Acheronta  - Revista de Psicoanálisis y Cultura
Com quantas mulheres se faz um homem
Charles Elias Lang

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"Mamãe fará de tudo para que seus pesadelos se tornem verdade".
(Mother, Pink Floyd).

Desde Lacan, pelo menos, não precisamos mais nos sentir tão desconfortáveis com os equívocos da comunicação. Ao contrário, é necessário darmos uma maior atenção aquilo que equivoca. Afinal, uma comunicação bem sucedida não é, necessariamente, aquela que produz compreensão e entendimento. Estes, se atingidos, parecem ser mais da ordem do acaso do que de uma estrita necessidade. Uma comunicação pode, e na maior parte das vezes é-lhe exigido, equivocar. Na análise é pelo equívoco ao nível do simbólico que a prática opera na redução do sentido. Ou seja, o equívoco tem sempre a ver com a dimensão do sentido e logo com o imaginário.

Esta comunicação tem um título secreto. Se ele é revelado desde o início é porque o segredo é outro. Tenho-o chamado de "O espelho do macho ou a desgraça do masculino", o que pode já ir dando uma idéia daquilo em que estamos nos metendo.

Philippe Julien, psicanalista francês, conclui a primeira parte de seu livro sobre a feminilidade (2) com a afirmação de que as sociedades humanas tradicionais conseguiam manter um equilíbrio entre a potência materna ("a verdadeira potência de vida ou de morte") e o poder dos homens, este de ordem política ou religiosa. O campo privado, lugar da potência materna, era reservado de todo modo à mãe, enquanto que o público era reservado a qualquer preço ao homem. Nessas sociedades, a idéia era dar a geração seguinte a imagem forte e manifesta de um senhor, um mestre, que contrabalançasse o lado secreto e escondido da mãe. Daí uma metáfora, por vezes perigosa: a luta das trevas contra a luz. Ou mesmo da carne (o maternus, a matéria) contra o espírito. Segundo este mesmo autor, as mazelas da modernidade estariam diretamente ligadas à perda deste equilíbrio e à perda da sabedoria que sustentava o mesmo.

Entre os gregos, com o mito de Narciso, já se pensava a questão da imagem e do mergulho nefasto na especularidade. A dualidade idéia-mundo, ilusão-verdade, difundida pelo platonismo, guarda em seu núcleo a divisão no interior daquele que vê para, então, destacar algo que não é próprio daquele que vê: o que é visto. Daí a idéia de existirem "dois mundos", um ver dadeiro e outro falso, e a raiz de todas as dicotomias. O apóstolo Paulo não se afasta muito ao falar do espelho e da existência no espelho na perspectiva de um agora, em que vemos as coisas em parte (como em espelho), e de um porvir em que se dará o exercício pleno da visão, em que veremos como somos vistos. Inclusive, há uma grande tradição no ocidente que vem pensando estas questões. Machado de Assis, Henry Wallon, Jacques Lacan e D.W.Winnicott se inserem nessa tradição que, desde a Antiguidade, cultiva a refinada percepção da alienação fundamental que subjaz à constituição psíquica.

Machado de Assis é um autor que, se não se não tornou suficientemente curioso, é porque a maioria de nós deve tê-lo lido menos por prazer do que por obrigação. Alguns acabam lendo por necessidade, para aprender português, outros por puro acaso. Há um conto, curioso para um psicanalista, e que se chama O espelho: esboço de uma nova teoria da alma. O título é, por si, pretensioso. Uma mulher arriscaria um título desses? Um filósofo talvez. Um psicanalista, com certeza, não arriscaria.

Mas um homem ou um escritor nunca é pretensioso, mesmo quando são pretensiosos.

Machado de Assis nasceu quase vinte anos antes de Freud, e faleceu na época em que Freud começava sua relação com Jung e escrevia Os romances familiares (1908). Este era médico, o outro funcionário público, mas os dois tinham um grande apreço pela literatura. A "nova teoria" machadiana parte do princípio de que não há uma só alma, há duas. Uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro. Ou seja, ele trabalha com a idéia de um interior e de uma exterioridade, de um elemento privado e de um o público. A alma exterior (pública) pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto (como p.ex. um botão), uma operação, etc.

