Acheronta  - Revista de Psicoanálisis y Cultura
O mito de Fausto na construção da imagem biográfica de Freud
Pedro Heliodoro de Moraes Branco Tavares

Imprimir página

„Du gleichst dem Geist, dem Du begreifst, nicht mir."
(Te igualas ao espírito que concebes, não a mim).
Goethe, Faust

Não há nada de mais herético ou fáustico na psicanálise que ousar bancar o biógrafo-analista de Freud. Mas não é exatamente isso que propomos com este título-provocação. Entendendo que toda biografia é obra de ficção, tomamos justamente uma figura literária que se produziu a partir de uma existência documentada para revisitarmos as biografias de Freud, compreendendo o quanto a figura de Fausto se faz ali presente, na construção deste nome, Sigmund Freud, e de seus efeitos na cultura.

Freud inaugurou o intento psicobiográfico com ninguém menos que Leonardo da Vinci (FREUD, 1910), e sabemos da face de sucesso deste malogro: uma ingênua argumentação historiográfica onde nitidamente se recria o Leonardo de Freud, mas também a possibilidade de uma produção ficcional de grandes contribuições teóricas a partir deste substrato referencial.

O intento biográfico é, desde então, visto na Psicanálise de forma muito mais advertida, sobretudo ao se ter em mente a questão dos limites interpenetrantes entre o sujeito do enunciado e da enunciação. A velha história do "Quando João me fala de José, fico sabendo muito mais de João do que de José". Esse intento, portanto, talvez alcance sua melhor tradução quando assumido por um psicanalista e literato que se dispõe a elaborar uma biografia de Freud. Falamos de Emílio Rodrigué em seu "Sigmund Freud: o Século da Psicanálise", onde procura resumir a aludida problemática:

O objetivo biográfico é recriar o universo-síntese desse homem, desse sistema, desse sintoma cultural. O ideal seria entrar em sintonia filosófica, filológica, poética, histórica e retórica, como quem afina um instrumento para além da simbiose. É um ideal alquímico, eu sei. Mas, pensem bem, à diferença da História, a biografia é um empreendimento essencialmente identificatório.

Com efeito, a biografia é a arte de ser o outro. Isso, aprimorar a cópula — consusbtanciar-se, ser o outro, com a antecipação da sombra. Essa identificação fascinada e fascinante não se encontra assim, no acaso de uma noite. Provém de uma larga caminhada e, às vezes, penso tratar-se de uma iniciação, da qual a idéia de possessão não se ausenta. A biografia como a possessão sublimada em escrita. (1995, p.35)

A "profissão" de biógrafo poderia facilmente ser incluída como uma quarta entre as consideradas impossíveis pela Psicanálise, a saber: analisar, educar, e governar (FREUD, 1921). É da ordem do impossível por que toca a um real, não a realidade do vivido pelo biografado, mas o real desta pluridimensionalidade a ser representada e a unidimensionalidade da representação. Sendo da ordem deste real, é feito impossível e por isso requer algo do próprio elemento fáustico, como aparece no vocabulário de Rodrigué (universo-síntese, ideal alquímico, consubstanciar-se, possessão sublimada).

De fato, autores tais como Philippe Lejeune compararão o processo biográfico com a idéia do pacto (Le pacte autobiographique) (1975. p. 37) "Como um texto pode ‘representar’ uma vida, é uma questão que os biógrafos questionam-se raramente e que supõem sempre resolvida implicitamente." Sendo, de fato, algo da ordem do impossível, só pode se processar a partir de uma re-criação. Como aponta Villari em sua tese, que nos auxilia justamente a investigar as possibilidades representacionais da biografia como modalidade literária e suas contribuições para a Psicanálise, "O leitor de biografias procura encontrar, sob a forma de ficção, a verdade do acontecido; não se trata de ingenuidade, mas de um pacto de leitura implícito. Desse pacto, surge o recurso à Literatura como campo privilegiado de representação." (VILLARI, 2001)

A modalidade biográfica é, sem sombra de dúvida, uma forma privilegiada de demonstração do que formula Lacan quanto à estreita complementaridade, mais que oposição, entre o ficcional e a verdade, além da multiplicidade de facetas desta última (verdade). Dante Moreira Leire (apud VILLARI, 2001), em seu Ficção, biografia e autobiografia, sustenta que, " Toda biografia é trabalho de interpretação e, portanto, de imaginação criadora." e que "[...] por isso, nenhuma biografia é definitiva, e sempre será possível refazê-la, a partir de dados basicamente iguais, pois todo biógrafo faz viver o biografado, mais ou menos como o ficcionista faz viver as personagens de sua imaginação."

