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I - INTRODUÇÃO
Ao apresentar o sentimento de culpa como o maior impecilho ao desenvolvimento civilizatório e atribuir este sentimento como originário do superego e este como sádicamente pressionando o ego, Freud coloca este agente censor como possuidor de uma energia agressiva e formado á partir da identificação com o pai .
É falando deste pai, que Freud inicia o Mal Estar, com a necessidade de proteção que busca a criança no seu desamparo . Assim como a criança espera receber dos pais recompensa ( amor ) por atos de agrado á estes, tambem o ego deseja receber do superego aprovação por suas renuncias pulsionais .
E não podemos dizer que não os receba, pois se no "Mal Estar" este superego é apresentado como censor implacável, no "O humor" , Freud o apresenta como o protetor do ego, o pai que lhe dá amparo e resguardo.
A religião no Mal Estar ocupa esta função de pai. O sentimento oceânico de Roman Rollandd se refere à um Pai imaginário enquanto em "Moisés e o Monoteismo , a referência é ao Pai simbólico. Pai que teve início com a proibi ção de fabricar uma imagem de Deus e continua até nossos dias com suas proibições e exigências de renuncias instintuais, e são estas renuncias ( proibição ao incesto ) que fundam nossa civilização .
Hoje em dia , o que constatamos é a existência de uma sociedade permissiva e este superego que culpabiliza, parece não mais ter como colocar suas exigências ou melhor , as coloca na forma de uma lei, que seria: Goze! Desfrute! A culpa então viria caso você não cumprisse tal ordem, pois você tem que cumpri-la e sentir prazer em fazê-lo. O que na verdade caracteriza escolha nenhuma .
Zizek em artigo bastante atual, nos faz esta importante colocação e nos alerta para a inversão que o superego atual faz desta máxima : Você pode porque deve, para: Você deve porquê pode.
Este superego pós moderno é ele próprio erotizado, "ou seja a própria atividade de regulamentação se investir da libido e transformar-se em fonte de satisfação da libido." ( Zizek no Jornal: A Folha em 25.05.99 ).
Resta saber que mudanças efetivamente produz uma sociedade assim "do tudo é permitido". E a resposta é a que vemos, não diferente do que Freud como profetizava no Mal estar: Destruição da civilização.
II - O MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÂO. DE FREUD AOS NOSSOS DIAS.
Escrito em julho de 1929 em Londres.
O título original seria : A Infelicidade na Civilização. Neste tempo, Freud já sentia os efeitos do câncer, o desconforto da prótese, e sofria de ataques de angina. No mínimo podia como Peter Gay disse, mostrar-se rabugento; contudo, mostrava-se descrente e decepcionado com o ser humano .
Ao confirmar que realmente tinha escrito e acabado este trabalho, na estância de veraneio Berchtesgarden ele fala : " Hoje escrevi a última frase, que encerra o trabalho na medida em que é possível aqui sem biblioteca. Ele trata da cultura, do sentimento de culpa , da felicidade e outras coisas enaltecidas". ( Gay, 1988: 492 ).
Certamente que o Mal Estar é o mais depressivo de seus escritos e ele próprio diz que estaria falando de coisas que seriam do conhecimento de todos e gastando o tempo e a tinta de seus editores .
Freud consegue reunir em O Mal Estar seus escritos mais importantes e de forma inovadora . Possivelmente, pelo fato de sentir-se doente e pela proximidade da morte, O Mal Estar surge como a condensação de uma vida . Também foi neste ano que a bolsa de Nova York se quebrou e instalou a grande depressão. Freud se encontrava em Londres, refugiado da perseguição nazista aos judeus e convivia com a conturbada Europa de entre guerras e, os avanços tecnológicos e científicos da civilização .
Por civilização temos no Dicionário da lingua Portuguesa :
- Conjunto de características própria da vida social , política , econômica e cultural de um país ou região ". (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira ) .
- Vem de civil- relação entre pessoas.
- Cultura : O complexo dos padrões de comportamento ,das crenças das instituições e doutros valores transmitidos coletivamente e típicos de uma sociedade. Vem de Kultur culto , religiosidade .
Assim, em O Mal Estar, Freud estabelece que os caracteres individuais seriam análogos ( em uma concepção bem mais estensa e abrangente ) aos caracteres cultuais. A cultura seria em grande escala o reflexo dos conflitos individuais .