No conto, o protagonista tornou-se alferes (3), e desapareceu por detrás do modo como todos o viam. Nesse conjunto formado pelos outros, destaca-se a figura de sua mãe. Para ela, inclusive, ele deixa de ser um filhinho com uma história para torna-se o Alferes. Até dia em que ele se vê na situação de estar durante dias num lugar sem o olhar dos outros. A ausência de um olhar que o veja como o Alferes produz como efeito uma desagregação, um desaparecimento de si para si mesmo. Esses dias terríveis de ausência de si para si encontram termo quando ele, por fim, reencontra-se na imagem que lhe é devolvida por um espelho (4), onde ele se vê como totalidade e consegue recuperar-se a si mesmo. Ao ver a sua imagem refletida em um espelho e descobre o senhorio da imagem, a função imaginária como diz Lacan no Seminário I (1953-1954).

Dez anos separam dois textos fundamentais de Lacan. Os complexos familiares ou A família (há duas traduções em português) enunciam a tese de que o declínio social da imagem paterna está à raiz da nervosidade moderna e é o grande fator causa do advento da Psicanálise. Este texto é de 1938. O estágio do espelho como formador da função do eu, em que Lacan, seguindo Wallon, desenvolve a sua tese acerca de nossa constituição especular é de 1949. Ora, desde o primeiro até o último Seminário não podemos deixar de notar o quanto Lacan insiste com o "estágio do espelho". Este, como costumava dizer, é a "vassourinha" com que ele entrou no mundo psicanalítico. Lacan quando cita Winnicott, é para, principalmente, referir-se ao "objeto transicional" como uma espécie de precursor ou de parente do "objeto a" (5). Quando cita Lacan, Winnicott refere-se para se referir ao dito estágio.

No início de seu O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento infantil , de 1967 (6) , Winnicott escreve:

"no desenvolvimento emocional individual, o precursor do espelho é o rosto da mãe. Desejo referir-me ao aspecto normal disso e também à sua psicopatologia.

Sem dúvida, o artigo de Jacques Lacan, ‘Le Stade du Miroir’ (1949), me influenciou. Ele se refere ao uso do espelho no desenvolvimento do ego de cada indivíduo. Lacan, porém, não pensa no espelho em termos do rosto da mãe do modo como desejo fazer aqui."

Ora, Lacan e Winnicott trabalham em níveis de reflexão bastante distintos. Quando Winnicott fala de pai e de mãe, em geral, ele está mais próximo ao que quase todos, com exceção dos psicanalistas lacanianos, entendem como pai e mãe. Então, quando ele fala em "rosto da mãe" ele não está falando de desejo, de semblante, etc. Ele está falando desse rosto que olha seu bebê. Mas, o que o bebê vê, quando olha para o rosto da mãe? Um pouco adiante encontramos a mesma pergunta e a resposta no texto de Winnicott: "Sugiro que, normalmente, o que o bebê vê é ele mesmo. Em outros termos, a mãe está olhando para o bebê e aquilo com o que ela se parece se acha relacionado com o que ela vê ali".

A riqueza de Winnicott é a introdução de uma lógica que transcende a da dialética eu-outro. Não há mais uma mãe e um bebê, ou um rosto-espelho e um bebê que se vê no espelho. O bebê se vê refletido na imagem de um espelho que se vê a si mesmo refletindo. Ou seja, o bebê se vê no rosto de uma mãe que assim se vê sendo mãe. O bebê se vê na auto-imagem de uma mulher como mãe. Daí por diante, esse bebê nunca mais conseguirá ver-se como é visto sem antes se ver a si mesmo numa imagem de si, o imaginário de uma mulher sendo mãe, como em espelho.

Ver como somos vistos. Isso é possível? Uma mulher consegue ver-se a si mesma sem estar sendo mãe, em tendo um bebê? O apóstolo Paulo jogou esta possibilidade para o futuro em que se realizarão todas as profecias! Um futuro sempre impossível.

