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I- Psicanálise: Monista ou dualista?
Por não ser inusual pacientes em análise que apresentem seqüelas de traumatismos cerebrais, máformação cerebral, ou psicose induzida por droga, pode-se introduzir o lugar do corpo na psicanálise também por este viés.
As alterações corporais podem ser categorizadas psicanaliticamente em dois extremos: no primeiro estariam as hist erias de conversão, onde há alteração do funcionamento orgânico, sem "lesão de órgão". No outro estariam as manifestações psicossomáticas, que diferem das conversivas por apresentarem "lesão de órgão".
Bunge1 no livro "O problema mente-cérebro", mostra que na relação mente-corpo há os defensores de uma autonomia da mente que negam a realidade dos corpos caracterizando o monismo espiritualista , e os que reconhecem a existência do corpo junto à mente, que é o dualismo psicofísico: paralelismo psicofísico, epifenomenismo,oanimismo, e interacionismo. Há também os que sustentam o mental como decorente unicamente de uma função corporal que é o monismo psicofísico: fenomenismo, monismo neutral, materialismo eliminativo, monismo fisicalista e materialismo emergentista.
Para Bunge, Freud se inclui no categoria do dualismo tipo paralelismo psicofisico, que aponta ao cérebro e o psíquico como sincrônicos. A. Damasio, no livro " O erro de Descartes"2, afirma que a noção de Sujeito decorreria de um êrro filosófico, pois Descartes ao introduzir o "Penso logo existo", necessitou fundamentar a existência de duas substâncias diferentes, a "res extensa", que seria o corpo, e a "res cogitans", o pensamento, divisão constitutiva do pensamento psicologico ocidental.
A. Damasio, situa o "erro" de Descartes na divisão entre psico e soma, e segundo Damasio, cabe à moderna neurobiologia, "monista" por vocação, corrigir este erro. Diz Damasio: "o Cogito ergo sum,...considerada literalmente, ... ilustra exatamente o oposto daquilo que creio ser verdade acerca das origens da mente e da relação da mente e o corpo. A afirmação sugere que pensar e ter consciência de pensar são os verdadeiros substratos do existir."3 A solução que Damasio propõe com sua crítica a uma "mente desencarnada" sugerida por Descartes, é a de um retorno a um monismo como se deduz de sua proposta:"a mente tem de passar de um cogitum não fisico para o domínio do tecido biológico..." 4
A posição de Freud sobre a relação mente-corpo teria sido "monista", como mostra P. L. Assoun no livro "Introdução à epistemologia freudiana": "Na epistemologia freudiana, não há lugar para o um dualismo... é pouco dizer que para Freud a psicanálise é uma Naturwissenschaft: na realidade não há ciência senão da natureza...Portanto vamos encontrar na base da epistemologia freudiana um monismo caracterizado e radical."5
Esta posição de Freud decorre da recusa do parelelismo psico-físico tal qual proposto por Haeckel, cujo fundamento dualista era visto como traição à fundamentação da psicanálise nas ciências da natureza.
Dentro desta postura científica, Freud formalizou a descoberta de que os sintomas conversivos dos pacientes histéricos estavam relacionadas à experiências vividas e não à uma lesão somática, explicação esta que contrariava a psiquiatria da época, que considerava que a causa dos sintomas da histeria seriam devidos à uma alteração orgânica, consequência de uma "degeneração nervosa".
Freud, para explicar os sintomas neuróticos dentro das ciências da natureza, fez uso inicialmente de um modêlo neurofisiológico organizado em torno dos conceitos de estrutura e função. Um exemplo de estrutura do sistema nervoso é o arco reflexo, cuja função é a de responder a um estímulo.
No "Projeto para uma psicologia Científica", Freud, tentou a compreensão do funcionamento mental fundamentado na existência de tipos diferentes de neurônios, que com suas vias de condução, barreiras de contato, mecanismos de facilitação e critérios de energia livre e vinculada, explicariam a causa dos sintomas.
Paulatinamente o modelo neurofisiológico deu lugar a concepção de "aparelho psíquico", que explicaria a causação dos sintomas histéricos, já que eles não correspondiam a uma lesão no sistema nervoso, e sim à sua representação psíquica.
II O corpo no ensino de Lacan
Freud propôs que o fato do bebê depender dos cuidados de uma outra pessoa para a sua subsistência por um longo período de tempo, fato ao que chamou de desamparo (hilfogliskeit), seria conformador do desejo humano.
Esta afirmação de Freud, pretenderia ter sido confirmada, do ponto de vista neurológico, através da "epigênese", que é o nome que se dá ao fato de que, durante o desenvolvimento do cérebro antes do nascimento, haver uma proliferação dos neurônios e sinapses, seguindo-se uma regressão e morte de grande parte destes neurônios.