Esta constatação parecia já presente no maior autor de Fausto, naquele que sabe que tanto não se pode deixar de ser biográfico quando se é ficcionista - e aqui começamos a responder o que pensamos dobre a possibilidade do biográfico ao se tratar do tema de Fausto – quanto não se pode fugir às construções ficcionais e inventivas quando o que se almeja é simplesmente a autobiografia. Falamos obviamente de Goethe, e a prova da presença desta constatação é o sugestivo título que escolhe para a sua auto-biografia, a saber Dichtung und Wahrheit, ou seja, Poesia (no sentido inventivo-imaginativo) e Verdade.

Pareceria haver aí, a um leitor desavisado, uma prevenção sobre uma possível invenção, falseamento, mas pelo contrário, Freud irá resgatar uma verdade superior à questão da realidade operatória e sua representação. Trata-se, tanto para Goethe quanto para Freud, que parece colocar-se como seu discípulo, de resgatar a primazia da representação da realidade fantasmática como sendo aquela que realmente importa. Freud, este que estabelece um certo diálogo entre dois dos autores de Fausto que nos servem de referência (Goethe e Mann), irá escrever a Thomas Mann "Die Worte des Dichters sind ja Taten" (apud ASSOUN 1996 p.109), ou seja, algo como "As palavras de um escritor, são seus feitos". E cabe aqui, para mencionar o terceiro de nossos autores, Fernando Pessoa, o que dirá Octavio Paz (1983, p.7) à guisa de abertura para um ensaio biográfico sobre o poeta português: "Os poetas não têm biografia. Sua obra é sua biografia. Pessoa, que duvidou sempre da realidade deste mundo, aprovaria sem vacilar que se fosse diretamente aos seus poemas, esquecendo os incidentes e acidentes de sua existência terrestre"

Assoun chama a atenção para o ato falho de Freud quando, no relatório sobre o Homem dos Ratos, intitula a autobiografia de Goethe Poesia e Ficção em vez de Poesia e Verdade. Se, como diz Lacan, todo ato falho é bem sucedido e este o é na medida em que expõe a posição freudiana frente à questão: "A Dichtung é esta ficção que, desviada da realidade e em tensão com a verdade, produz, no entanto, uma verdade mais « elevada », uma realidade "mais verdadeira que a natureza" (1) (ASSOUN, 1996 p.110). " Dito de outro modo, a concepção freudiana da literatura é tudo menos ‘Ficcionalista’: Entendamos que ela em momento algum concebe a criação literária como um ‘jogo de imaginação’, nisso que o termo comporta de arbitrário. É uma outra posição de verdade" (2) (idem).

A questão, portanto, do biográfico que parte do pressuposto de um substrato dos fatos documentados, presenciados, datados, tem aí sua importância menor em relação ao próprio fato da escrita que reduplica e refaz esta existência supostamente narrada. Toda biografia é, portanto, ficcional, e quando Freud afirma que as palavras do escritor são atos quer dizer que toda ficção é intrinsecamente realização, coroamento de uma posição de verdade. "A Criação literária (Dichtung) é, por natureza e radicalmente, uma ‘ficção’ escrita (Dichtung) que nos permite trazer a expressão de uma verdade (Wahrheit), que sem estas ficções permaneceria improferível." (3) (ASSOUN, 19 96 p.110)

Sem dúvida a obra literária mais citada por Freud ao longo de sua obra é indubitavelmente o Fausto de Goethe. Porém, há que se fazer menção: Fausto é um dos temas com maior número de versões na literatura mundial. Os diversos Faustos de que dispomos na literatura, desde a aparição deste homem "real" entre os séculos XV e XVI, tendem a exceder o histórico Jörg Faust ou Georgius Faustus (designação latina) na medida em que seu enredo e caracteres estruturais lhe são anteriores e já aparecem, se assim pensarmos, desde as narrativas bíblicas. Mesmo assim, não deixa de constituir fato interessante ser, dentre tantas personagens componentes do imaginário moderno, talvez a única, à diferença de Dom Quixote, Hamlet ou Dom Juan, cuja existência física é atestada e documentada.

Arriscamo-nos, a afirmar que um dos princípios que instigaria tanta produção e múltiplas interpretações é o caráter de desilusão da personagem diante das atribuições de sentido e princípios de verdade diante da existência humana. A busca do saber-poder gnóstico é invariavelmente para Fausto o ponto de sua desesperança ou fracasso. É a partir de um saber que falha que surge ou se insurge o Doutor. É de uma impossibilidade que ele é gerado.

