na luta efetuada por estas duas forças.
No artigo Repressão (1987 [1915]), Freud se questiona por que a pulsão deve ser objeto da ação do recalque, na medida em que espera daquela apenas a satisfação:
Não é fácil deduzir em teoria a possibilidade de algo como a repressão. Por que deve um impulso instintual sofrer uma vicissitude como essa? Condição necessária para que ela ocorra deve ser, sem dúvida, que a consecução, pelo instinto, de sua finalidade produza desprazer em vez de prazer. Contudo, não podemos imaginar facilmente tal eventualidade. Não existem tais instintos: a satisfação de um instinto é sempre agradável. Teríamos de supor a existência de certas circunstâncias peculiares, alguma espécie de processo através do qual o prazer da satisfação se transforma em desprazer (1987 [1915], v. XIV, p. 169).
A explicação para essa situação, segundo Freud, decorre de que a satisfação de uma pulsão leva ao prazer num determinado sistema psíquico e desprazer noutro. É o protótipo da queixa do sofrimento do neurótico. Para que ocorra o recalcamento da pulsão, é necessário que a força do desprazer seja superior ao prazer alcançado pela satisfação pulsional. Freud garante que a função defensiva do recalque não está presente desde o início, mas somente a partir da clivagem da atividade psíquica em inconsciente e consciente.
O recalque possui duas etapas: o recalque primário e o recalque propriamente dito. A primeira consiste em impedir o acesso à consciência ao representante ideacional da pulsão. Nessa situação, estabelece-se uma fixação na qual o representante psíquico permanece inalterado e a pulsão continua a ele vinculado. A segunda incide nos derivados psíquicos do representante recalcado e refere-se a uma pressão posterior. As forças atuantes no recalque propriamente dito são duas: a de repulsão, que age a partir da consciência; e a de atração, exercida pelo recalcado primordial. Freud acredita que o sucesso do recalque depende da cooperação destas duas forças.
O recalque opera de uma maneira altamente individual e os ideais dos homens mantêm uma estreita relação com os objetos mais execrados por eles, tal como ocorre no fetiche. Neste último, tem-se a divisão do representante recalcado em duas partes: a que sofre a ação do recalque e a que, em virtude de desta ligação ao recalcado, passa pela idealização.
A ação do recalque não acontece uma única vez e nem oferece resultados permanentes. È um processo constante e como tal exige um persistente consumo de energia. O recalcado realiza uma pressão incessante em direção à consciência.
No texto, Freud destaca que o recalque não incide somente no representante pulsional investido com uma determinada quota de energia psíquica libido procedente de uma pulsão, mas também, no afeto:
Agora, a observação clínica nos obriga a dividir aquilo que até o presente consideramos como sendo uma entidade única, de uma vez que essa observação, nos indica que, além da idéia, outro elemento representativo do instinto tem que ser levado em consideração, e que esse outro elemento passa por vicissitudes de repressão que podem ser bem diferentes das experimentadas pela idéia. Geralmente, a expressão quota de afeto tem sido adotada para designar esse outro elemento do representante psíquico. Corresponde ao instinto na medida em que este se afasta da idéia e encontra expressão, proporcional à sua quantidade, em processos que são sentidos como afetos (1987 [1915], v. XIV, p. 176).
Na descrição de um caso de recalque devem-se acompanhar separadamente os destinos da idéia e do afeto. No texto, o afeto é referido como sendo a expressão da quantidade da energia pulsional.
No que se refere à idéia, o recalque consiste em fazê-la desaparecer da consciência, caso já se encontre aí situada, ou afastá-la deste sistema psíquico caso esteja na iminência de se tornar consciente. No texto O inconsciente (1987 [1915]), o afeto apresenta três destinos metapsicológicos: "ou o afeto permanece, no todo ou em parte, como é; ou é transformado numa quota de afeto qualitativamente diferente, sobretudo em ansiedade; ou é suprimido, isto é, impedido de se desenvolver" (FREUD, 1987 [1915], V XIV, p. 204). A supressão do afeto constitui a verdadeira finalidade do recalque e o trabalho deste não será completo se esta meta não for atingida.
A sublimação é o último destino pulsional apontado no texto Os instintos e suas vicissitudes (1987[1915]) e resulta da substituição do objeto e da finalidade da pulsão por outros não sexuais e valorizados socialmente. Ela mantém uma relação estreita com a civilização, já que esta exige uma constante renúncia à satisfação pulsional. Freud falou, principalmente, da atividade artística e da produção intelectual como duas de suas expressões. Estas manifestações não apresentam um vínculo evidente com a sexualidade, mas a força relacionada a estas produções são tributárias da pulsão sexual. Grandes avanços da cultura estão associados à sublimação. Mesmo a sublimação tendo sido discutida em alguns de seus artigos, no entanto, o desenvolvimento de sua formulação teórica não é tão elaborado quanto os de seus outros conceitos.
Em Sobre o narcisismo: uma introdução (1987 [1914]), Freud esclarece o vínculo entre a satisfação sexual e a sublimação:
A sublimação é um processo que diz respeito à libido objetal e consiste no fato de o instinto se dirigir no sentido de uma finalidade diferente e afastada da finalidade da satisfação sexual; nesse processo, a tônica recai na deflexão da sexualidade (1987 [1914], v. XIV, p. 111).
Em outro texto, Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância (1987 [1910]), Freud estabelece uma relação entre a pulsão sexual, a sublimação e a atividade profissional:
A observação da vida cotidiana das pessoas mostra-nos que a maioria conseguiu orientar uma boa parte das forças resultantes do instinto sexual para sua atividade profissional. O instinto sexual presta-se bem a isso, já que é dotado de uma capacidade de sublimação: isto é, tem a capacidade de substituir seu objetivo imediato por outros desprovidos de caráter sexual e que possam ser mais altamente valorizados (1987 [1910], v. XI, p. 72).
No escrito O inconsciente (1987 [1915]), ele acentua que a pulsão só pode ser representada no inconsciente por meio de uma ideia. Que a pulsão "nunca pode tornar-se objeto da consciência só a ideia que o representa pode" (FREUD, 1987 [1915], v. XIV, p. 203). Caso uma pulsão não se ligue a uma idéia ou não esteja associada a um estado afetivo, nenhum conhecimento se pode ter dela.
O núcleo do inconsciente é formado pelos representantes ideativos das pulsões. Estes estão lado a lado sem se influenciarem. Freud afirma que as tentativas de fuga à exigência pulsional não apresenta nenhum sucesso. Apesar desta asserção, ele continua a indagar-se até o final de sua obra, como no artigo Análise terminável e interminável (1987 [1937]), acerca das possibilidades de amansar as exigências pulsionais. Dois impulsos pulsionais cujas finalidades apresentam oposição entre si podem permanecer ativos no inconsciente, ou seja, seu funcionamento obedece ao princípio da não-contradição.