Como leitor de falas que escuto e de falas escritas, como Clínico e como apreciador da Literatura, percebo uma sensibilidade refinada das mulheres, mais na Literatura do que na Clínica, quando falam daquilo que, a princípio, seria de se esperar mais perceptível para os homens. Por exemplo, no caso da paternidade que é um dos temas correlatos à masculinidade, as mulheres tem sido muito mais sofisticadas que os homens. Continuando com exemplos, Paul Auster trabalha, em A invenção da solidão , a paternidade e a masculinidade a partir de dois lugares. Na primeira parte do livro, a partir de sua posição de filho em relação ao próprio pai; na segunda a partir da posição de pai em relação ao seu filho. Tonny Parsons escreveu um romance (Pai e filho) em que ele pretende explorar o filão das atrapalhações de um pai com seu filho. Robert Dartnon, em seu Anima, faz mais um ensaio sobre os sentimentos paternos do que uma ficção científica quando o pai tem que autorizar um procedimento experimental para salvar seu filho único e órfão de mãe. José Saramago em seu Manual de pintura e caligrafia faz uma radiografia do homem na meia-idade. Mas quando lemos Inês Pedrosa e seu Fazes-me falta, (a crônica da relação de um homem e de uma mulher, unidos por um sentimento indefinível entre a amizade e a paixão), ou O que eu amava de Siri Hustvedt (que aliás é a esposa de Paul Auster) e em que ela se coloca no lugar de um homem que escreve, parece que os homens sentem ser melhores compreendidos no que julgamos ser, parece que as mulheres nos percebem melhor do que os outros homens. O que dizer, então, de nossas pacientes e o que elas nos dizem dos homens e de seus homens?

Parece que nós homens não conseguimos ver como somos vistos. O que deve valer também para as mulheres. Com uma diferença significativa, pois é dela que aqui tratamos.

O conto do de Assis me tocou porque ele me evoca três ou quadros coisas. A primeira é o pedido de um aluno de Psicologia que, para concluir o curso queria escrever um trabalho intitulado A desgraça do homem é ter nascido de uma mulher. Acredito que isso lhe era mais uma convicção a partir de um conjunto de vivências do que um delírio, e talvez fosse mesmo uma convicção delirante pois, ao final de contas, ninguém queria orientar dito, tamanha a aversão que o título produzia. O que poucos perceberam é que o título era mais uma queixa do que uma acusação. A fantasia do formando era a de que as mulheres eram as principais responsáveis pela triste condição dos homens e que, se elas fossem melhores ou não existissem, então...

Outra evocação veio da coincidência da fala do aluno com a de alguns pacientes, mulheres, diga-se de passagem. Elas se queixavam dos homens, dos homens que elas encontravam, pelo menos nos lugares onde elas iam buscar homens. Lugares em que elas encontravam homens compreensivos, cultos, atenciosos, etc. Mas em outro lugar, na hora em que estes homens tinham que ser algo mais, ou eles eram gays, ou eram muito complicados ou simplesmente desapareciam. Queixas a respeito dos homens todos nós psicanalistas temos ouvido de nossas pacientes, e de nossas parceiras também. Então não vou me estender mais. A pergunta que fica é sempre a antiga: o que quer uma mulher? E agora: que homem a mulher procura, afinal de contas, e não encontra? Talvez seja necessário ir um pouco adiante e perguntar: por que os homens acreditam nesta queixa das mulheres, e insistem em achar que podem satisfazê-las sendo o que elas acham que eles deveriam ser? Tentarei relacionar esta pergunta a próxima evocação.

A outra evocação é uma fala, em particular, em que uma paciente "assassina" durante uma sessão inteira a mãe de seu marido e por fim, repete: a desgraça do fulano (seu companheiro) é ter nascido de fulana (a sogra). O que em português é: a desgraça é que, infelizmente, ao meu homem falta algo, o meu homem nasceu de minha sogra. É claro que desde que ela descobriu que ele não era perfeito, ela vinha tentando melhorá-lo. Sem sucesso, é bom observar!