Eis um ponto fundamental no saber de Fausto que esposa a advertida-ignorância socrática (sei que nada sei) e a castração freudiana (o limite, a impossibilidade). A dor de Fausto dá-se diante da constatação de uma impossibilidade, de uma falta, porém sua atitude é diversa tanto da denegação perversa, quanto da resignação neurótica ou da forclusão psicótica deste dado. O que aí poderia ser o fim, "deparar-se com a rocha viva da castração", é para este herói o início do drama.

A partir dessa constatação, da falta, do limite, é que podemos entender como se dará nossa articulação com o mito. Não se tratará de interpretá-lo, em primeiro lugar, mas sim de observar suas ressonâncias e consonâncias com a problemática de uma manifestação cultural que lhe é posterior e, acreditamos, até certo ponto, nele inspirada no que toca principalmente ao seu fundador-idealizador. Uma instituição de tamanha repercussão cultural que acaba por reorganizar a concepção que fazemos do humano, mas que, conforme entendemos, já se articulava em toda essa gama de produções sob a égide do doutor pactário. Falamos da Psicanálise enquanto uma prática e uma teoria que surgem, também, diante de um saber que falhou: o saber da Medicina sobre as histéricas.

O corpo das histéricas era o palco de uma paradoxal ruptura entre as noções de verdade e ficção, da insuficiência científica que separava o mundo das afecções da carne do mundo do sofrimento psíquico. Quanto a esses fenômenos, os doutos médicos necessitavam resignar-se, pois o escopo de sua arte perante eles ou vacilava ou sequer os alcançava.

Conforme a pia doutrina cartesiana, que, amparada na premissa divina (res infinita), separa o espírito/mente (res cogitans) do corpo físico (res extensa), ficava, portanto, selado o pacto divisório entre os domínios das ciências e da religião. Pois a Psicanálise vem resgatar o malin génie (Mefistofélico?) que Descartes tão precocemente silenciou, denunciando a incongruência do cogito com a existência. Com o advento do Inconsciente, a máxima cartesiana cogito, ergo sum é invertida e passa, com Lacan, leitor de Freud, a ser assim proferida: "Penso onde não sou, logo sou ou onde não penso".

Talvez daí constatemos as apreciações biográficas, das quais não excluiríamos a autobiográfica (4), que tanto aproximam o pai da Psicanálise da figura do lendário Doutor Fausto, que busca nas vias mais heterodoxas, condenáveis ou ignominiosas um saber que perscrute a inconfessa e enigmática condição humana. Condição crente de ser mundano concebido à imagem divina. De ser civilizado com traços originais de natureza selvagem. De caído do paraíso a partir do contato com o fruto envenenado da árvore do conhecimento, fruto a ser doravante evitado e temido.

É no seu Selbstdarstellung (5) (1925), que Freud admite a importância que teve em sua formação o autor do mais célebre dos Faustos. Atribui a ele o encontro com sua vocação, seu chamado ao exercício profissional. Evoca-o, digamos assim, para justificar sua opção pela Medicina a partir do fascínio e impacto que lhe teria causado a leitura pública do ensaio Fragment über die Natur (Ensaio Sobre a Natureza), proferida por Carl Bernhard Brühl, anatomista e conferencista da Universidade de Viena (GAY,1988).

O referido ensaio de autoria do escritor suíço G. C. Tobler teria sido indevidamente atribuído a Johann Wolfgang von Goethe que, além de autor da mais importante obra da literatura alemã, era também um notável Naturforscher, investigador da natureza. Goethe, ao lado do também herético Charles Darwin, figurava, à época, como o herói do saber, fosse no campo do espírito, fosse no campo da natureza, como se apresentava e talvez ainda se apresente a tradicional dicotomia epistêmica alemã das Geisteswissenschaften e das Naturwissenschaften (6).

Ainda que no mesmo ensaio Freud use o Mefistófeles de Goethe para declarar um aparente conformismo diante de uma limitação humana em relação ao saber, não parece ser ele, nem tampouco seu herói Goethe, um exemplo vivo de vida intelectual constituída a partir de tal constatação. Segundo Mefistófeles, citado por Freud:

"Vergebens, dass ihr wissenschaftlich schweift,
Ein jeder lernt nur, was er lernen kann." (GOETHE, p.1997 vv. 2015-6)

(Em vão vagueais pelas ciências,
pois cada qual só aprende o que pode)

As opções do jovem Sigismund em nada parecem ter a ver com um conformismo diante do conhecimento oculto. Isso já se vislumbrava nas linhas anteriores do estudo autobiográfico, onde comenta suas "inclinações infanto-juvenis" para outras áreas do conhecimento, tais como os estudos da história da Bíblia israelita de Phillipson e do Direito antes da opção pela Medicina. Isso sem falar nos estudos de Filosofia que tomou com Franz Brentano. Não parece forçosa, diante disso, a identificação desse depoimento com a difundida fala que resume a desilusão do Fausto de Goethe, olhando em retrospecto para os seus anos de ávida juventude, diante de tudo aquilo que com tanto afinco e em vão estudou. Em seu gabinete-biblioteca-laboratório, cercado de seus livros, pergaminhos, instrumentos alquímicos e astronômicos e tantos outros baluartes do conhecimento humano, imaginamos Fausto proferindo suas primeiras palavras no drama:

Habe nun ach! Philosophie,
Juristerei und Medizin
Und leider auch Theologie
Durchaus studiert, mit heißem Bemühn.
Da steh’ ich nun, ich armer Tor!
Und bin so klug als wie zuvor; (grifos nossos)
(GOETHE, 1997 vv. 354-9)

(Pois com grande esmero estudei ora Filosofia,
Direito, Medicina
e infelizmente até Teologia.
E cá estou, eu, pobre tolo !.
Tão sábio como dantes.)

O corpo teórico psicanalítico, de fato, muito se confunde com a história de vida daquele que a concebeu e nela deu seus passos inaugurais. É provável que isso se deva a curiosidade popular gerada sobre a vida daquele que tanto ousou teorizar sobre os secretos jardins da alma humana. Mas o que mais ajuda a entender a imensa profusão de obras biográficas a seu respeito é o fato sui generis de empregar e submeter a sua própria existência aos seus estudos e experimentos, analisando seus próprios sonhos, parapraxias e outras manifestações de desejos.

Nessa ânsia pela realização (streben) a partir de sua invenção pensamos o resgate de aspectos do mito fáustico na produção do mito da personalidade de Freud. Ambos, digno de nota, personagens históricas que, após tantas tentativas de reproduções biográficas mais ou menos comprometidas com os acontecimentos registrados, passam a constituir existência autônoma e difusa no imaginário universal.

Antes de causarmos maior estranheza quanto a esta aproximação, cabe fazer menção à epígrafe da obra que pode ser considerada a pedra angular da Psicanálise e que tanto colabora para nossa tese. A Traumdeutung (1900), texto fundamental e fundador da Psicanálise, é uma obra dedicada à interpretação dos fenômenos oníricos, mas também o livro instaurador da estrutura e noção de Inconsciente enquanto sistema psíquico, conceito que bem poderia resumir a problemática desse saber e prática.

Tal obra é precedida da seguinte frase:

Flectere si nequo superos, acheronta movebo.

A frase que assim aparece, enigmática quanto a sua origem e língua de expressão, bem poderia, quanto à sua forma de aparição, introduzir o leitor no mundo enigmático que o livro lhe promete. Vale dizer que o livro, já pronto para vir a lume no ano anterior, teve seu lançamento adiado para o ano da virada secular também como artifício provável de introduzir nos seus leitores uma viragem a partir de um enigma que lhes seria revelado (7).

A frase em latim é extraída de um texto literário clássico: a Eneida, de Virgílio. Trata-se de uma fala de Juno, que se poderia traduzir por: "Se não posso dobrar os poderes superiores, moverei o Aqueronte". O que aí está expresso muito bem poderia sair da boca de qualquer um dos Faustos da literatura.

Fausto apresenta nas suas inúmeras versões literárias um aspecto comum ou algo que lhe é atributo constitutivo: o comércio com o demoníaco, com o infernal, movido por alguma forma ou expressão de soberba ou, dito de outra forma, a manifestação da hybris na busca da realização plena do humano ou do sobre-humano a partir de uma aliança com um poder transcendente ainda que não com a deidade absoluta.

Nesse sentido, a frase de Virgilio expressa uma ruptura com os poderes celestiais, mas também poderíamos entendê-la, contextualizando-a como epígrafe, como a frustração e o abandono dos hautes études (altos-estudos), tais como o Direito, a Medicina e a Teologia, em prol de um envolvimento com o Aqueronte, o rio avernal, a via sinistra de um saber oprobrioso face às ciências luminosas que procuravam elevar o homem e seu espírito pelo esclarecimento (Aufklärung). Para seguirmos na metáfora luzes X trevas, já se tornou lugar-comum designar a empresa freudiana como um aportar a luz (luciferianamente) aos recônditos sombrios, ou iluminar o Aqueronte humano; entenda-se aí a sexualidade ou o inconsciente.

Estas perniciosas metáforas, que de fato apraziam a Freud, são talvez as responsáveis pela qualificação da Psicanálise como uma Tiefpsychologie, ou uma psicologia profunda (das profundezas). O que fez confundir o inconsciente com um "subconsciente", ao qual o psicanalista acederia (ou desceria) tal qual um arqueólogo-ontológico. A região infernal, porém, à qual Freud se refere é a "do desejo repelido pelas instâncias mentais superiores, e que forma o mundo subterrâneo do desejo inconsciente" (GARCIA-ROZA, 1993, p. 19) (grifo nosso). A investigação e conseqüente busca de transformação subjetiva que constitui a empresa de Freud, ele mesmo insiste em representá-la como um pacto funesto cujo preço a ser pago é comparável a de uma danação em vida.