O segundo dualismo pulsional: pulsões de vida e pulsões de morte
O artigo Além do princípio de prazer (1987[1920]) inicia-se afirmando que os eventos mentais satisfazem o princípio de prazer, quer dizer, eles buscam reduzir a tensão psíquica ao nível mais baixo possível, ou, ao menos, tentam conservá-la constante. Esta restrição da tensão pode expressar-se pela tentativa de fuga do desprazer ou pela busca de prazer. O desprazer é tomado como sinônimo de aumento da tensão psíquica não vinculada, enquanto o prazer é sua redução. Qualquer circunstância que possa elevar o grau de excitação psíquica é percebida por este sistema como contrária ao seu funcionamento.
No texto Além do princípio de prazer (1987[1920]), Freud posiciona-se sobre a necessidade de suposições especulativas em sua elaboração teórica :
[...] Chegamos a essas suposições especulativas numa tentativa de descrever e explicar os fatos da observação diária em nosso campo de estudo. A prioridade e a originalidade não se encontram entre os objetivos que o trabalho psicanalítico estabelece para si, e as impressões subjacentes à hipótese do princípio de prazer são tão evidentes, que dificilmente podem ser desprezadas (1987 [1920], v. XVIII, p. 17).
O autor considera que a relação prazer-desprazer não é tão simples e, muito menos, se reduz tão- somente ao aspecto econômico. Apesar desta ressalva, ele enfatiza desde o Projeto para uma psicologia científica (1987[1895]), que é provavelmente o elemento econômico o fator determinante. Mesmo utilizando uma hipótese econômica para explicar a série prazer-desprazer, ele continua a indagar-se sobre o sentido desta série. Freud não encontra grandes contribuições de outros campos do conhecimento para explicar o significado da série prazer-desprazer.
O princípio de prazer é visto como tendência e não dominância do funcionamento psíquico. Se houvesse tal dominância, os eventos mentais se encaminhariam normalmente para o prazer, e sabe-se que isto nem sempre corresponde aos fatos encontrados na clínica.
No capítulo I de Além do princípio de prazer (1987[1920]), cita-se três exemplos em que o princípio de prazer aparece inibido. O primeiro decorre da substituição do princípio de prazer pelo princípio de realidade. Esta substituição não renuncia ao prazer, mas o adia. Ocorre que o desprazer suportado passa a fazer parte do longo caminho que levará o sujeito ao prazer. O segundo exemplo é o aparecimento do desprazer, resultante de conflitos psíquicos, no período em que o eu está se tornando uma estrutura mais complexa. O terceiro exemplo pode ser dado com suporte no recalque, quando as pulsões sexuais impedidas, inicialmente, de atingir seus alvos, conseguem, noutro momento, atingir a satisfação. Elas são percebidas pelo eu como desprazerosas, satisfação para o inconsciente e desprazer para o sistema pré-consciente-consciente. Este é o paradigma do sofrimento neurótico.
Freud considera ser a maior parte do desprazer que acomete o homem um desprazer perceptivo. Este é identificado na pressão exercida pelas pulsões insatisfeitas e naquilo que é aflitivo ou reconhecido como perigoso para o sujeito. Para ele, mesmo com essas situações, o princípio de prazer não será muito limitado em seu campo de ação.
No capítulo II, desse mesmo texto, duas situações põem em xeque o princípio de prazer e seu mais além: os sonhos repetidos, na neurose traumática, que trazem o sonhador à situação do trauma e a repetição nas brincadeiras infantis. Nesse capítulo, ele tratou apenas da repetição presente nas brincadeiras infantis.
No texto Além do princípio de prazer (1987[1920]), Freud relata a brincadeira infantil de seu neto de um ano e meio de idade. A brincadeira consistia em jogar quaisquer objetos que estivessem ao seu alcance para longe e sob a cama. Esta ação era acompanhada por um sonoro o-o-o-ó carregado de júbilo. Tratava -se de jogar de ir embora com seus brinquedos. Noutro momento, esta mesma criança realizava uma brincadeira semelhante com um carretel de madeira com um pedaço de cordão atado ao redor dele. Jogava-o por sobre a borda de sua cama encortinada. O carretel ocultava-se por entre as cortinas. Nesta ocasião, falava um sonoro o-o-o-ó. Freud reconhecia neste "o-o-o-ó" a palavra alemã fort, isto é, fora. Em seguida, recolhia o cordão e brindava o reaparecimento do carretel com um alegre da, palavra alemã correspondente a aqui. O jogo se resumia no desaparecimento e retorno deste. Freud diz que normalmente se via tão-somente a primeira ação, mas que a alegria se concentrava no segundo ato. Ele sugere algumas hipóteses explicativas para este jogo: uma forma de elaborar as idas e vindas da mãe; encenar ativamente o que foi vivido passivamente; lançar o brinquedo ao longe como forma de exercer um impulso de vingança que foi suprimido em relação à mãe. Com base nesta brincadeira infantil, Freud se interroga se o impulso para elaborar uma situação traumática pode ser realizado independentemente do princípio de prazer. A brincadeira infantil e sua repetição foram formas que a criança utilizou para elaborar o que para ela era traumático: as vivências passivas de separação da mãe.
No capítulo III, fala-se da repetição na transferência. O sujeito em análise não consegue recordar-se completamente do que um dia foi recalcado. Então, aquilo que foi recalcado e não consegue ser recordado é repetido na transferência. É repetido como algo atual. Esta tendência presente na transferência manifesta-se como uma compulsão à repetição. Esta compulsão decorre da própria força inerente ao recalcado. Neste momento, a técnica analítica visa a que a recordação possa substituir a repetição ou mantê-la no mínimo. A recordação permite que o material recalcado apareça para o sujeito como pertencendo ao seu passado e não ao seu presente.
Existe, para Freud, uma compulsão à repetição que rememora experiências, as quais não trazem ou nunca trouxeram possibilidade de prazer, nem mesmo para as pulsões recalcadas. Admite que a compulsão à repetição pode, não somente, sobrepujar, mas também, ser mais primitiva, mais elementar e mais pulsional do que o princípio de prazer.
Se, por um lado, o funcionamento psíquico aponta para a tendência do aspecto econômico do princípio de prazer, de outra parte, a dinâmica pulsional reconhece apenas a exigência da repetição, da compulsão à repetição. Vê-se, em Além do princípio de prazer (1987[1920]), a estreita relação estabelecida entre o funcionamento psíquico e a compulsão à repetição.
A relação estabelecida entre a pulsão e a compulsão à repetição pode ser explicada com amparo em dois elementos: o primeiro, pela força constante da pulsão, e o segundo, por ser a pulsão, segundo Freud, um impulso que busca restabelecer um estado anterior.
Freud já havia analisado a compulsão à repetição no artigo O estranho (1987 [1919]) e já a vinculava aos impulsos pulsionais:
Pois é possível reconhecer, na mente inconsciente, a predominância de uma compulsão à repetição, procedente dos impulsos instintuais e provavelmente inerente à própria natureza dos instintos uma compulsão poderosa o bastante para prevalecer sobre o princípio de prazer, emprestando a determinados aspectos da mente o seu caráter demoníaco, e ainda muito claramente expressa nos impulsos das crianças pequenas; uma compulsão que é responsável, também, por uma parte do rumo tomado pelas análises de pacientes neuróticos (1987 [1919], v.XVII, p. 297-298).