Observa-se, depois do nascimento, o "fenômeno de redundância difusa", que é o fato de que os neurônios que restam ramificam-se, e enviam um número exagerado de prolongamentos, ligando-se a outros neurônios com mais de uma ramificação.
Após o nascimento, seguindo-se a essa fase de "redundância sináptica", ocorre uma etapa de regressão das ramificações axiônicas e dendríticas, estimuladas pelo contato com o meio ambiente. A demonstração deste fato feita por G. Edelman com a "teoria das categorizações", se refere à utilização dos circuitos neuronais em consequência da satisfação de necessidade ligadas à preservação da vida, o que introduz a constatação de que as experiências vividas pelo ser humano intervém ativamente na modelação do tecido cerebral.
Ou seja, a investigação neurobológica confirmaria a observação freudiana do ""desamparo" formalizando-a com a teoria da "epigenêse das redes de neurônios", e completada pela "teoria da categorizações" de Edelman.
Segundo A. Green, a teoria proposta por Edelman, "é uma grande mutação na reflexão biológica", pois o conceito de auto-categorizações seria "indicativo de um tipo de organização não proveniente do exterior, sendo um tipo de organização que se faz no seio da própria pessoa segundo processos em que há algo como um tipo de regulação interna, feita por qualquer coisa que não pode chamar sujeito ou Eu".6
No entanto, muito antes destas descobertas ser feita pela neurobiologia, Lacan com a teoria do estádio do espelho, apontou as consequências na constituição do psíquico devidas à condição neurológica humana, chamado de neotenia, heterocronia, fetalizaçào, ou ainda sindrome de Bolk, e que se refere à prematuração especifica do bebê, que ao nascer, por não ter a bainha dos neurônios da córtex cerebral mielinizadas, não tem a possibilidade de coordenação motora.
Para Lacan, o fato do bebê não ter coordenação motora, ou seja uma unidade corporal, mostraria a impossibilidade dele possuir um Eu fundado pelas funções biológicas.
Lacan retirou de Wallon a evidência de que antes que a coordenação motora seja neurologicamente possível, a criança já se reconhece no espelho. O fato de reconhecer-se no espelho, demonstraria a existência de um Eu, entendido como corpo unificado. Por isso, o estádio do espelho demonstraria que há uma antecipação das funções psicológicas em relação às biológicas como fonte da integração da unidade corporal, o que contraria a hipótese de um Eu fundado em atividades cerebrais.
Com isso, Lacan, fundamentou de outra maneira a descoberta de que o Eu, enquanto corpo-próprio, não se reduz ao biológico. Lacan, assim como Freud, tambem demonstrou a existência de um corpo que não se reduz ao orgânico, e formalizou, com o estádio do espelho, o que Freud havia antes chamado de corpo erógeno.
Desta maneira, tanto Lacan como Freud, discordam de Descartes, na medida que introduzem a idéia de que o pensamento está encarnado em um corpo. Para a psicanálise há um corpo que não se reduz ao organismo, chamado de corpo narcísico, que é um corpo de gozo, como ensinam os sintomas conversivos, ou os fenômenos psicossomáticos.
O estádio do espelho, mostra o lugar do corpo na relação com o psíquico, e coloca a gestalt do corpo como conformadora da função do Eu. Porém com o avanço do ensino de Lacan, essa teoria foi sucessivamente reelaborada.
No primeiro momento em 1936 ele articulava o Eu como a captação imaginária do corpo, confrontado ao real biológico do corpo. Posteriormente, em 1953, com a introdução do simbólico, Lacan reformulou o lugar do corpo na psicanálise.
Através do recurso a uma experiência usada em óptica física, conhecida como a experiência de Bouasse, que é a demonstração onde se faz uso de um vaso (onde as flôres estão colocadas fora dele no sentido inverso) colocado frente a um espelho côncavo, produz-se a ilusão de se ver o vaso com as flôres dentro.
Lacan, neste exemplo, seguiu a sugestão de Freud que indicava o interêsse dos modêlos ópticos, usados para descartar a noção de localização anatômica, e ficar no terreno do psicógico.
O ôlho, no modelo usado por Lacan, é o simbolo do Sujeito, e quer dizer que na relação do imaginário com o real, tudo depende da situação do Sujeito, posto que esta situação está essencialmente caracterizada por seu lugar no mundo simbólico, que é o mundo da palavra. Quer dizer, o corpo em tanto real, é como o vaso refletido no espelho, quer dizer, ele é inacessível ao olhar e portanto o Sujeito (determinado pela ordem simbólica) nunca terá mais que uma apreensão imaginária do corpo.(fig.1)
fig. 1
Depois Lacan ainda retomaria o lugar do corpo na psicanálise a partir da noção de gozo, que é o que articula o significante ao corpo. Daí as últimas elaborações de Lacan se referirem aos tipos de gozo decorrentes da interrelação dos registros entre si, ou seja, às maneiras diferentes do significante marcar o corpo, mantendo-se porém constante sua posição contrária a um continuismo psico-físico, impossibilitando juntar-se as descobertas da psicanálise com a neurobiologia.