Ora, a teoria que aprendemos, no melhor dos casos, aprendemos em parte com nossos pacientes, em parte com nossa própria neurose ou com a neurose daqueles que nos cercam. Se a neurose é uma teoria que não funciona muito bem, e mesmo que funcionasse bem não adiantaria, a neurose é uma teoria, ainda que não funcione muito bem. E essa teoria tem uma determinada lógica que a interpretação procura desembaraçar. No inconsciente materno, o filho que um dia foi o falo acaba se tornando um projeto do homem que a mulher gostaria de encontrar. A idéia é de que, talvez, as mães criem seus filhos meninos de acordo com o modelo do homem que elas gostariam de ter encontrado, e que julgam ter encontrado em parte, no seu parceiro. Mas ao parceiro falta algo (ou muita coisa), por conta da mãe dele, a sogra. Se ele, o homem idealizado por toda mulher, é a imagem e semelhança do próprio pai, isso não é o mais importante aqui. O que interessa é a idéia do filho como o homem, criado de acordo com o ideal de homem buscado pela mãe, mas frustrado por todos os encontros dela com o masculino. Masculino que, no final das contas, é sempre um menino criado de acordo com o modelo de uma outra mulher, a sogra de toda moça, e não de acordo com o modelo da moça. Um dia este mesmo menino será o homem para uma moça, mas um homem em falta pois ele carece dos atributos idealizados pela moça e seus defeitos são atribuídos, em parte, aos ideais da sogra da moça. E como é esse homem idealizado? Com certeza é aquele que toda mulher busca, e não encontra pois, afinal de contas, nós homens sempre fomos criados por outra mulher e damos um jeito de decepcioná-las.

Se não há ainda um homem pronto, se as outras mulheres ainda não tiveram a capacidade de construir um homem à imagem e semelhança do que uma mulher deseja, cada mãe tomaria como sua incumbência criar esse novo homem. E onde estaria esse novo homem? No rosto da mãe. O que pode nos fazer pensar também que todos os bebês não deixam de ser o resultado de uma insatisfação da mulher com o seu homem.

No rosto da mãe o bebê vê uma mulher se vendo sendo mãe. E ele se vê, daí por diante, como aquele que faz uma mãe ser mulher. A tarefa da resolução do Édipo, sob esta ótica, pode ser separar a mãe da mulher e se perguntar em que coincidem a mãe e a mulher. Daí a primeira pergunta (pulverizada nos milhares de por que? infantis), de onde vem os bebês? e as primeiras teorias sexuais infantis.

O rosto da mãe funcionaria antes de todo espelho e nele se misturaria o que é uma mulher para um homem, o que é um determinado homem para uma mulher, com o que o bebê é para a mãe e como esta mãe se vê sendo mãe. Dali por diante, ninguém mais consegue ver-se como é visto, sem passar por esta "mistura". O pai está aí para salvar os meninos desse destino tão funesto, ter que realizar o homem ideal da mãe ou os presságios do espelho, desde que ele, por sua vez, tenha sido salvo pelo seu próprio pai. Mas se estamos em tempos de crise desse pai, de geração em geração chegamos a um estado em que tanto o pai quanto os meninos começaram a acreditar mais no que julgaram ter visto no rosto da mãe que nos modelos e nas imagens do pai. Posto isso, para compreendermos alguns impasses da sexualidade, do amor, do casamento, da família, da diferença sexual, talvez tenhamos que escutar nas queixas das mulheres e das mães não um pedido de retificação dos homens ou de uma adequação dos homens ao modelo que a queixa preconiza, pois parece que os homens acreditaram excessivamente no que ouviram das mães, ou acreditado que a mãe sabia muito mais acerca do mundo dos homens que o pai.

Se a des-graça do homem, a falta de graça do homem contemporâneo para a mulher, é ter nascido de uma mulher é porque ele não está conseguindo separar no rosto da mãe o rosto de uma mulher; e não conseguir ser um outro para o feminino, mas uma parte do feminino em si mesmo na lógica em que se fascinar com o outro é fascinar-se com aquilo que em nós causa fascínio no outro, fascinar-se com uma mãe fascinante e com aquilo que a fascina. Daí esse fascínio dos homens em buscarem ser aquilo que fascina as mulheres, justamente por se acharem fascinados por aquilo que fascina a mãe.

O homem fascinou-se por aquilo que fascina a mulher.

Produzi esse texto a partir de algumas reflexões teóricas e de observações clínicas. Tendo uma clientela predominantemente formada por mulheres, escuto a queixa acerca de seus homens. Elas se queixam do que há neles que as fascinam. Eles são companheiros, sensíveis, delicados, participam de suas vidas, escutam, muitos fazem análise, lêem, tem interesses comuns. Outros são cultos, organizados, tem uma boa conversa, sabem se vestir, cozinhar e se portar, são seguros, sabem lidar com o dinheiro. São homens como elas querem que seja um homem. Mas há alguma coisa neles que, a partir de determinado momento, fracassa. E com o fracasso deles, elas sentem também fracassar. Ou é justamente aí que elas se sentem muita mais fortes, decididas, responsáveis, implicadas. No que há um ressentimento em relação aos homens.