Ao falar do desamparo humano, Freud não vincula a necessidade de religião as experiências do recém nascido que não separa seu Ego do mundo externo. Assim ele diz que a religião e a ética são bens do ser humano, no que o diferencia dos animais e remonta à infância, o desamparo da criança, na sua relação com o pai. Esta fragilidade da criança sobrevive na vida adulta .
A religião não é este sentimento oceânico de plenitude, como diz a seu amigo Roman Rolland . Religião significa religar e sua função seria esta : religar o homem a seu protetor. Homem que continua frágil e desamparado sem seu suporte paterno. Falaremos disto mais adiante .
Nas pessoas em que esta separação entre ego e mundo externo não foi suficientemente bem estabelecida e estes traços mnemicos que incluem o ego na totalidade do mundo, a preservação do acontecido em presente ( Roma quadrata e Roma atual ) haveria uma continuação narcísica .
Aqui , Freud nos remete a intemporalidade do inconsciente e ao falar deste condensamento , do arcaico em atua, também está falando dos " sonhos", via régia do inconsciente e também no modelo de aparelho mental, em neurônios psi e fi, alguns que guardam e outros que retém indefinidamente novas representações .
Fala da teoria edipiana e nos capítulos que se seguem voltará ao " Além do Princípio do Prazer", em pulsão de vida e de morte e " inibição , Sintoma e Angustia ao discorrer sobre o sentimento de culpa .
Freud diz que o ser humano é infeliz . Nossos corpos adoecem , a natureza nos ameaça e nossas relações com os outros são fonte de sofrimento e infelicidade ; contudo, fazemos grandes esforços para afastar estes sofrimentos. Buscamos satisfações substitutivas, diversões poderosas e substâncias intoxicantes que nos tornem insensíveis a estes sofrimentos. Também a intelectualidade seria um meio ( como ele fez uso ) para minorar o sofrer .O melhor destes expedientes seia o trabalho , mas o homem não é muito dado a isto. Nenhuma outra técnica adapta o indivíduo tão solidamente á realidade. E o tabalho seria o caminho para a felicidade, para o bem supremo aristotélico .
A busca da felicidade colocada como anseio universal, fala de um inconsciente coletivo, apesar de que estar falando em inconsciente, ele ( Freud ) já está falando em coletivo.
Estar fadado ao fracasso na busca da felicidade, traduz se p or exemplo no determinismo que o cristianismo coloca: "Você só será feliz na outra vida." Esta vida terrena é de pouco valor. Aqui o ser humano tem que ser bom, justo , honesto, enfim, repressor de suas pulsões mais poderosas, para obter o prêmio da felicidade na vida eterna e celeste. Um embate constante entre seus valores éticos e os valores morais civilizatórios.
O homem tem que responder ao imposto, responder por conta própria e arcar com estas respostas. Ser responsável é tudo o que o homem não desejaria, pois se possível gostaria de viver na satisfação de suas pulsões mais arcaicas .
O homem terá de descobrir por si próprio de que modo específico ele pode ser salvo, o que não lhe é proporcionado pela religião que é uma coerção de massa .
Voltando à resposta que Freud dá a seu amigo dizendo que o sentimento oceânico de comunhão com o mundo não é a fonte do sentimento religioso , pois este sentimento de pleno bem estar vem de um narcisismo primitivo que é obrigado a se deparar com a necessidade de constituir um ego, um mundo diferenciado, exterior e mais importante: porque este sentimento não abraça o principal conteúdo religioso, que é a fusão com o todo e sim a sensação ilusionista de que o mundo externo não é tão agressivo quanto o percebemos, pois temos um Pai Protetor para nos proteger dele .
Nesta relação objetal, que como sabemos é remetida à mãe, parece estranho que Freud situe o pai, que primitivamente nada tem de protetor e é violento, castrador e indiferente ao bem estar do filho .
Em Renato Mezan busquei compreender esta colocação de Freud, quando ele (Mezan) indaga :
De onde vem esta nostalgia do pai, que afirma Freud estar na origem da religião ?
Na verdade, com a barbárie do pai primitivo, o filho sentiria nostalgia é da mãe, pois Freud descreve a relação mãe filho como a única relação humana isenta de agressividade .
Estaria havendo uma inversão de papeis ( da mãe e pai ), quando se passa da análise individual para a análise da cultura ? Na análise individual, a mãe é inofensiva e o pai ameaçador ( Kronos, que comia os filhos ) , enquanto a mãe natureza, na análise cultural é sinistra e ameaçadora ( assim também na teoria de Melanie Klein ) e ao pai ,( Deus Pai ) se atribui uma função protetora. Se nesta perspectiva, a natureza se apresenta como destruidora, a cultura seria então uma luta contra esta natureza. Temos aí uma visão que é: Para sobreviver, o homem terá de dominar a natureza. A cultura aparece como meio que temos para nos protegermos contra a natureza.