Enfatizando este fato, Lacan chamou de delta ao momento do infans antes de aceder ao simbólico. Nesse momento inaugural do sujeito o grito emitido pelo infans é interpretado pela mãe como apelo, porque ao atribuir um sentido ao grito, eleva-o à linguagem.
E é o registro desta descarga, que elevada à categoria de apelo, o que é registrado, e este registro (S1)condiciona o modelo do circuito que passa a ser repetido para eliminar a tensão.
A constituição do sujeito vai se dar a partir de S2, que refere-se ao que do Outro eleimna a tensão, e é ele, produz o S1, Traço-Unário, marca que incrita em um corpo produz o gozo.
O S2 é o outro, é a linguagem, é significação do grito. Porém esse significante (S1), não pode recobrir o corpo como um todo, e produz um resto que é o objeto a.
O corpo e o sujeito estão intimamente ligados na medida em que o corpo é o suporte do grito. Mas na medida em que o grito é transformado pela linguagem em apelo, o corpo resta enquanto objeto a .
III- Além do imaginário: O esquema óptico
Para superar a ausência de referência à localização anatômica na teoria analitica, Lacan, como Freud, fez uso dos modelos ópticos. Um deles (fig.1) foi introduzido por Lacan na sétima sessão do Seminário I, em 24 de fev de 1954, como sucedâneo do estádio do espelho.
O estádio do espelho foi introduzido por Lacan para formalizar a maneira pela qual se dá a constituição do Eu. Em Freud isto foi feito com a teoria do narcisimo, e o Estádio do Espelho seria uma releitura dessa teoria, na qual Lacan acrescenta informações a que Freud não teria acesso no momento de sua formulação (1914).
Há várias teorias do narcisismo em Freud, e a que Lacan utiliza é a do narcismo efeito da organização do auto-erotismo. Neste primeiro momento, Lacan utilizou-se da experiência de Wallon, que mostra que a criança antes de ter uma coordenação motora, reconhece-se no espelho.
Neste momento Lacan referiu-se ao espelho plano, pois a criança se reconheceria a partir da captação da gestalt do corpo que observa no espelho. No entanto nem todos os autores concordam que o estádio do espelho seja unicamente escópico, sendo que F. Dolto e J.D.Nasio acreditam que o espelho seja uma metáfora, pois não necessariamente seria preciso haver um espelho real, sendo que espelho poderia ser entendido como metáfora do outro .
A partir de 1953, ao introduzir o simbólico, há um segundo momento da formulação do estádio do espelho, e Lacan refere-se ao experimento de Bouasse.
Fig.1
No mesmo seminário, Lacan acrescenta um espelho plano no modelo anterior, (fig.2) faz uma inversão das posições do vaso e das flores e muda o lugar do observador (metáfora para sujeito, representado pelo olho) que vê a imagem do espelho côncava pela sua reflexão no espelho plano.
As flores representam os objetos que vão ser contidas pelo vaso, que representa o corpo com seus orificios.
O vaso que se encontra escondido dentro da caixa é inacessivel ao sujeito e representa o corpo como organismo biológico perdido para o sujeito.
Fig.2
Há ainda um terceiro momento da elaboração deste modelo, (fig.3) introduzido por Lacan no texto "Observações sobre o informe de Daniel Lagache", publicado em 1961, e que foi apresentado como "Esquema das relacões entre o Eu-Ideal e o Ideal-do-Eu".
Nele não há diferença na montagem do experimento como foi utilizada em 1954, mas ele apresenta diferenças na nomeação dos lugares.
O Sujeito não está designado pela letra S como antes senão por S barrado. O espelho plano designado com a letra A refere-se o Outro. O vaso designado com a letra C se lerá como a primeira letra de corpo. As flores se designam como "a". A imagem virtual que reúne a imagem real do vaso de flores é designada como i'(a) o que se lê como Eu Ideal.
Neste último esquema i(a) (a imagem real com a qual o Eu se identifica) não está no esquema. No entanto i'(a), que é a imagem virtual é a produzida pelo espeho plano. O Outro é o meio pelo qual o sujeito encontra sua propria imagem e é também o que separa o Sujeito da imagem.
A linha S (sujeito).......S,I o Ideal do Eu representa a relação do sujeito com o Ideal do Eu e ocupa o lugar faltante ao Sujeito criando a ilusão de um Sujeito completo.
Fica a questão do a, qque neste momento não tem o estatuto de objeto pequeno a, que será precisado nos seminários posteriores como objeto parcial, pulsional, não especularizável.
No seminário X, "A angustia", o esquema óptico será questionado, e no lugar das flores surgirá um x. O corpo como objeto não se increverá como imagem, u o fará como um furo marcado pela escritura de menos fi.