Vê-se que Freud já trabalhava em O estranho (1987 [1919]) a relação entre o pulsional e a repetição, ou, mais precisamente, entre o pulsional e a compulsão à repetição. O que há de inédito em Além do princípio de prazer (1987 [1920]) é a vinculação estabelecida entre a compulsão à repetição e o novo dualismo pulsional, pulsões de vida e pulsões de morte, e, mais especificamente, com a pulsão de morte; o aspecto por excelência conservador e repetitivo da pulsão de morte.
No capítulo IV de Além do princípio de prazer (1987 [1919]), Freud traz como especulativas as ideias que desenvolve nesse escrito:
O que se segue é especulação, amiúde especulação forçada, que o leitor tomará em consideração ou porá de lado, de acordo com sua predileção individual. É mais uma tentativa de acompanhar uma idéia sistematicamente, só por curiosidade de ver até onde ela levará (1987[1920], v. XVIII, p. 39).
Neste capítulo, a consciência é situada como, apenas, um dos aspectos dos processos mentais e não o mais importante, e, sim, uma função especial destes. A visão oferecida para a consciência é obtida do exame dos processos inconscientes. O papel precípuo da consciência está na percepção dos estímulos procedentes do mundo externo e, também, na detecção dos sentimentos decorrentes da série prazer-desprazer. O sistema percepção-consciência fica na fronteira entre o exterior e o interior.
Enfatiza-se, nesse capítulo, a importância de se ter algo que proteja o organismo vivo das grandes estimulações externas. O escudo protetor ficará responsável por fazer a defesa em relação a estes estímulos externos. Para Freud, "A proteção contra os estímulos é, para os organismos vivos, uma função quase mais importante do que a recepção deles" (1987 [1920], v. XVIII, p. 43). Sugere-se, nesse capítulo, que o papel do escudo protetor possa ser desempenhado no homem pelo sistema perceptivo-consciente.
No capítulo IV, faz-se referência às excitações externas, capazes de romper esta proteção. Estas excitações são chamadas de traumáticas, sendo relevantes para a discussão, visto que são aptas a suspender, momentaneamente, o princípio de prazer. Elas inundam o aparelho psíquico com um grande volume de estímulos que provocam, por parte do aparelho psíquico, medidas defensivas. As excitações são vinculadas psiquicamente para que possam ser eliminadas posteriormente.
O sistema perceptivo-consciente recebe estimulações vindas não somente do mundo externo, mas, também, de procedência interna. Aparece, então, uma diferença marcante da atuação deste sistema quanto a estas excitações. Os estímulos externos são reduzidos em seu impacto no aparelho psíquico em virtude da ação deste sistema, o mesmo não ocorrendo com as estimulações provenientes de seu mundo interno.
A ação do sistema perceptivo-consciente, como escudo protetor, restringe-se às excitações provenientes do mundo externo. Não existe escudo protetor para as excitações oriundas de seu mundo interno. Esta situação provoca uma vulnerabilidade do sistema psíquico quanto às excitações internas. Muitas destas excitações ocasionam um efeito traumático no aparelho mental semelhante às excitações externas traumáticas.
Freud assim se refere ao escudo protetor em relação aos estímulos de seu mundo interno:
[...] No sentido do interior, não pode haver esse escudo; as excitações das camadas mais profundas estendem-se para o sistema diretamente e em quantidade não reduzida, até onde algumas de suas características dão origem a sentimentos da série prazer-desprazer (1987 [1920], v. XVIII, p. 44).
Os sonhos da neurose traumática parecem distanciar-se do objetivo almejado nos sonhos, ou seja, a realização do desejo de forma alucinatória, sob o domínio do princípio de prazer. Eles conduzem o sonhador, regularmente, de volta à cena do trauma. Não parecem obedecer ao princípio de prazer.
Os sonhos repetitivos da neurose traumática realizam outra tarefa: o domínio retrospectivo do estímulo. Esta função psíquica não se opõe ao princípio de prazer, mas "é sem embargo independente dele, parecendo ser mais primitiva do que o intuito de obter prazer e evitar desprazer" (FREUD, 1987 [1920], v. XVIII, p. 43). Os sonhos repetitivos da neurose traumática estão sob o domínio da compulsão à repetição.
O capítulo V apresenta o aparelho psíquico não possuindo um escudo protetor que o possa resguardar dos estímulos internos. Estes estímulos podem, muitas vezes, ocasionar alterações no funcionamento psíquico, semelhantes às ensejadas pelas neuroses traumáticas. As pulsões são as maiores representantes desses estímulos internos. Os impulsos das pulsões pertencem aos processos livremente móveis ou processos primários que pressionam em direção à descarga.
O processo primário rege os impulsos das pulsões no inconsciente. As características principais dos impulsos pulsionais no inconsciente são: o livre escoamento, o deslocamento e a condensação. Em oposição ao processo primário, tem-se o processo secundário do sistema pré-consciente-consciente, caracterizado pelos impulsos vinculados e por sua submissão ao princípio de realidade.
Os estratos mais elevados do aparelho psíquico terão como missão transformar a catexia livremente móvel das pulsões em investimentos vinculados e, assim, submetê-la à dominância do princípio de prazer.
No capítulo V, trabalham-se, também, a origem da vida e o aspecto conservador da pulsão. Primeiro, o estado inanimado e, em seguida, a vida. A vida surgiu em decorrência de forças perturbadoras externas sobre a matéria inanimada. Estas forças evocaram a vida, onde, anteriormente, só existia o inanimado.
A tensão gerada pelo surgimento da vida provoca no organismo vivo um i mpulso que busca reverter este processo. Este impulso é a primeira pulsão: o impulso que restitui o organismo vivo ao estado anterior inanimado. A pulsão, pois, é um impulso que tenta restabelecer o que era. Aqui, a ênfase recai sobre o aspecto conservador da pulsão. Pode-se perceber neste aspecto conservador da pulsão uma grande aproximação com a hipótese que desenvolve da compulsão à repetição.
O organismo vivo apresenta um percurso particular que o conduz à morte. As pulsões de conservação têm a função de garantir este percurso e também de afastar a substância viva de um caminho para a morte que não seja por causas internas.
Freud defende o argumento de que o ser vivo rudimentar não aspira à mudança, caso as condições externas se mantenham constantes. Seu único anseio é reproduzir o mesmo percurso da vida que finalmente o levará à morte.
No início, era fácil a substância viva morrer, pois seu caminho para a morte era breve. O período evolutivo do organismo vivo é marcado por uma renovação constante da vida, seguindo-se rapidamente pela morte. Isto persistiu até que poderosas influências externas foram modificadas e provocaram um desvio tão marcante no curso da substância viva que prolongou o caminho que a levou à morte.