E eu concluo : Porem, a proteção deveria ser contra a própria natureza humana, a nossa natureza, pois nada mais cruel e destrutivo do que a natureza do próprio homem.
Mezan faz uma brilhante construção terminando por falar em feminino sobre a ótica da falta ( falta um pênis ) e diz que é esta sexualidade misteriosa que estaria aparecendo no Mal estar como religião. A redução desta religião como algo ilusório, apresentado no Futuro de Uma Ilusão é o mesmo que Freud faz com a sexualidade feminina, coloca Mezan.
Quis apenas fazer este assinalamento sem me aprofundar na questão, para não tornar este trabalho por demais extenso.
Ao dizer que os homens não podem viver sem civilização, mas não podem viver felizes nela, Freud expõe o grande dilema humano; O homem sempre em busca de um equilíbrio entre suas pulsões e os limites culturais. Portanto, a felicidade não está nos planos da criação e a este antagonismo os homens buscam escapar.
De um lado, o amor resiste ao que deseja a cultura e de outro, a cultura ameaça o amor, restringindo-o e impondo-lhe exclusividade. O que a cultura exige é que a libido seja inibida em sua finalidade e seja fortalecida em laços comuns de amizade. Freud coloca que :
"É no desenvolvimento da humanidade como um todo, do mesmo modo que nos indivíduos, só o amor atua como fator civilizatório, no sentido de ocasionar a modificação do egoismo em altruismo. "
( Freud , 1920 : 130 ;grifos meus ).Entretanto indivíduos libidinalmente satisfeitas, não constituem comunidades libidinalmente satisfeitas, se assim fosse a comunidade não teria que inibir a sexualidade. Fica claro portanto este antagonismo e Freud nos dá então uma pista que é a máxima do cristianismo, máxima que trabalha com as exigências ideais impostas ao sujeito tais como:
Amarás o teu próximo com a ti mesmo.
Freud refuta esta máxima e questiona porquê deveríamos agir assim.
Eu amo o próximo quando espelho suas dificuldades nas minhas e também este próximo não é merecedor de algo tão valioso que é o meu amor. Se este mandamento fosse: Amarás o próximo como ele te ama, não haveria objeções, pois este próximo certamente não deseja o meu bem e por mim não se sacrificaria. Assim também por ele eu não teria de me esforçar .
"Na verdade cada vez que Freud se detém como horrorizado diante das conseqüências do mandamento de amor ao próximo, o que surge é a presença desta maldade profunda que habita no próximo "
(Lacan,1968 :277 ;Grifos meus )
- Só nele ? Cumpre-se perguntar .
- Também em mim, cumpre-se responder .
O elemento de verdade por traz disto tudo, o elemento que as pessoas estão dispostas repudiar é que os homens não são criaturas gentis que desejem ser amados e que no máximo defendem-se quando atacados. Pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes pulsionais deve se levar em conta uma poderosa cota de agressividade .
" A evolução da família à humanidade, obra de Eros, fornece um novo alimento a pulsão de destruição. Quanto mais a vida se manifesta , mais as unidades se constróem e, correlativamente, mais a pulsão de destruição encontrará objetos para destruir ."
( Henriquez , 1996 :115 ).A agressividade que originalmente era voltada contra o pai ( no desaparecimento desta imago ) se voltaria contra todos , expressando o conflito da ambivalência. Ao mesmo tempo em que desejando ocupar o lugar do pai, o sujeito remete ao outro algo deste pai e a agressividade contra esta imago parental volta-se contra todos. também poderia ser assim com o amor, como no caso dos santos, no seu amor generalizado pela humanidade.
A exigência da inclinação para a agressão perturba os relacionamentos e a civilização utiliza esforços supremos á fim de estabelecer limites para as pulses agressivas do homem e manter suas manifestações sobe controle por formações psíquicas reativas. Daí o emprego de métodos a incentivar as pessoas a identificações e relacionamentos amorosas inibidos em sua finalidade , pois o campo dos relacionamentos é fonte das mais violentas antipatias e das mais violentas hostilidades entre os homens .
Deste encontro com a agressividade , destruição em nós mesmos é que Freud fala no Mal Estar da Civilização e é isto que não podemos suportar e que é a causa do nosso mal estar .
E o que mais próximo em mim do que este âmago em mim mesmo, do que este gozo do qual não ouso me aproximar ?