Lembremos que o único registro da voz de Freud – uma declaração à Radio BBC concedida no último ano de sua vida, no exílio em Londres - seu legado acústico que marcará sua existência face ao fim eminente, será marcada justamente pelo alto preço que teve que pagar por sua "fortuna fáustica", a descoberta da Psicanálise:

I started my professional activity as a neurologist, trying to bring relief to my neurotic patients. Under the influence of an older friend and by my own efforts I discovered some new and important facts about the unconscious in psychic life ( …) Out of these findings grew a new science, Psycho-analysis (…) People did not believe my facts and thought my theories unsavoury. Resistance was strong and unrelenting. I had to pay heavily for this bit of good luck. My name is Sigmund Freud. (8)

(Eu comecei minha atividade profissional como um neurologista, tentando trazer alívio a meus pacientes neuróticos. Sob influência de um amigo mais velho e por meus próprios esforços eu descobri alguns fatos novos e importantes sobre o inconsciente e a vida psíquica (…) Destes achados surgiu uma ciência nova, Psico-análise (…) As pessoas não acreditaram em meus fatos e consideraram minhas teorias um dissabor (unsavoury). A resistência foi forte e inflexível. Eu tive que pagar caro por este bocadinho de sorte. Meu nome é Sigmund Freud) (1938, por nós transcrito.)

Essa danação, quando se toma a figura biográfica de Freud, apresentar-se-ia nas inúmeras perseguições e execrações públicas que teria sofrido por parte de mestres, colegas e até mesmo da população leiga quanto às suas teorias. Não ficara livre de represálias e injúrias após tratar de temas tais como sexualidade infantil, histeria masculina, condição humana perverso-polimorfa, impulsos parricidas e incestuosos, psicopatologia da vida cotidiana (ou do homem comum), enfim, em relação a toda a ênfase de suas teorias que retiram o caráter doente, degenerado e imoral do ser humano de um monstro alheio e distante para apontá-lo em seus mais comuns e "respeitáveis" convivas.

Mas, seus biógrafos vão além e, como é o caso de Emilio Rodrigué (1999), apoiado na hipótese de José Schávelzon, chegam a aludir a uma danação fáustica paga com o sofrimento físico de sua complexa, torturante e devastadora doença. O mal provocado pelo uso exagerado do charuto e agravado por uma série de irresponsabilidades, descasos ou trapalhadas de seus médicos, não só abreviou sua existência, como trouxe-lhe décadas de agonia provocadas pelas cirurgias que lhe cerravam o palato e a face, desconforto imenso com as próteses, além da dor lancinante e do fétido odor da morte em vida que sua boca exalava, culminando por afastar de si até mesmo seu estimado cão.

A conexão estabelecida por Rodrigué é cabal na construção da imagem fáustica dessa personagem que, se não teve fim mais trágico que do protagonista do primevo Faustbuch de Spies (1992), foi certamente de maior agonia e sofrimento. Quando se comparam as imagens apresentadas na boca de sua paciente Irma em seu sonho inaugural e paradigmático (o sonho que serve de base e modelo para toda a sua teoria), com as notas do Dr. Hans Pichler, o derradeiro cirurgião de Freud, não podemos deixar de nos impressionar. Inequívoca a relação entre a boca de Irma e a boca de Freud.

Trecho da descrição do sonho da Injeção de Irma:

Traum vom 23/24. Juli 1895 (…) Ich erschrecke und sehe sie an. Sie sieht bleich und gedunsen aus; ich denke, am Ende übersehe ich da doch etwas Organisches. Ich nehme sie zum Fenster und schaue ihr in den Hals. Dabei zeigt sie etwas Sträuben wie die Frauen, die ein künstliches Gebiß tragen. Ich denke mir, sie hat es doch nicht nötig. - Der Mund geht dann auch gut auf, und ich finde rechts einen großen Fleck, und anderwärts sehe ich an merkwürdigen krausen Gebilden, die offenbar den Nasenmuscheln nachgebildet sind, ausgedehnte weißgraue Schorfe (FREUD, 1900, p.111-112).