Fig.3
Pode-se resumir o uso que Lacan faz dos modelos ópticos, apontando que ele os usa como um instrumento para superar a questão da localização anatômica. No seminario I, no capítulo sobre a tópica do imaginário, Lacan refere-se à interpretação dos Sonhos, cap.VII, onde Freud diz ao introduzir o modelo telescópico :"a idéia que nos é assim oferecida é a de um lugar psíquico.". Depois faz outra citação retirada de "Esboço da Psicanálise: "Afastemos-nos logo da noção de localização anatômica. Fiquemos no terreno psicológico e procuremos apenas nos representar um instrumento que serve às produções psíquicas como uma espécie de microscópio complicado de aparelho fotográfico.
Esta ausência de localização anatômica decorre do fato de que o estádio do espelho articula o corpo com o psíquico a partir da idéia de que, na captação pelo sujeito de sua unidade corporal, há uma antecipação do psicológico sobre o fisiológico.
Por isto neste primeiro momento Lacan identificou o narcisismo primário à captação da unidade corporal, e ao colocar que isso se dá a partir da gestalt, do corpo do outro, propôs que este fato decorre de uma questão ligada à espécie. Lacan, neste momento, para situar o biológico usou a expressão""prenhez biológica" referirindo-se à gestalt composta pelo corpo do outro, e o biológico está reduzido à função da imagem, ou seja à gestalt. Portanto neste momento do ensino de Lacan, o corpo se apresenta enquanto gestalt, não enquanto corpo real. No primeiro momento da formalização do estádio do espelho só havia o imaginário e o real, não havia o lugar do simbólico. O que o esquema óptico introduz é o lugar do sujeito, o lugar do simbólico, o lugar de onde se vê a imagem (que seria a imagem do corpo). Com isto Lacan pode articular o imaginário, o simbólico e o real, ressituando o lugar do corpo, colocado antes em seu ensino como equivalente à gestalt do corpo real.
Em 1953 Lacan introduziu o simbólico como condição do sujeito e propôs o esquema óptico como um segundo momento do Estadio do Espelho. Nesta releitura Lacan representou o vaso (marcado com a letra C) como o corpo, e o ôlho como sujeito. Lacan (no Sem. I), refere-se a isso ao dizer:"Então o que quer dizer este ôlho que está aí? Isto quer dizer que na relação do imaginário e do real, tudo depende da situação do sujeito. A situação do sujeito, os senhores devem sabê-lo".
O esquema óptico articula o corpo enquanto real (o vaso, letra C) que como tal é inacessível ao olhar. Portanto o sujeito nunca terá do corpo senão uma apreensão imaginária.
O esquema óptico mostra que o sujeito nunca apreende o corpo como tal, pois o corpo para a psicanálise não é o corpo biológico, é o corpo libidinal, ou corpo erógeno. No esquema óptico, o corpo não se vê, e só é captado imaginariamente pela posição do sujeito.
Porém Lacan, na seqüência do seu ensino, em 1956, ao abordar as psicoses, produziu uma reformulação da noção de real e portanto do lugar do corpo real, antes identificado no esquema óptico ao vaso de flores.
Ao abordar as psicoses Lacan definiu o real como o que está fora do simbólico, propondo o aforisma:o que foi forcluído no simbólico, retorna no real. A partir daí a noção de real já não estaria mais ligada ao corpo, e passou a ser definida como "fora do simbólico". O real seria o foracluído, seria o inacessível ao simbólico.
IV- Além do simbólico: o real
Pode-se tambem apontar outra modificação do lugar do corpo no desenvolvimento do ensino de Lacan a partir da formalização do objeto a, como objeto causa do desejo. Poderia localizar-se o início desta modificação no texto "Posição do Inconsciente," que é o escrito correspondente à intervenção feita por Lacan no Colóquio de Bonneval, onde se debateu a relação entre linguagem e psicanálise.
Neste colóquio, os representantes da IPA defenderam um modelo da psicanálise sustentado no continuismo do cérebro com a mente, e devido a esta posição, o funcionamento do inconsciente, poderia ser deduzido da neurofisiologia.
Ou seja para os psicanalistas representando este modelo primeiro haveria o inconsciente, e depois a linguagem. Logo o inconsciente dependeria do cérebro e a linguagem decorreria da relação do cérebro com o inconsciente.
Esperava-se dos alunos de Lacan que defendessem uma posição contrária: de que a linguagem é condição do inconsciente, pois Lacan havia sempre dito que o Sujeito é constituído pelo Outro. É isto que ele diz na teoria do estádio do espelho e depois reafirmou com a proposição do Sujeito constituído pela linguagem.
Logo,para Lacan não há uma relação do cérebro com o inconsciente, há uma relação do inconsciente com a linguagem.