A pulsão sexual é considerada conservadora tanto quanto aquele grupo que trilha o caminho para a morte. É conservador a pelos seguintes motivos: conduzir de volta a registros precedentes das substâncias vivas; por ser particularmente resistente ao domínio dos estímulos externos; e por preservar a vida por um longo período.
No início do capítulo VI, de Além do princípio de prazer (1987[1920]), assevera-se que a investigação psicanalítica, até aquele momento, é a consolidação da distinção entre as pulsões do eu e as pulsões sexuais. Reapresenta-se o primeiro dualismo pulsional, pulsões do eu e pulsões sexuais, com a reafirmação de que as primeiras pressionam em direção à morte, e as outras, ao prolongamento da vida.
Modifica-se, em parte, o que havia sido dito no capítulo V, pois, se garante que apenas as pulsões do eu possuem o aspecto conservador das pulsões: caráter retrógado e de compulsão à repetição. A justificativa para tal asserção decorre de que apenas a origem das pulsões do eu está relacionada à animação da matéria e na busca da restauração do estado inanimado, enquanto as pulsões sexuais, mesmo reproduzindo estados primitivos dos organismos, buscam como alvo a junção de duas células germinais. Freud se indaga a respeito do que pode estar se repetindo na reprodução sexual ou na conjugação de dois protozoários, no entanto, não encontra resposta.
Freud introduz o segundo dualismo pulsional: pulsões de vida e pulsões de morte, agrupando, inicialmente, as pulsões do eu com as pulsões de morte e as pulsões sexuais com as pulsões de vida.
No capítulo VI, é efetivada uma aproximação entre as pulsões do eu e as pulsões sexuais e, por conseguinte, distanciando aquelas das pulsões de morte. O eu é posto como reservatório das pulsões sexuais e daí partem os investimentos para os objetos. O eu também é tomado como um dos objetos privilegiados dos investimentos libidinais. Freud agora apresenta as pulsões do eu, não ao lado das pulsões de morte, e sim como tributárias, juntamente com as pulsões sexuais, das pulsões de vida.
É importante lembrar algo de fundamental para a constituição da teoria pulsional em Freud. Trata-se do risco que a assimilação da pulsão do eu ao campo da pulsão sexual apresenta ao seu pensamento de trabalhar as pulsões sempre partindo de um dualismo. Esta assimilação já havia sido insinuada no texto Sobre o narcisismo: uma introdução (1987 [1914]), na medida em que o eu é também objeto dos investimentos libidinais das pulsões sexuais. A pulsão sexual investe tanto no objeto quanto no eu, libido de objeto e libido do eu. Esta assimilação aproxima Freud do monismo pulsional junguiano. Ele sai deste impasse na medida em que cria outro dualismo pulsional: pulsões de vida e pulsões de morte.
Atente-se para o que Freud tem a dizer sobre a sua defesa em relação à hipótese do dualismo pulsional:
[...] Nossas concepções, desde o início, foram dualistas e são hoje ainda mais definidamente dualistas do que antes, agora que descrevemos a oposição como se dando, não entre instintos do ego e instintos sexuais, mas entre instintos de vida e instintos de morte. A teoria da libido de Jung é, pelo contrário, monista; o fato de haver ele chamado sua única força instintual de libido, destina-se a causar confusão, mas não precisa afastar-nos sob outros aspectos (1987 [1920], v. XVIII, p. 73).
Freud retorna ao tema do princípio econômico do funcionamento da vida mental, ou seja, o esforço que a mente executa para reduzir, manter constante ou remover a tensão interna, em razão dos estímulos e que se expressa no princípio de prazer. Ele considera que isto oferece fortes indícios para se acreditar na existência das pulsões de morte.
Ainda no capítulo VI, Freud toma uma posição que parece contrapor-se ao que já havia desenvolvido no capítulo III, acerca da relação estabelecida entre a compulsão à repetição e a pulsão sexual:
Contudo, ainda sentimos nossa linha de pensamento apreciavelmente entravada pelo fato de não podermos atribuir ao instinto sexual a característica de uma compulsão à repetição que primeiramente nos colocou na trilha dos instintos de morte (1987 [1920], v. XVIII, p. 66).
No capítulo III, Freud posiciona-se favoravelmente à ligação entre a compulsão à repetição e a pulsão sexual, na medida em que "a co mpulsão à repetição deve ser atribuída ao reprimido inconsciente" (FREUD, 1987 [1920], v. XVIII, p. 30-31). Talvez a negação do vínculo empreendida por Freud entre a pulsão sexual e a compulsão à repetição possa ser explicada apenas pela ênfase que ele intenta conferir ao vínculo entre a compulsão à repetição e a pulsão de morte. O que há de radical na compulsão à repetição para o funcionamento psíquico está na pulsão que lhe é subjacente, a pulsão de morte e sua independência em relação ao princípio de prazer
Freud questiona-se até que ponto está convicto de suas hipóteses. A resposta que oferece é de não se encontrar convencido ou, que nem sabe, se acredita nelas e muito menos se está disposto a cultivar a crença dos outros para estas hipóteses. Ele acredita que o novo dualismo pulsional, pulsões de vida e pulsões de morte, não apresenta o mesmo grau de certeza dos outros dois passos dados na teoria das pulsões: o conceito de sexualidade e a hipótese do narcisismo. Ele afirma que estes dois passos foram uma transposição direta das observações da clínica para a teoria. Freud, no entanto, assevera que o caráter regressivo das pulsões representou um elemento levado para a teoria psicanalítica desde a observação clínica da compulsão à repetição. Este texto mostra claramente os movimentos de idas e vindas de Freud em sua elaboração teórica.
Mesmo defendendo este novo dualismo pulsional, Freud encontra muitas dificuldades para mantê-lo, e a saída encontrada para não desistir desta hipótese é presumir que as pulsões de vida e de morte estão associadas desde o início. Trata-se de uma equação com duas variáveis com quantidades ignoradas.
O início do capítulo VII apresenta uma discussão que já havia sido desenvolvida nos outros capítulos de Além do princípio de prazer (1987 [1920]), mas que alerta para algo tão radical para a teoria psicanalítica. Diz respeito ao caráter restaurador, regressivo, das pulsões, mais particularmente, das pulsões de morte. Isto mostra que tantos processos do funcionamento mental se executam independentemente do princípio de prazer.
O capítulo VII apresenta uma síntese das principais hipóteses desenvolvidas ao longo do texto Além do princípio de prazer (1987[1920]), a saber: a) o princípio de prazer como tendência do funcionamento do aparelho psíquico; b) a existência de eventos psíquicos que se efetuam com independência em relação ao princípio de prazer; c) o aspecto conservador das pulsões; d) a compulsão à repetição; e) a sujeição dos impulsos pulsionais pelo aparelho psíquico; f) o novo dualismo pulsional, pulsões de vida e pulsões de morte; g) as pulsões de vida mantendo maior contato com a percepção interna e manifestando-se como rompedores da paz e h) as pulsões de morte executando sua atividade discretamente.