(Sonho de 23/24 de julho de1895 (...) Fico amedrontado e olho para ela. Ela parece pálida e inchada. Penso: afinal, deixei então escapar alguma coisa orgânica. Levo-a até a janela e examino-lhe a garganta. Ela se mostra um tanto resistente, como as mulheres que usam dentadura postiça. Penso comigo mesmo: no entanto, ela não precisa disso. Então ela abre bem a boca e descubro, à direita, uma grande mancha branca, e em outro lugar avisto extensas crostas cinza-esbranquiçadas sobre notáveis estruturas crespas que evidentemente são modeladas nos cornetos do nariz.)

Uma das notas de Hans Pichler:

26.09.1923: Consulta com o Dr. Hajek. Na primavera desse ano procedeu-se a ressecção radical de leucoplaquia proliferativa, no arco palatino anterior direito. O procedimento, a princípio, com mero propósito diagnóstico, foi estendido bem além do tecido comprometido (...)

"Uma espécie de curto-circuito faustiano ligava a placa branca a seu destino de morte" (RODRIGUÉ, 1995, p. 85) A prótese-dentadura, as formações esbranquiçadas no interior da cavidade bucal, o descaso ou erro médico somados à constatação do próprio autor da teoria e método para interpretação de sonhos de que o sonhador é sempre, além do protagonista, também as personagens coadjuvantes ali apresentadas, tudo isso colabora para o assombro dos que se deixam levar por tais caminhos.

Ou seja, Rodrigué assinala aí que, no momento em que Freud é afortunado, graças aos poderes movidos do Aqueronte, dali começa a marcar-se o tempo para a sua danação. No sonho-pacto está sua glória e sua desgraça futura.

Grande é também a semelhança entre o descaso de Freud ao procurar um médico de reputação medíocre e a ocultação de sua doença em relação a seus familiares com a experiência de Adrian Leverkühn, o Fausto de Thomas Mann (2003) em relação a sua doença. Com Freud, ocorre ainda a atrapalhada ocultação, por parte de seu primeiro médico, a diagnosticar o mal. "Felix Deutsch foi o primeiro em ver o sinal na boca de Freud. Nesse momento, além de seu médico pessoal, era seu paciente. Freud nunca lhe perdoou ter-lhe ocultado a verdade sobre seu possível diagnóstico de câncer." (Villari, 2001) Também Adrian, o Fausto de Mann, teve o "azar" de não ter acesso aos dois primeiros médicos que buscou, o que vem posteriormente designar como intervenção demoníaca, mas deu-se aí por satisfeito e acabou por "cultivar sua doença", que simboliza ao mesmo tempo o pacto e o preço a ser pago em holocausto ao demoníaco pela graça consentida.

Assim como nos Faustos, desde Spies (editor original), ao Leverkühn de Thomas Mann, Freud teve seus anos de criação magistralmente iluminados e conseqüentes anos de danação. Se quisermos ser mais exatos, os anos de inspiração concedidos às personagens, desde o Faustbuch de Spies, primeira obra sobre Fausto, foram em número de vinte e quatro. Pois aproximadamente vinte e quatro anos após a Interpretação dos Sonhos, antes do início de seu martírio (em 1922, ano da viagem à Roma), que durará até sua morte, que Freud curiosamente escreve em carta

No meu caso, o trabalho e as atividades lucrativas coincidem, transformando-me inteiramente em carcinoma. [...] Hoje penso em ir ao teatro, mas é ridículo – é como tentar fazer um enxerto em um carcinoma. Nada pode aderir, e assim, de agora em diante, a duração de minha vida será a da neoplasia (apud RODRIGUÉ, 1995, p. 85).

Como falamos, esta hipótese não é só de Emílio Rodrigué. O psicanalista, literato e biógrafo de Freud lamenta-se de tê-la encontrado publicada por José Schávelzon em seu Freud, Um Paciente com Câncer.

Grande foi a minha agridoce surpresa mais agra do que doce quando descobri que José Schávelzon havia feito esta ligação. Eu pretendia ser o primeiro. Em 1970, escrevi uma novela, Heroína, onde o protagonista, um analista japonês, dissertava em Bariloche sobre o sonho de Irma. Lá eu faço um personagem dizer:
- Então Irma é Freud.
O que é uma boa aproximação, mas não basta para merecer minha placa de mármore!
(RODRIGUÉ apud VILLARI, p. 2001)

No entender de Rodrigué, o sonho de Irma apresentaria o primeiro sinal da doença no corpo de Freud. "O sonho-sintoma teria então um período de incubação de cerca de 20 anos. A cena com Deutsch seria então uma atuação do sonho, na vigília de um colossal resto de sonho ele modela o câncer e faz nascer a Psicanálise." (VILLARI, 2001). Rodrigué não vai tão longe a ponto de dizer que o sonho gera o câncer, mas que, com o sonho, se inicia um processo que, com a ativa colaboração de Freud, fará deste câncer uma conseqüência funesta e provocada. "A tese então é a seguinte: o sonho de Irma não profetiza o câncer: ele o modela. Não é premonitório, mas pré-figurativo. O resto de sonho, segundo a forte expressão de Nasio, ‘penetra no corpo, arranca um pedaço e retorna na boca de um outro...’, que é a de Freud, em 1923." (RODRIGUÉ apud VILLARI, 2001 p.176).