No entanto, os alunos de Lacan situaram o inconsciente como condição da linguagem, chegando à essa conclusão através do estudo da linguagem na esquizofrenia, e apontaram que não se poderia falar da separação cérebro-inconsciente.
A resposta de Lacan constitui o texto Posição do Inconsciente. Texto fundamental, onde a pergunta que se está fazendo Lacan é qual o lugar do corpo na produção da linguagem?
Dizer que o inconsciente é estruturado como linguagem, mas não se falar qual é o fundamento da linguagem, deixava a questão em aberto. Para responder qual é a relação do corpo com a linguagem, Lacan introduziu o objeto "a" na causação do sujeito.
Ainda em resposta às críticas feita à psicanálise de orientação lacaniana identificada a um idealismo, isto é, criticas à que teoria de Lacan ignoraria uma sustentação corporal para a linguagem, Lacan, no seminário Ou Pire, introduziu o "Existe d'Um", o que subverte o axioma estruturalista onde o significante representa o sujeito para outro significante e a partir disso Lacan recuperou noção de signo.
O Estruturalismo originado na teoria da Gestalt, depois usado de por Saussure, reclamado por Jakobson, foi emprestado a Lévi-Strauss, que junto com Foucault, Barthes e outros,iniciaram o movimento estruturalista. A estrutura aplicada à linguagem implica em que o significante não se significa a si mesmo, só se significa em relação a outro.
A partir desse outro momento de seu ensino, pode-se pensar que Lacan relativizou sua referência ao estruturalismo, o que seria decorrente de Lacan dizer que "existe d'Um". Se existe o "Um", tudo é holófrase, pois a holófrase é "Um", o que significa que não há cadeia.
Freud pensou a unidade como o Um platônico, que é o "Um" de Eros, enetendendo que o sujeito necessita do outro para sua sobrevivência, e cria a ilusão de completude (Um) na relação mãe-bebê, daí a condição humana ser a de procurar sua completude no outro.
É este modelo de Um conformado pela completude no outro, que é metaforizado pelo Eros platônico. O Eros platônico refere-se a Aristófanes, que com o mito do hermafrodita, aponta ao Um através de um ser completo nem macho nem fêmea, que partido em duas metades, deu origem aos sexos.
A esta possibilidade de totalidade Lacan chamou de "Uniano", e refere-se à completude alcançada no estadio do espelho através da imagem do outro. Este modelo de completude é o que está em Lacan, no período do Imaginário, formalizado pela teoria do estádio do espelho, onde o sujeito acha sua completude na gestalt do corpo do outro. Em outro momento de seu ensino, Lacan ao introduziro simbólico, fez com que a unidade ilusória que constitui o Eu passasse a estar localizada no Ideal-do-Eu, configurado pelo Traço-Unário. É o Lacan chamou de campo do "Unário".
V- Corpo e real
Em Radiofonia Lacan disse:"Trata-se aqui de articular as relações de gozo e da incorporação do corpo do simbólico no corpo do organismo".
Quer dizer, se o sujeito é constituído pelo Outro, a linguagem é anterior ao sujeito. Se entendemos o inconsciente estruturado pela linguagem, se a linguagem é condição do inconsciente, então, o simbólico é anterior ao corpo. O corpo existe, ele causa a linguagem, mas é a linguagem que constitui o corpo do simbólico. Daí Lacan usar a expressão:"incorporação do corpo simbólico no corpo do organismo".
Para o sujeito, existe primeiro o simbólico, depois o corpo. O sujeito só sabe do corpo pelos significantes, só sabe do corpo pelas palavras. Para demostrar a construção do corpo pelo Simbólico, basta retomar-se a anatomia da época anterior à prática da dissecação. O corpo construído como corpo simbólico, é diferente do corpo biológico. E qual o lugar do corpo biológico em relação ao corpo do simbólico? É isto que responde o estudo do fenômeno psicossomático.
O analista, só sabe se um fenômeno é psicossomático, depois, se pela ação do significante houver uma modificão de uma lesão de órgão.
A clínica analítica é a clínica do aprés-coup, só depois, pois se o analista tiver um conhecimento a priori do que é o psicossomático, estaria no discurso médico.
Se o analista se fecha no discurso médico e não aceita uma demanda de análise, devido à existência de um discurso dominante sobre determinada manifestação, está misturando o discurso analítico com o discurso médico. O analista tem que ter claro que utilizando-se dos significantes, pode alterar o funcionamento corporal. Mas ele não tem um saber sobre isto.
Esta forma de agir, propria à orientação lacaniana é possível porque houve uma evolução na direção do tratamento. No modelo da pratica referida a um predominio do Simbólico, o analista lacaniano atuava desde o lugar do Outro. A doutrina da cura sustentava-se na comunicação de um saber inconsciente que seria o que produziria o efeito terapêutico.