O artigo O ego e o id (1987 [1923]) é um escrito no qual Freud desenvolve, também, algumas ideias expostas em Além do princípio de prazer (1987 [1920]) :
Os presentes estudos constituem novo desenvolvimento de algumas sequências de pensamento que expus em Além do Princípio de Prazer (1920), e para com as quais, como então observei, minha atitude era de um tipo de benevolente curiosidade. Nas páginas que se seguem, esses pensamentos são vinculados a diversos fatos da observação analítica e faz-se uma tentativa de chegar a novas conclusões, a partir dessa conjunção (1987 [1920], v. XIX, p. 23).
Para o editor inglês James Strachey, este foi o último dos grandes escritos teóricos de Freud. Nele, é desenvolvido um novo modelo de descrição e de funcionamento do aparelho psíquico. Deve-se ressaltar que, apesar de novo, este modelo é consequência de todas as contribuições teóricas, desde o Projeto para uma psicologia científica (1987 [1895]) até Além do princípio de prazer (1987 [1920]).
Em O ego e o id (1987 [1923]), Freud estabelece as relações entre o eu, o isso, o supereu, o inconsciente, o recalcado e as pulsões de vida e de morte. Este escrito enfatiza o aspecto dinâmico do funcionamento psíquico e faz uso das especulações teóricas desenvolvidas em Além do princípio de prazer (1987 [1920]): as pulsões de vida e as pulsões de morte.
Em O ego e o id (1987 [1923]), tem-se nova divisão das instâncias psíquicas que não mais coincidirá com a cisão entre os sistemas inconsciente, pré-consciente e consciente. O isso, o eu e o supereu são as n ovas instâncias mentais. O isso e o supereu são inconscientes e o eu é em grande parte inconsciente. É o inicio da segunda tópica freudiana.
Freud indica que o eu tem origem no sistema perceptivo, que constitui seu núcleo, iniciando com a inclusão do pré-consciente. Não é nítida a separação do eu com o isso. O eu é esta parte do isso que passou por uma modificação, em virtude da relação estabelecida com o mundo externo, por meio do sistema percepção-consciência. De certa forma, o eu é o prolongamento da superfície deste sistema. Freud enfatiza que o eu é, antes de tudo, um eu corporal. O eu não circunscreve totalmente o isso, como descrito a seguir e representado na Figura 2:
Examinaremos agora o indivíduo como um id psíquico, desconhecido e inconsciente, sobre cuja superfície repousa o ego, desenvolvido a partir de seu núcleo, o sistema Pcpt7. Se fizermos um esforço para representar isso pictoricamente, podemos acrescentar que o ego não envolve completamente o id, mas apenas até o ponto em que o sistema Pcpt. forma a sua [do ego] superfície, mais ou menos como o disco germinal repousa sobre o óvulo. O ego não se acha nitidanente separado do id; sua parte inferior funde-se com ele (FREUD, 1987 [1923], v. XIX, p. 37-38]).
Figura 1 Representação das relações estabelecidas entre o eu, o isso e o recalcado 8.
O recalcado é, na segunda tópica, uma parte do isso. Ele mantém relação com o eu por intermédio do isso e aparta-se do eu mediante as resistências do recalque.
O isso é o representante das forças pulsionais. Aí reina o princípio de prazer. O eu busca exercer o controle do mundo externo sobre o isso, assim como a mudança do regime do princípio do prazer pelo princípio de realidade.
O eu é estabelecido como a instância psíquica que prima pela razão, e o isso, pelas paixões pulsionais. Freud exibe as características principais do eu na sua relação com os processos mentais, com a consciência, a motilidade e o recalque:
Formamos a idéia de que em cada indivíduo existe uma organização coerente de processos mentais e chamamos a isso o seu ego. É a esse ego que a consciência se acha ligada: o ego controla as abordagens à motilidade isto é, à descarga de excitações para o mundo externo. Ele é a instância mental que supervisiona todos os seus próprios processos constituintes e que vai dormir à noite, embora ainda exerça a censura sobre os sonhos. Desse ego procedem também as repressões, por meio das quais procura-se excluir certas tendências da mente, não simplesmente da consciência, mas também de outras formas de capacidade e atividade (1987 [1923], v. XIX, p. 28-29).
Freud faz uso de uma metáfora para melhor explicitar a relação que o eu mantém com o isso. Trata-se da relação estabelecida entre o cavaleiro e seu cavalo. O cavaleiro tenta exercer o controle sobre a força do cavalo. Busca realizar essa façanha fazendo uso das forças que lhe são inerentes. O eu tenta desempenhar um controle semelhante sobre o isso, porém tomando de empréstimo a própria força deste. O cavaleiro, muitas vezes, para não se encontrar apartado do cavalo, é compelido a ir para onde este se dirige. O mesmo ocorre com o eu que, frequentemente, realiza a vontade do isso, como se fosse a sua.
O eu não possui um nem dois senhores, mas três. Sua ação tenta conciliar ou satisfazer, se é que possível, três exigências: a do mundo externo, a do supereu e a do isso. Diante de tantas reivindicações irrompe, muitas vezes, a angústia no eu. Freud, no escrito A dissecção da personalidade psíquica (1987 [1932]), apresenta a angústia em sua relação com o mundo externo, com o supereu e com o isso:
Assim, o ego, pressionado pelo id, confinado pelo superego, repelido pela realidade, luta por exercer eficientemente sua incumbência econômica de instituir a harmonia entre as forças e as influências que atuam nele e sobre ele; e podemos compreender como é que com tanta frequência não podemos reprimir uma exclamação: A vida não é fácil! Se o ego é obrigado a admitir sua fraqueza, ele irrompe em ansiedade 9 ansiedade realística referente ao mundo externo, ansiedade moral referente ao superego e ansiedade neurótica referente à força das paixões do id (1987 [1932], v. XXII, p. 99-100]).
O supereu é uma parte do eu que se diferencia e que se aparta deste. O supereu é a herança do complexo de Édipo, ou melhor, ele é um precipitado das influências que os pais, como autoridades externas, exerceram sobre a criança. O supereu é o lugar da assimilação desta instância parental. Esta instância parental deixará como legado, para o supereu, a rigidez, a severidade, a função proibidora e punitiva. O supereu oscila entre a função de auto-observação e a de manter ou buscar um ideal. O supereu é formado, não com o modelo dos pais, mas, a partir do supereu dos pais.
No artigo A dissecção da personalidade psíquica (1987 [1932], v. XXII, p. 100), Freud procura mostrar, esquematicamente, as relações estabelecidas entre o eu, o isso e o supereu, na figura abaixo:
Figura 2 - Representação das relações estabelecidas entre o eu, o isso e o supereu 10.