Afinal o primeiro diagnóstico não teria sido do câncer propriamente dito, mas de uma "papilomatose florida oral ou carcinoma verrugoso de Ackerman agravado por fatores neoplásicos como tabaco, fibrose cicatricial, etc." Disso teria evoluído, retificação do pacto, para a doença fatal. "A conclusão, e talvez seja este o final proposto por E. Rodrigué, é que somente no final da vida, e pelo mau tratamento, a lesão transformou-se num câncer maligno. De alguma forma, todo o entorno, incluindo o próprio Freud, teriam contribuído para o final fatal e, de alguma maneira, contribuindo a honrar o pacto." (VILLARI, 2001 p.177)

Mas tratando-se da produção de Freud enquanto um nome (fazer-se um nome), esta parece ser uma questão central: a firmação de seu nome no mundo a partir de seu fazer. Seu legado torna-se seu nome. Quanto ao mencionado pronunciamento à rádio BBC, Freud o sela com a afirmação do mesmo (do nome) a partir de uma língua que já lhe é (duplamente) estrangeira: "My name is Sigmund Freud". Seu nome passa a ser um significante que circula. Deixa de ser um nome próprio e particular, para se tornar um nome comum. Mas Freud não simplesmente recebeu este nome, ele também o fez.

Certamente que falamos aqui da sua fama e reconhecimento, mas também do processo de apropriação de seu nome, sobretudo no momento em que deixa de assinar Sigismund e passa a assinar Sigmund. Nesta mudança, na retirada das duas letras: "trata-se da letra e não do significante; da inscrição diferencial e não do semântico. (HARARI, 2003b p.66). Lacan no Seminário 12 "Problemas cruciais para a Psicanálise" (aula de 06/01/65) dará ao caso a devida relevância e investigará aí a relação com o exemplo paradigmático da grande obra de Freud que vêm a lume na seqüência da Traumdeutung.

Falamos de Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901) e do caso do esquecimento do nome Signorelli. Ali estaria não só o elemento Signor ligado ao Herr, à morte (der Tod) (9) na qualidade do "o senhor implacável", o mesmo que faz as vezes de Mefisto em Jedermann (10). Lacan (1964-5) ressalta ali, em Signor-elli, também a presença do Sig início e apelido de Sig(is)mund:

O que designo, senão o lugar no qual o Herr concerne a Freud ? O que Freud não diz, em sua primeira aproximação, porque a noção ainda não havia emergido plenamente na teoria psicanalítica. Ele não vê que o desconcerto está essencialmente ligado à identificação. Este Herr do qual se trata, que conserva todo o seu horror, que não quer deixar ir mais longe na confidência, é ele identificado a esse personagem médico. O que é que ele perde ? Ele perde algo como a sua sombra, seu duplo, que não é de tal modo o Signor – isto é talvez ir longe demais – Eu estaria melhor assinalando que o O não este perdido. É o Sig-signans-signatum-Sigmund Freud, o lugar de seu desejo enquanto é o verdadeiro lugar de sua identificação, no ponto de escotoma, no ponto cego do olho?

Freud, em sua "revolta" contra o nome outorgado pelo pai, retira o is de Sigismund. O is que se encontra no nome de seu pai Jacob Israel. Aspecto curioso é a questão redundante presente neste nome duplo, pois, de acordo com a bíblia, Israel é o nome que Jacó (Jacob) recebe após lutar (inconscientemente) com Deus durante toda uma noite.

Deus teria dito: "De agora em diante, não te chamarás Jakob, mas Israel; por que foste forte contra Deus...", ao que Jakob demandaria "Diga-me por favor, o teu nome" "Para que perguntas por meu nome? Meu nome não importa por que na verdade nossos dois nomes se unem em ti. E a partir de agora não te vais mais chamar Jakob, mas, pela forma como lutaste, vais ser Israel" (apud HARARI, 2001)

Afinal, Israel significa "Deus lutando com vigor" (11) .Esta construção a partir do biográfico, que reduplica a superação e apropriação feita por Freud do Nome-do-Pai, ou antes, do Nome de seu pai (Jacob Israel) na passagem bíblica da apropriação que o próprio Jacob/Israel teria feito do seu ao lutar bravamente como o seu Pai celeste, é algo que enaltecemos como o elemento fáustico-prometeico. "Efetivamente, no nome legado pelo pai, Freud traça um sulco próprio; feito isso, cabe afirmar que desenha uma estrita mudança heteronímica" (HARARI, 2001 p. 82).