Porém, a análise conduzida dessa forma levava a um impasse, pois não há um saber sobre a verdade que a esgote. Não há limite para a interpretação. A análise conduzida dessa maneira é infinita e produziu interrupções do tratamento, que foram descritas por Freud como "rebeldia e submissão passiva" no homem e "penisneid" na mulher.
Como não há uma "verdade" a ser comunicada, chega um tempo em que o paciente interrompe aquela análise e procura outro analista que ele supõe que saiba a verdade sobre o sofrimento dele.
Para ultrapassar esse impasse, Lacan abandonou a clínica do sintoma, a clínica da comunicação do saber inconsciente e introduziu a clínica da fantasia, onde o analista não está mais na posição de Outro, na posição de mestre do sentido.
Neste segundo modelo da direção do tratamento, o analista está em posição de objeto a. A sua ação sustenta-se na sua presença, e ele age como causa do discurso dirigido a ele. O analista intervém nesse discurso, mas não previlegia o saber ligado a esse discurso, por isso a relativização da noção de inconsciente estruturado como linguagem, e a introdução da noção de alíngua, que substitui a noção de linguagem.
A partir disto, Lacan formalizou que o analista vai intervir em uma escrita, que constitui a série de registros , de S1, que não fazem cadeia, mas scondicionam a produção de saber. A interpretação antes apontava à um saber deduzido da cadeia cadeia, que podia ser sintetizado como um S3, ou seja um significante que ressignificasse o sentido da cadeia.
A posição do analista lacaniano atual, é a de incidir em uma escrita, incidir no gozo que representa o S1. Essa prática analítica, levada a seu extremo, seria a da sessão curta, onde o modelo da interpretação é o corte, visto como uma interpretação não enunciada, onde o analista descompleta o sujeito. É uma ação que aponta o gozo da completude e que não passa unicamente pela comunicação de um saber.
O analista faz semblante de saber, comunica um saber, interpreta, articula a neurose infantil com a neurose atual, mas isso não é a causa da cura, não é isso que leva à modificação subjetiva.
Orientação é quando se vai de um lugar para outro pre-determinado. A orientação lacaniana é a psicanálise orientada em direção a fim de análise. Na análise freudiana não há fim, elas seriam eram infinitas e as análises se interrompiam, não terminavam. A proposta do Lacan é que a análise se finalize, que ela tenha um fim. Por isso existe uma teoria do final de análise no Lacan, ligada à noção de "destituição subjetiva".
Os meios de se chegar em um fim de análise é superar a posição do analista enquanto mestre do saber, o que impõe uma modificação transferencial, possível desde que o analista ocupe um lugar objetal.
Ou seja a segunda clínica de Lacan é condicionada pela intervenção no gozo, que por ser a face "letra"do significante, está fora do sentido. Surge dái a possibilidade de se atuar no corpo pelo significante, atigindo-o pelo gozo e nào pelo saber.
Se o fenômeno psicossomatico for abordado pela anatomia, ou fisiologia, está-se no discurso médico, não no discurso analítico. O sujeito só tem acesso ao corpo pelo significante. O que articula corpo e significante é o gozo. O corpo real (biológico), é um corpo marcado pelo significante, é um corpo marcado pelo gozo. O corpo real para a Psicanálise é o corpo de gozo, não o corpo biológico.
Por isso a Psicossomática se torna paradigma no estudo da relação corpo-mente. Porém é preciso diferenciar o fenômeno psicossomático da conversivo pois nele há "lesão de órgão", e na conversão não.
Por exemplo o vitiligo é uma doença psicossomática, porque existem uma lesão de orgão evidenciada por manchas brancas na pele, e oq ue as tornam psicossamticas se deve ao fato de que seriam produzidas pelo efeito de significantes. Uma paralisia histérica não é um fenômeno psicossomático, é uma conversão, na medida que não existe uma "lesão de orgão" para esta manifestação.
Haveria que se enumerar quai os fenômenos psicossomáticos aceitos como tal na medicina atual, pois frequentemente diz-se que é psicossomático o que o discurso médico não explica.
Algumas doenças quando explicadas pela fisiopatologia deixam de ser consideradas fenômenos psicossomáticos. Por exemplo em Cuba acha-se que se sabe a causa do vitiligo, então neste país o vitiligo não é considerado psicossomático. Também em relação à úlcera, que durante muito tempo foi considerada psicossomática, atualmente pensa-se que seja causada por bactérias. Também a asma, antes considerada psicossomática, atualmente acredita-se que seja causada por por ácaros.
Desde este ponto de vista o fenômeno psicossomático seria tudo que o discurso médico não consegue explicar. Porém para quem, como Lacan, não diferencia o fisiológico do psicológico, tudo é psicossomático, pois estritamente pensado, só há psicossomático desde um ponto de vista "dualista", que separa mente de corpo. A Medicina grega era psicossomática na medida em que Hipócrates dizia não tratar doenças, mas doentes. A Medicina moderna trata doenças e não doentes.