Em O ego e o id (1987 [1923]), Freud continua desenvolvendo a hipótese do novo dualismo pulsional elaborada em Além do princípio de prazer (1987 [1920]): pulsões de vida e pulsões de morte. Ele expõe a ideia de que o novo modelo pulsional serve de apoio para os futuros debates teóricos da psicanálise. Para Freud as pulsões de vida incluem não somente "[...] o instinto sexual desinibido propriamente dito e os impulsos instituais de natureza inibida quanto ao objetivo ou sublimada que dele derivam, mas também o instinto autopreservativo"( 1987 [1923], v. XIX, p. 55). Ele assevera que as pulsões de vida são as de mais fácil acesso na investigação psicanalítica. Freud encontra no sadismo uma das manifestações da pulsão de morte.
Neste artigo, Freud assim estabelece a dinâmica deste novo modelo pulsional:
Com base em considerações teóricas, apoiadas pela biologia, apresentamos a hipótese de um instinto de morte, cuja tarefa é conduzir a vida orgânica de volta ao estado inanimado; por outro lado, imaginamos que Eros, por ocasionar uma combinação de consequências cada vez mais amplas das partículas em que a substância viva se acha dispersa, visa a complicar a vida e, ao mesmo tempo, naturalmente, a preservá-la (1987 [1923], v. XIX, p. 55-56).
Freud assevera que as pulsões de vida e as pulsões de morte são conservadoras. Ambas tentam restaurar uma situação que foi alterada pelo despertar da vida. O surgimento da vida ensejou dois movimentos: o do prolongamento da vida e o ânimo para seguir em direção à morte. Vê-se na formulação teórica de Freud certa oscilação quanto ao aspecto conservador ou não das pulsões sexuais ou pulsões de vida. Aqui, ele enfatiza seu aspecto conservador e no capítulo VI de Além do princípio de prazer (1987 [1920]) nega-o.
A hipótese deste novo dualismo pulsional não esclarece a forma como as pulsões de vida e as pulsões de morte estão associadas. Mesmo não sabendo de que maneira se realizava a fusão entre as pulsões, Freud considerava que ela ocorria com regularidade. Ele sugere a possibilidade de que a organização de seres unicelulares em estruturas multicelulares permitia a neutralização das pulsões de morte da célula isolada. As pulsões de morte também têm os efeitos minimizados com seu desvio para o mundo externo. Neste caso, a pulsão de morte manifesta-se como uma pulsão destrutiva direcionada ao mundo externo e a outros seres.
É importante ressaltar que Freud, mesmo concedendo ênfase ao trabalho silencioso da pulsão de morte, no mundo externo, ela aparece como potência destrutiva. Ele dá outros nomes para a pulsão de morte, além deste, em O problema econômico do masoquismo (1987 [1924]): pulsão de domínio e vontade de poder.
Freud, reconhecendo como legítima a fusão pulsional, concebeu a ideia de que a desfusão, mais ou menos completa, era algo que também se instituía necessariamente. Ele oferece o componente sádico da pulsão sexual como modelo da fusão pulsional. Este componente sádico manifesta-se no impulso à dominação do objeto da pulsão. O sadismo pode manifestar-se destacado das pulsões sexuais, como é o caso do sadismo enquanto perversão. Apresenta-se, nesta situação, um exemplo de desfusão pulsional. Deve-se dar relevo ao fato de que mesmo aí, não há uma desfusão absoluta. Freud percebeu que a pulsão de morte era frequentemente descarregada em associação e a serviço da pulsão de vida.
A hipótese da fusão e desfusão pulsional permitiu esclarecer fatos que até então não possuíam explicação na clínica. Freud reconhecia nos casos de neuroses graves, como as neuroses obsessivas, a presença acentuada da desfusão pulsional ou a livre ação interna das pulsões de morte. Ele se questiona se a ambivalência tão comum "[...] na disposição constitucional à neurose" (FREUD, 1987 [1923], p. 57) não seria uma consequência de uma desfusão ou de uma fusão que não se realizou integralmente. Freud percebe na regressão outra situação na qual a desfusão pode agir:
Fazendo uma generalização rápida, poderíamos conjecturar que a essência de uma regressão da libido (da fase genital para a anal-sádica, por exemplo) reside numa desfusão de instintos, tal como, inversamente, o avanço de uma fase anterior para a genital definitiva estaria condicionado a um acréscimo de componentes eróticos (1987 [1923], p. 57).
Novamente, aqui, como também em Além do princípio de prazer (1987 [1920]), Freud questiona-se acerca da validade do novo dualismo pulsional. Ele sinaliza a possibilidade de encontrar fatos, na clínica, que se contraponham à hipótese das pulsões de vida e de morte, ocasionando, por consequência, a renúncia à segunda teoria pulsional. Freud oscila, então, entre a legitimidade e a abjuração do segundo dualismo pulsional. Mesmo diante desta oscilação teórica, ele não renuncia à hipótese do segundo dualismo pulsional.
Em O ego e o id (1987 [1923]), Freud retorna ao princípio de constância de Fechner que havia sido comentado em Além do princípio de prazer (1987 [1920]) e, desta vez, o aproxima de um movimento de redução das tensões psíquicas em direção à morte e contrapõe-lhe a Eros:
Se é verdade que o princípio de constância de Fechner governa a vida, que assim consiste numa descida contínua em direção à morte, são as reivindicações de Eros, dos instintos sexuais, que, sob a forma de necessidades instintuais, mantém o nível que tende a baixar e introduzem novas tensões (1987 [1923], v. XIX, p. 62).
No texto O problema econômico do masoquismo (1987 [1924]), Freud considera misteriosa a possibilidade da existência de uma disposição masoquista na vida pulsional. Para ele, esta hipótese parece problemática, haja vista que os processos psíquicos perseguem outras metas: a conquista do prazer ou a fuga do desprazer. Se a vida pulsional manifestasse a inclinação para o sofrimento, este fato poderia entorpecer o princípio de prazer que, segundo Freud, "[...] é como se o vigia de nossa vida mental fosse colocado fora de ação por uma droga" (FREUD, 1987 [1924], v. XIX, p. 199).
Freud adota como lei do funcionamento psíquico uma espécie de função particular "[...] da tendência no sentido da estabilidade, de Fechner" (1987 [1924], v. XIX, p. 199). Isto implica que os processos mentais buscam reduzir a zero ou a um mínimo possível as excitações que atingem o aparelho psíquico.
No texto O problema econômico do masoquismo (1987 [1924), a relação entre o princípio de Nirvana e o segundo dualismo pulsional é assim definida:
[...] o princípio de Nirvana (e o princípio de prazer, que lhe é supostamente idêntico) estaria inteiramente a serviço dos instintos de morte, cujo objetivo é conduzir a inquietação da vida para a estabilidade do estado inorgânico, e teria a função de fornecer advertências contra as exigências dos instintos de vida a libido que tentam perturbar o curso pretendido da vida (FREUD, 1987 [1924], v. XIX, p. 200).
A associação do prazer com a redução da estimulação psíquica, e o desprazer com a sua elevação nem sempre coincidem. Existem tensões prazerosas e relaxamentos desprazerosos. A excitação sexual é um exemplo em que a elevação do nível de tensão é acompanhada pelo prazer. Freud assegura que há outros. Apesar desta ressalva, o binômio prazer-desprazer continua intimamente ligado ao fator quantitativo.