"Porquê assim que me aproximo e é este o sentido do Mal Estar na Civilização, surge esta insondável agressividade, diante da qual eu recuo, que retorna contra mim e vem mesmo no lugar da lei esvanecida, dar seu peso ao que me impede de transpor uma certa fronteira no limite da coisa."
( Lacan , 1968 :228 ) .O retorno desta agressividade contra mim se dá através do superego e como " coisa" aqui entendemos o inominável, não representável, o Das Ding, a pulsão de morte.
Em se tratando de bem tudo fica bem. O meu bem e o bem do próximo são do mesmo tecido e Freud fala-nos como se deve amar o filho de um amigo, pois se deste filho o amigo for privado, o sofrimento seria intolerável. Temos aí uma concepção aristotélica que se vê presente em Freud. Este nos fala com tanta sensibilidade das coisas que devemos partilhar, que é o nosso amor, o nosso bem na concepção de Aristóteles.
Se o que quero é o bem do próximo, contanto que este bem seja a imagem do meu, temos que saber que ete gozo malígno, nocivo ( e não estou falando de sadismo pois este é Eros ) é o verdadeiro impeclho para o meu amor à ele e que esse gozo também se encontra presente em mim. O que é este gozo senão a pulsão de destruição? O reconhecimento deste gozo implica a aceitação da pulsão de morte e é por isto tão aterrador, e è este gozo que está em "Além do Princípio do Prazer " e tem este princípio como seu próprio limitador.
Este gozo necessitará de uma lei que variará de indivíduo á indivíduo. A ética seria uma tentativa terapêutica para através de uma imposição do superego alcançar a determinação máxima da cultura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo .
Entre o desenvolvimento individual e civilizatório, Freud fala da formação do superego, esta instância interditora, que existe em cada indivíduo e pode ser percebida na cultura. Se individualmente esta instância foi criada à partir da tragédia da morte do pai primitivo ( falo do desejo de matar , pois como Freud diz, cada menino mata o pai, (não importa se de fato ou não ) e a culpa há de sobrevir .
Para impedir esta violência geral ( o sujeito remetendo à cultura a agressividade que era remetida ao pai ) a civilização reforçará o sentimento de culpa e se esta culpa for tão grande, o indivíduo poderá não suporta-la e na explosão deste sentimento,, o homem será tão hostil à civilização, quanto era na infância a seu pai .
Este processo agressivo do superego é sem limites , nos diz Freud, mas, quando ele nos fala de agressividade devemos esta atentos a imagem do outro,, pois é sobre esta imagem que formamos o nosso Eu . Se somos solidários com o outro somos solidários com tudo que constitue este outro, enquanto nosso próximo na semelhança com o nosso Eu .
É sempre possível unir as pessoas no amor, contudo, com os sacrifícios impostos a sexualidade e a agressividade podemos compreender porque é tão difícil ser feliz na nossa civilização .
A igreja nos diz que somos feitos a imagem e semelhança de Deus e Este é perfeição. Sendo assim, também à mim posso atribuir esta perfeição e consequentemente ao meu próximo e é nesse local, neste nível de homogeneidade que a piedade e a filantropia católica se apoiam. Se somos bons é porque Deus é bom; mas se julgarmos que este Deus nunca existiu diremos que é do homem a responsabilidade por seus atos , julgamentos e decisões e é ele que deve arcar com sua própria vida . Não querendo assumir estas responsabilidades, o homem constroe próteses às quais atribue as responsabilidades por si mesmo. Mas , também é nisto que os ensinamentos religiosos se seguram .
"Se a única razão pela qual não devemos matar nosso próximo é porque Deus proibiu e nos punirá severamente nesta vida e na vida futura , então quando descobrirmos que não existe Deu, e que não precisamos temer seu castigo, certamente mataremos o próximo sem hesitação e certamente só poderemos ser impedidos de fazê-lo pela força terrena ."
( Freud , 1928 : 48 ).Assim, o relacionamento de civilização e religião terá de sofrer uma revisão ou os povos terão que não se desenvolverem, pois o despertar intelectual poderá acarretar destruição, contudo é somente com ele ( despertar intelectual ) que a civilização obterá progresso, ( É o que Freud fala à Einstein em Por quê a guerra ?) quando os homens verificarem serem os responsáveis por si mesmo e poderem obter novas formas de aumentar e reforçar os laços libidinais. A ética religiosa fará inutilmente sua pregação enquanto a recompensa não for obtida cá mesmo na terra .