A psicossomática tornou-se uma disciplina médica a partir dos anos cinquenta nos Estados Unidos com a influência de F. Alexander, ao catalogar-se as manifestações psicossomáticas desde a incidência delas nos vários órgãos. Assim por exemplo convencionou-se ser de causa psicossomática: no aparelho circulatório, hipertensão, no respiratório , asma, no digestivo, úlcera, etc.
No entanto estas afecções na medida que foram explicadas pela medicina moderna, deixaram de ser consideradas psicossomática.
Para o psicanalista um fenômeno seria psicossomático, quando a causa da lesão de órgão for um significante. Como saber se a causa da lesão de órgão é um significante? Quando a lesão de órgão é modificada pelo significante. Quando pela análise há uma remissão da lesão de órgão.
Na psicanálise convencionou-se não se falar em sintoma psicossomático, porque o sintoma é efeito de um discurso, é ee por isso inclui um sujeito. O que caracteriza o fenômeno psicossomático é uma lesão de órgão,portanto há primeiro um fenômeno que só depois vai ser sintomatizado pelo sujeito.
A lesão de orgão é um fenômeno que acontece no corpo, sobre o qual instaura-se um discurso, ou seja o sujeito põe o fenômeno em palavras. Por isso um mesmo fenômeno pode ter sintomatizações diferentes dependendo da estrutura do sujeito que o apresente pois cada sujeito vai subjetivar-lo de acordo com seus mecanismos de defesa. A manifestação corporal pode ser igual a todos, no entanto a subjetivação do fenômeno depende dos acidentes do Édipo de cada um.
Um traumatismo cerebral, não é um fenômeno psicossomático, e pode ter conseqüências e sequelas muito grandes. Da mesma maneira que cada sujeito significa seus fenômenos corporais em função da sua história particular, condicionada pela sua estrutura edípica.
A mesma coisa para a máformação cerebral, que pode ter influência na cognição ligada às funções cerebrais. No entanto, pode-se analisar a subjetivação feita das conseqüências dessas alterações, mas jamais a alteração diretamente.
A questão da subjetividade coloca-se de forma mais intensa nas alterações causadas por agentes químicos. Verifica-se que devido ao efeito medicamentoso, o sujeito pode apresentar um tipo de manisfestação, que dentro da nomenclatura psiquiátrica são chamadas se "idéias deliróides", que não são idéias delirantes, pois não há perda da crítica.
Para que haja delírio, existe uma condição decorrente do que Lacan chamou de "foraclusão do Nome do Pai", que é a condição da estrutura psicótica.
Do ponto de vista analítico, havendo a possibilidade do tratamento ser dirigido pela associação-livre, não interessa ao analista a lesão de órgão entendida desde o ponto de vista médico. O analista orienta-se unicamente pelo discurso que o sujeito faz dessas alterações.
Numa linha de raciocínio oposta, C. Pérsio, em uma reportagem publicada na revista Palavra, ano I, numero 6, com o título "A grandeza da simplicidade", referindo-se ao artigo "Divisão e suicídio celular podem ser a chave do câncer", de autoria de P.Brown, da revista inglesa "New Scientist", pretende que o conceito de "apoptose " celular, ou suicídio celular, que é o fato de que células normais, recebendo concomitantemente um comando para se multiplicarem e um comando para morrerem, podem se inclinar para este último, seria a demonstração biológica da tese freudiana da pulsão de morte.
Diz Pérsio:" Fazendo um cotejamento entre os dois achados, um do campo psicanalítico e o outro do campo biológico, pretende-se sensibilizar particularmente os profissionais das áreas da psiquiatria e da psicanálise, mormente aqueles de formação médica, por duas grandes motivações. Primeiramente ressaltar a importância de a complexa tese freudiana, datada de 1920, ter sido, em sua essência, comprovada por pesquisa biológica de ponta, em 1994. Além disso, pelo fato de até a data do presente artigo não se ter lido, ouvido e visto a conexão acima apontada, conclui-se pela necessidade de publicá-la, como prova do desquite existente entre os campos psiquiáticos e psicanalíticos e entre a biogenética e a psicogenética".
Seriam os modelos biologia e o da psicanálise, conciliáveis?
Há entre os psicanalistas aqueles que apontam a posssibilidade desta interlocução fazendo conexões entre os recentes avanços das neurociências, e as evidências demonstradas pela psicanálise.
Y. Soussumi no seu artigo "A psicanálise hoje e freudiana? A psicanálise e algumas idéias neurobiológicas e imunoendócrinas", publicado no livro "Corpo-mente, uma fronteira móvel" 7 , desenvolvendo o conceito de "epigênese", cita a "teoria das categorizações" de Edelman, como uma forma possível de se estabelecer a ponte das neurociências e a psicanálise.