Freud faz uma advertência, apresentando a série prazer-desprazer como não dependendo diretamente do fator quantitativo, mas de um determinado atributo dele que é de natureza qualitativa. Considera que estaria mais avançado em psicologia caso conseguisse esclarecer este predicado qualitativo. Sugere algumas possibilidades para o atributo qualitativo: "[...] talvez seja o ritmo, a sequência temporal de mudanças, elevações e quedas na quantidade de estímulos" (FREUD, 1987 [1924], v. XIX, p. 200). Conclui que não sabe o que é o atributo qualitativo do fator quantitativo, apesar da hipótese suscitada.
No artigo O problema econômico do masoquismo (1987 [1924]), Freud apresenta a origem do princípio de prazer a partir de uma modificação operada sobre o princípio de Nirvana. Para ele, é fácil saber que o responsável por esta transformação só pode ser a pulsão de vida, pois esta tomou para si uma parte do comando, juntamente com as pulsões de morte, dos processos de regulação da vida.
O princípio de prazer expressa as aspirações das pulsões de vida e o princípio de Nirvana proclama as exigências das pulsões de morte. O princípio de realidade é a alteração por que passa o princípio de prazer, em decorrência das reivindicações do mundo externo. Os princípios de Nirvana, de prazer e o de realidade não são excludentes entre si. Eles operam conjuntamente, embora suas exigências possam entrar em conflito.
Neste escrito, Freud retoma o que já havia desenvolvido em O ego e o id (1987 [1923]), ou seja, a necessidade que o organismo vivo tem de neutralizar a ação destruidora da pulsão de morte. Sua atuação conduz o ser vivo a "[...] um estado de estabilidade inorgânica (por mais relativa que possa ser)" (FREUD, 1987 [1924], v. XIX, p. 204). Vê-se aqui a atuação indispensável da libido na neutralização da pulsão de morte. A libido realiza esta ação, deslocando, em grande parte, a pulsão de morte para os objetos do meio externo.
Freud chama a pulsão de morte de "[...] instinto destrutivo, instinto de domínio ou vontade de poder" (1987 [1924], v. XIX, p. 204). A pulsão de morte pode, também, colocar-se a serviço da sexualidade, na qual desempenha uma significativa função. Uma parte da pulsão de morte não é transposta para o meio externo, e permanece presa no interior do organismo. Nesta parte da pulsão de morte, que permanece presa no interior do organismo, pode-se identificar a origem do masoquismo erógeno.
As pulsões de vida e as pulsões de morte jamais se exprimem em estados puros. Apresentam-se sempre amalgamadas em proporções diferentes. Este posicionamento freudiano promove diretamente um questionamento acerca da desfusão pulsional, já que as pulsões não se manifestam isoladamente. Paradoxalmente, Freud volta a defender a desfusão pulsional em decorrência de alguma influência específica.
No texto O problema econômico do masoquismo (1987 [1924]), Freud estabelece uma relação originária entre o sadismo primário, o masoquismo e a pulsão de morte, modificando a hipótese defendida em Os instintos e suas vicissitudes (1987 [1915]), em que o masoquismo era uma manifestação secundária em relação ao sadismo:
Estando-se preparado para desprezar uma pequena falta de exatidão, pode-se dizer que o instinto de morte operante no organismo sadismo primário - é idêntico ao masoquismo. Após sua parte principal ter sido transposta para fora, para os objetos, dentro resta como um resíduo seu o masoquismo erógeno propriamente dito que, por um lado, se tornou componente da libido e, por outro, ainda tem o eu (self) como seu objeto (1987 [1924], v. XIX, p. 205).
A pulsão de morte direcionada para fora pode ter, novamente, sua ação voltada não mais para os objetos do mundo externo, e sim para dentro, tomando o eu como objeto. Esta ocorrência provoca o aparecimento de um masoquismo secundário, que se adiciona ao masoquismo original.
No artigo O mal-estar na civilização (1987 [1929]), Freud também analisa minuciosamente a pulsão de morte. Esse escrito apresenta as relações complexas e antagônicas que se estabelecem entre a dinâmica pulsional e as restrições impostas à sexualidade e à agressividade pela civilização.
O capítulo II de O mal-estar na civilização (1987 [1929]) expressa, por um lado, a relação entre a felicidade e a satisfação pulsional, e, por outro, o intenso sofrimento ocasionado quando a civilização insiste em não conceder as satisfações das necessidades humanas. Freud aduz a felicidade como episódica e parcial e associada à satisfação pulsional. Por outro lado, ele adverte que a exigência da satisfação pulsional, regida pelo princípio de prazer, na civilização, é postergada pelo princípio de realidade.
Freud se mostra esperançoso de que o domínio exercido sobre a dinâmica pulsional permita, por um lado, o adiamento, e não renúncia, da satisfação pulsional, e, por outro, a minimização do sofrimento humano relativo à restrição pulsional imposta pela civilização.
Freud questiona-se sobre o que os homens demandam da vida e o que buscam nela efetivar. Para ele, não há dúvida, almejam a felicidade e nela conservar-se. Para Freud, esta meta implica: a busca de prazer, meta positiva; e a fuga ao desprazer, ou do sofrimento, meta negativa. Apesar deste duplo movimento, a felicidade está ligada intrinsecamente apenas à busca de prazer. Em seu sentido mais restrito, a felicidade está relacionada à satisfação episódica de necessidades altamente represadas. O prolongamento de uma situação desejada pelo princípio do prazer só produz uma sensação muito leve de satisfação. Freud aborda a infelicidade e suas origens:
[...] a infelicidade é muito menos difícil de experimentar. O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens (1987 [1929], v. XXI, p. 95)
Neste artigo, Freud destaca a ideia de que possivelmente a maior fonte de sofrimento do homem na civilização decorra do convívio com outros homens. Este sofrimento resultante da convivência humana pode levar o homem a se proteger com o isolamento voluntário. Ele adverte para o fato de que este não é o melhor caminho, pois é buscar a felicidade na quietude. O melhor caminho está em assumir-se como partícipe da comunidade humana e em continuar tentando submeter a natureza ao seu desejo. Vê-se que Freud sai na defesa da presença e da ação do homem na civilização, mesmo ao custo de seu mal-estar.
A ação de todas essas fontes de sofrimentos sobre o homem incita neste a menor exigência por felicidade, tal como o princípio de prazer, por pressão do mundo externo, se modifica em princípio da realidade. Para Freud, isto pode levar o homem a crer que é feliz apenas por subtrair-se à infelicidade ou ao sofrimento.
Outro fator que dificulta a presença do homem na civilização decorre de sua poderosa quota de agressividade oriunda de sua pulsão de morte, que está sempre disponível à provocação e à manifestação. Em virtude disto, o outro é considerado não somente como um possível ajudante, um objeto sexual, mas também aquele que poderá servir de alvo de agressividade e exposição às situações de expropriação de sua capacidade de trabalho, de humilhação, tortura, sofrimento e morte.