Em suma, parece que elas se sentem muito mais adultas do que eles, e lamentam por isso. Aí brota a dúvida na fala destas pacientes. Será que elas é que são mais maduras e estão mais bem preparadas para a vida, e eles estão infantilizados?, ou eles não são infantis, são homens que tem uma visão mais clara das coisas e onde eles vacilam, vacilam porque são mais "realistas" e elas é que estão "fora da casinha"?

Por outro lado, parece haver uma queixa de que os homens, ao invés de simplesmente escutarem as mulheres e tomarem ciência de que elas estão satisfeitas, se equivocaram e tomaram como encargo resolver a "insatisfação" feminina, encarnando o modelo de homem que acreditaram existir na queixa feminina acerca dos homens. Mas que não é nada disso, o que prova que os homens nunca as escutaram de fato, que elas escutaram as mães e as companheiras e se tornaram homens feitos por duas mulheres!

Talvez estes "novos homens" sejam aqueles que, na "era da informática e da comunicação", não tenham aprendido o essencial da comunicação: o equívoco! Principalmente da comunicação entre pais e filhos, homens e mulheres.

Notas

(1) Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP 2002). Psicólogo e psicanalista. Membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Professor no Curso de Psicologia da Unisinos. (E-mail:charleslang@pop.com.br)

(2) A feminilidade velada: aliança conjugal e modernidade . Rio de Janeiro: Cia de Freud, 1997.

(3) É curioso observar que al-feres é aquele que, na Antigüidade, conduzia, portava a bandeira ou o estandarte (em latim estandarte era signo). Uma cultura caligráfica e tipográfica acostumou-se a pensar a palavra, em essência um som, como um signo, porque signo refere-se, fundamentalmente, a algo percebido de maneira visual. Signum, que nos deu a palavra signo, significava o estandarte que uma unidade do exército romano levava no alto como identificação visual; etimologicamente, o objeto ao que se segue (raiz proto-indoeuropéia sekw, seguir). Apesar de que os romanos conheciam o alfabeto, este signum não era uma palavra escrita com letras, mas uma espécie de imagem desenhada, como uma águia, por exemplo. (ONG, Walter. Oralidad y escritura. Tecnologías de la palabra. México: Fondo de Cultura Económica, 1996, p. 79).

(4) Um espelho que chegou à família pela mão das mulheres e que tem uma origem mítica pois o mesmo chegou ao Brasil através de uma mulher que fugira para cá junto com a corte. Esta "genealogia" do espelho revela algo do "Romance familiar" estruturante do "Alferes".

(5) Não acreditamos que este seja um ponto de convergência entre o pensamento de JL e o de DWW, mas ao contrário, o ponto em que os dois se separam e tomam caminhos distintos. Infelizmente não poderei tratar disso aqui.

(6) WINNICOTT. D.W. "O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento infantil". In: ____. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975, p 153ss. É de se sublinhar a distinção. A experiência, para DWW, está centrada pelo eixo mãe-bebê enquanto que para Lacan "trata-se de elucidar os mecanismos estruturais, que estão em função na nossa experiência analítica, a qual está centrada nos adultos. Retroativamente, poder-se-á esclarecer o que se passa nas crianças, de maneira hipotética e mais ou menos controlável".(LACAN, J. O Seminário Livro 1. Os escritos técnicos de Freud. (1953-1954) , 3ª. ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar,)1983, p.150,

Bibliografia

JULIEN, Philippe. A feminilidade velada: aliança conjugal e modernidade . Rio de Janeiro: Cia de Freud, 1997.

LACAN, Jacques. "O estágio do espelho como formador da função do eu". In: ______. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

LACAN, Jacques. O Seminário Livro 1. Os escritos técnicos de Freud. (1953-1954) , 3ª. ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1983.

ONG, Walter. Oralidad y escritura. Tecnologías de la palabra. México: Fondo de Cultura Económica, 1996.

WINNICOTT. D.W. "O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento infantil". In: ____. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975,

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