Segundo Soussumi7, Edelman ao investigar os fenômenos cerebrais à luz da teoria do "Darwinismo neuronal", aponta que as experiências vividas pelo ser humano ao nascer, nos momentos precoces de sua relação com o meio ambiente, vão ativar seletivamente os circuitos neuronais programados geneticamente. À utilização destes circuitos, Edelman deu o nome de "Categorizações", e se refere a satisfação ou não de necessidades instintivas ligadas à preservação da vida.
Este paralelismo possível entre as neurociências e a psicanálise é levado ao extremo quando Saussumi faz a seguinte comparação: "Talvez o modelo mais próximo da consciência primária seja aquele que possui o cérebro direito de alguns individuos com o cérebro esquerdo dominante em situação de splitting cirúrgico."8
Outra pesquisadora da relação da psicanálise com a neurociência, Susan Vaughan, no livro " The talking cure- The cience behind psychoterapy",9 publicado 1997 em Nova York, chega a defender que há uma função cerebral a que ela chama de "sintetizador de histórias" que estaria alojada na córtex cerebral.
Esta autora chega a propor "que as conexões biológicas entre os neurônios que constituem o sintetizador de histórias são literalmente fortalecidas, moldadas, enfraquecidas ou destruidas- em última análise refeitas- ao longo do processo de psicoterapia."
Mesmo entendendo o que a autora chama como sintetizador de histórias, como uma metáfora para Sujeito, a demonstração das alterações celulares causada por efeito de psicoterapia ainda estaria para ser feita.
Assim como tambem, o paralelo feito por Soussumi da noção de "epigênese", e da "teoria das categorizações" de Edelman, nunca poderiam explicar o Édipo ou a castração como proposta pela psicanálise, sem cair em uma analogia biológica imprópria. O mesmo vale para o paralelo feito C.Pérsio no artigo "A grandeza da simplicidade", onde propõe um paralelo da "apoptose" celular com a pulsão de morte.
O psicanálise, tomada pelo paradigma do Sujeito, vê no outro, tanto na sua dimensão imaginária de semelhante, como na sua dimensão simbólica de Outro, e mesmo na dimensão real de "Das Ding", a causa do sujeito. Este fato aponta à uma alienação originária na constituição do Sujeito, e faz com que, para ele, o saber esteja sempre no outro, o que faz diferença com as ciências cognitivas, que coloca o funcionamento cerebral na origem do saber.
Daí a psicanálise incluir a presença do outro, através da pessoa do analista, como condição do tratamento, e com isso, reproduz na transferência a estrutura onde o Sujeito demanda a um outro uma resposta sobre o que lhe falta.
Neste sentido a experiência psicanalitica desautoriza qualquer paralelo entre neurociência e psicanálise, pois elas tem uma posição antagônica quanto à causa e funcionamento do Sujeito.
Como explicar a transferência pela neuroquímica? O que dar ao outro para completar o que lhe falta? Remédios ou o acesso a uma verdade, causa de seu sofrimento?
Pergunta que aponta a uma ética, porém não uma ética dos filósofos, mas uma ética da psicanálise. Esta ética foi sugerida por Lacan como: "uma ética se anuncia, convertida ao silêncio pelo advento não do pavor, mas do desejo"10
Neste sentido, a ética da psicanálise, em primeiro lugar, diz respeito à interpretação do desejo inconsciente que implica o Sujeito na responsabilidade de uma escolha, evitada para não produzir angustia.
O limite disto, está na incompatilidade do desejo com a palavra, o que esboça a virtude alusiva da interpretação, que vai da interpretação definida como tomar o desejo à letra, até a interpretação enquanto incidindo sobre a causa do desejo.
A ética do analisando pode ser formulada como Wo Es war soll Ich werden: aí onde Isso era, deve advir Eu. Isto quer dizer há ética onde há escolha, decisão, o que se manifesta de maneira exemplar na analogia feita por Lacan da depressão com a covardia moral.
À ética da psicanalise pode-se acrescentar uma ética do desejo, que não é uma ética da liberação do desejo, mas de sua resolução, o que, devido a incompatibilidade do desejo e da palavra, coloca o problema do "bem-dizer".
Notas
1 Bunge, M., El problema mente-cerebro, TEcnos, , Madrid, 1988
2 Damasio, A., O erro de Descartes, Companhia das Letras,S.P., 1996
3 ibid pg.279
4 ibid pg. 282
5 Assoun, Pierre_Laurent, Introdução a epistemologia freudiana, Imago, R.J.,1983
6 A Green, Neurobiologia e psicanalise, in Corpo-Mente, Ed. Casa do Psicologo, SP, 1994
7 Saussumi, Y, A psicanálise hoje é freudiana? in Corpo-mente, op. cit, pg 351.
8 ibid, op. cit.
9 Vaughan, S., A cura pela fala, Objetiva, R.J.,1998
10 Lacan, J., Escrits, Seuil, Paris, 1966