A inclinação do homem à agressão põe em risco a existência da civilização. Esta, por suas leis e regulamentos, está sempre regulando, limitando e tentando manter sob controle as manifestações da agressividade humana. Vê-se que a civilização, não somente, impõe limites às exigências da sexualidade, como também às reivindicações da agressividade humana.
Freud considera a inclinação para agressão no homem o maior obstáculo à civilização. Os limites imposto s pela civilização também comparecem internamente no homem mediante forças mentais que restringem a manifestação de seus impulsos agressivos. Ele, no entanto, enfatiza que não é fácil ao homem renunciar a esta tendência.
No capítulo VI do texto O mal-estar na civilização (1987 [1929]), Freud defende a noção de que a civilização está a serviço de Eros:
[...] Posso agora acrescentar que a civilização constitui um processo a serviço de Eros, cujo propósito é combinar indivíduos humanos isolados, depois famílias e, depois ainda, raças, povos e nações numa única grande unidade, a unidade da humanidade. Porque isso tem de acontecer, não sabemos; o trabalho de Eros é precisamente este (1987 [1929], v. 144-145).
A civilização, tal como a pulsão de vida, tem como propósito formar e manter unidades cada vez maiores: indivíduos, famílias, raças, povos e nações.
Em O mal-estar na civilização (1987 [1929]), reafirma-se a hipótese da pulsão de morte como um construto necessário à psicanálise:
A afirmação da existência de um instinto de morte ou de destruição deparou-se com resistências, inclusive em círculos analíticos; [...] a princípio, foi apenas experimentalmente que apresentei as opiniões aqui desenvolvidas, mas, com o decorrer do tempo, elas conseguiram tal poder sobre mim, que não posso mais pensar de outra maneira (FREUD, 1987 [1929], v. XXI, p. 142).
A agressividade, tomada por Freud como pulsão agressiva, é apresentada como o derivado e o principal representante da pulsão de morte. Para ele, as pulsões de vida e de morte são as responsáveis pelo domínio do mundo. Freud crê ter desvendado o sentido do desenvolvimento da civilização. A evolução da civilização reproduz a batalha entre a pulsão de vida e a pulsão de morte, tal como comparece na ação empreendida pela espécie humana na vida. Para Freud, esta é uma "[...] batalha de gigantes que nossas babás tentam apaziguar com sua cantiga de ninar sobre o Céu" (FREUD, 1987 [1929], v. XXI, p. 145).
O Esboço de psicanálise (1987 [1938]), mais especificamente, o capítulo II, A teoria dos instintos, é um texto curto, de apenas quatro páginas, e não apresenta grandes novidades à constituição da teoria pulsional. É uma confirmação do desenvolvimento realizado em Além do princípio de prazer (1987 [1920]), O eu e o id (1987 [1923]), O problema econômico do masoquismo (1987 [1923]) e O mal-estar na civilização (1987 [1929]). Mesmo correndo, contudo, o risco de repetição, serão expostas as suas principais ideias.
No capítulo II, do Esboço de psicanálise (1987 [1938]), Freud ressalta que o poder do isso, ou seja, do pulsional, revela o autêntico projeto da vida do organismo vivo. Ele salienta que são tarefas do eu: o trabalho de conservar-se vivo, defender-se dos perigos e descobrir a melhor forma de encontrar satisfação com um menor risco, tendo em consideração o mundo externo. A principal função do supereu é pôr limites à satisfação.
Enfatiza-se a exigência que as pulsões fazem à mente. Colocam-nas como a soberana causa de toda atividade. Realça-se o caráter conservador das pulsões, mais especificamente, das pulsões de morte. Freud afirma, depois de muitas dúvidas e oscilações, a existência de duas pulsões, Eros e pulsão destrutiva, pulsão de vida e pulsão de morte.
No Esboço de psicanálise (1987 [1938]), Freud reafirma os objetivos da pulsão de vida e da pulsão de morte:
O objetivo do primeiro desses instintos básicos é estabelecer unidades cada vez maiores e assim preservá-las em resumo, unir; o objetivo do segundo, pelo contrário, é desfazer conexões e, assim, destruir coisas. No caso do instinto destrutivo, podemos supor que seu objetivo final é levar o que é vivo a um estado inorgânico. Por essa razão, chamamo-lo também de instinto de morte (1987 [1938], v. XXIII, p. 173-174).
Ressalta as consequências da proporção entre a pulsão de vida e a pulsão de morte na fusão pulsional. Os exemplos dados são o do criminoso sexual, no qual predomina o excesso da agressividade sexual, e o do inibido ou impotente, em que ocorre uma acentuada diminuição da agressividade.
A libido é a energia da pulsão de vida e Freud não consegue encontrar um termo equivalente a este para a energia da pulsão de morte. Para ele, é mais simples seguir os destinos da libido do que as vicissitudes da pulsão de morte.
A pulsão de morte, quando age internamente, tem ação silenciosa. Esta pulsão só se faz notar quando deslocada para o mundo externo, como pulsão de destruição. Este desvio é necessário à preservação do indivíduo. A presença do supereu permite que grande parte da agressividade se estabeleça no eu e tenha uma ação autodestrutiva.
Resumindo, pode-se afirmar que Freud, em seu segundo dualismo pulsional, apresenta a vida psíquica regulada por duas tendências, uma que tenta preservar a vida e mantê-la num determinado nível tensional, a pulsão de vida, e outra que busca abolir a vida ou reduzir as tensões a zero, a pulsão de morte.
Notas
1 Na tradução do escrito Como se origina a angústia do Rascunho E (1987 [1894]), aparece a expressão pulsão em vez de instinto, como normalmente é traduzido Trieb.
2 Segundo nota do editor inglês James Strachey e pesquisa feita pelo investigador, talvez esta seja a primeira vez que a expressão libido ocorre na obra freudiana.
3 Para Freud, Qn representa a quantidade da ordem da magnitude intercelular, ou seja, a quantidade de estímulo presente.
4 Quando o indivíduo tem como objeto sexual uma pessoa de seu próprio sexo.
5 Segundo Freud, é uma parte da pele ou da membrana mucosa que, uma vez estimulada, é capaz de produzir uma sensação prazerosa, tornando-se uma área de prazer sexual.
6 Segundo uma nota de James Strachey, no texto A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão (FREUD, 1987 [1910], v. XI, p. 195).
7 Pcpt é uma abreviatura de perceptivo.
8 Figura apresentada no texto O ego e o id (1987 [1923], v. XIX, p. 38). Foram substituídas as expressões latinas id e ego por suas correspondentes em português.
9 Na dissertação, é usada a tradução angústia e não ansiedade para a palavra alemã angst , segundo a sugestão dada por Laplanche e Pontalis no Vocabulário da Psicanálise (1987).
10 Figura representada na Conferência XXXI: A dissecção da personalidade psíquica (FREUD, 1987 [1932], v. XXII, p. 100). Foram substituídas as expressões latinas id, ego e superego por suas correspondentes em português.
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