No Mal Estar Freud coloca que bem e felicidade não devem ser esperados nem do externo ( civilização ) , nem do interno ( nosso psiquismo ). Isto porque sendo o ser humano estruturado pela pulsão de morte, seria somente na tentativa de transformação desta pulsão destruidora que habita em cada um de nós, criar o novo, o belo, o ético, Enfim , numa produção sublimada de nossa capacidade destrutiva poderíamos evitar o holocausto de nossa civilização .
III - CONCLUSÕES
Para podermos falar em Mal Estar na Civilização é imprenscindível que primeiramente possamos falar desta civilização que é o verdadeiro mal estar, senão como situar ou entender o que nos acomete ?
Os textos freudianos "O futuro de uma ilusão e Mal Estar podem ser entendidos como críticos ou denunciatórios e circunscrevem as relações entre religião e ciência. Enquanto a religião seria a grande ilusão, aquela que se colocaria no lugar de uma figura protetora, para que o homem no seu desamparo não se defrontasse com este desamparo final e inominável que é a morte .
Mesmo através da ciência, a dificuldade de confronto com este desamparo persiste , pois se esta está mais apta a promover o progresso do que a religião nos textos do Mal Estar, isto não significa que de um modo ou de outro , a felicidade possa ser alcançada .
A constatação desta impossibilidade, remete-nos a estruturação psicanalítica do indivíduo e ainda mais, se é do desamparo que tentamos nos livrar, é justamente à este desampaaro que a psícanálise nos leva , argumentando que dele não temos como fugir ou engana-lo, seja com drogas , ou meio outro qualquer que séde ou massifique toda uma civilização .
A homogeinização, a própria globalização que firmando esta caracter ística do não pensante, do levado sem reflexão, circunscrito a um plano da não diferença, da totalidade , da permissividade ( de Zizek ), do não visto e sentido, do não singular, dão a medida deste querer não falar do desamparo .
A banalização da morte e por ser o que tem que acontecer, e por isso nem vale a pena falar nela ou dela, são provas irrefutáveis de uma civilização tomada pelo mal estar.
Falar deste desamparo, reconhecer esta castração última, respeita-la , traduzir o horror em palavras, estabelecer relação com a perda e poder dizer dela sem mascaramentos, seria o pensar e respeitar a dignidade humana, dentro das impossibilidades que constitue este humano .
Gostaria de terminar O Mal Estar com a mensageira do Divino: Adélia Prado, em entrevista ao JB de 04.07.99.
"Todo medo é medo da morte, que em última instância é o medo de Deus.
Deus igual a morte, igual a vida. A pessoa que vive a vida inteira com medo de morrer está no fundo com medo de viver.
E o que me impede de viver bem?
È o medo de algo tão grande que chamo de morte e que no fim descubro que é Deus. Essas coisas se confundem. Mas para nós, tão pequenos, tão falhos, tão miseráveis, isto tudo é de uma transcendência tal que me ofusca. Eu tenho medo disso."
VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.
Freud , Sigmund.
( 1929 ). O mal estar na civilização. In: J. Strachey ( Ed ). Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro. Imago, 1969.v. XXI.
( 1927 ). O futuro de uma ilusão. In: J. Strachey ( Ed ) . Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud , Rio de Janeiro. Imago, 1969. v. XXI.
(1922 ) Psicologia de grupo e análise do ego. In: J. Strachey ( Ed ). Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro. Imago. 1969. v. XVIII.
( 1936 ) Por quê a guerra? In: J. Strachey ( Ed ). Edição standart brasileira das obras completas de Sigmund Freud , Rio de Janeiro. Imago. 1969. V. XXII
Lacan , Jaques.( 1986 ).O Seminário. Livro 7. Ética da psicanálise. Jorge Zahar editor. 1988. Rio de Janeiro.
Enriques , Eugene. ( 1983 ). Da horda ao estado. Psicanálise do vínculo social. Jorge Zahar editor.Rio de Janeiro,1990.
Gay, Peter. (1988 ).Uma vida para nosso tempo. Editora Schawarez Ltda. Compoanhia das letras. São Paulo. 1989.
Mezan , Renato. ( 1985 ) Freud, pensador da cultura. Edição Brasiliense . São Paulo. 1990.
Birman, Joel. ( 1997 ).Estilo e modernidade em psicanálise. Editora 34. São Paulo. 1997.
Certeau, Michael de. ( 1990 ). A invenção do cotidiano. Artes de fazer.Editora Vozes . Petrópolis. 4a edição. 1999.