A heteronímia, por sua vez, é ponto que estará presente num autor de um Fausto (12): Fernando Pessoa. O processo de se fazer outro pela nominação do real é algo que se demonstra nesta operação. Freud se fará um nome por esta mesma operação heteronímica que rebatiza inclusive seu "narcisismo" (13).

E se podemos nos permitir seguir nesta trilha aberta por Lacan e seguida por Harari, ao observarem esta operação que Freud faz com seu nome, gostaríamos de propor também nossa observação. Entendemos haver uma ligação nessa construção com a hipótese do pacto fáustico de Freud, na passagem do Sonho de Irma para a doença fatal.

Propomos, portanto, uma ligação de algo que está no exemplo paradigmático de cada uma das duas grandes obras de Freud: A Traumdeutung (A Interpretação de Sonho/dos Sonhos) (1900) e Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901), que certamente foram em algum momento co-presentes no processo de escritura. Em ambos os casos, Freud toma a si como "cobaia" e "laboratório", produzindo algo a ser difundido, mas a partir do seu nome.

Explicamos: é que de seu nome, Sig-Mund, até o momento só se tratou da primeira sílaba Sig, mas parece estranho que ninguém se concentre na segunda: Mund, levando em consideração o seu significado como substantivo comum na língua alemã, a sabe, boca. Sim, Mund denota boca, a mesma que no sonho de Irma se escancara para mostrar a maravilha da descoberta psicanalítica e o horror da doença que se esburaca em Freud, em sua boca, alimentando seu vício (fumo) e torturando e matando-o lentamente pelo carcinoma e pelas trapalhadas médicas.

O interessante, ainda, é que em variações do idioma ou do nome Sigmund (Siegmund), Si(e)g também tem um claro significado, a saber, o de vitória. Cabe lembrar que o grito de guerra dos nazistas que expulsam Freud de sua Viena propalavam: Sieg heil, sieg heil! A questão é saber se o Si(e)g-Mund a "boca da vitória", no fazer-se um nome, significou a vitória da morte (do Herr/Signor) ou a vitória sobre a morte. Sua cura (Heilung) não tendo sido alcançada no nível do pessoal, deixou como vitória (Sieg) um revolucionário tratamento clínico (Heilbehandlung) que tirou do foco a atenção ao escópico da clínica médica, instaurando um novo paradigma de tratamento, pela fala, e portanto: oral (mündlich).

Notas

1 - La Dichtung, c’est cettte fiction qui, en écart avec la réalité et en tension avec la vérité, produit néanmoins une vérité plus "haute", voire une réalité "plus vraie que nature"  »

2 - « Autrement dit, la conception Freudienne de la littérature est tout sauf « fictionaliste » : Entendons qu’elle ne conçoit nullement la création littéraire comme un « jeu d’imagination », avec ce que le terme comporte d’arbitraire. C’est une autre position de la vérité »

3 - "La création littéraire (Dichtung) est foncièrement et radicalement une ‘fiction’ écrite (Dichtung), qui permet de porter a l’expression une "vérité" (Wahrheit) qui, sans cette fictions fût restée improférable »

4 - Referência à Selbstdarstellung de Sigmund Freud.

5 - Traduzido como "Um Estudo Auto-Biográfico"

6 - Respectivamente as Ciências do Espírito (as que chamamos de Humanas) e as Ciências da Natureza.

7 - Com essa idéia de que a descoberta ou teoria freudiana quanto à natureza dos sonhos teria um caráter de revelação colabora a indagação que se faz em carta a Wilhelm Flies quando comenta o sonho-chave da referida obra, o Sonho da Injeção de Irma: "Você acredita que algum dia será colocada, nesta casa, uma placa de mármore com a seguinte inscrição? - Nesta casa, em 24 de julho de 1895, o segredo dos sonhos foi revelado ao doutor Sigmund Freud" (apud GARCIA-ROZA, 1993, p.21)

8 - Eu comecei minha atividade profissional como um neurologista, tentando trazer alívio a meus pacientes neuróticos. Sob influência de um amigo mais velho e por meus próprios esforços eu descobri alguns fatos novos e importantes sobre o inconsciente e a vida psíquica (…) Destes achados surgiu uma ciência nova, Psico-análise (…) As pessoas não acreditaram em meus fatos e consideraram minhas teorias um dissabor (unsavoury). A resistência foi forte e inflexível. Eu tive que pagar caro por este bocadinho de sorte. Meu nome é Sigmund Freud.

9- Cabe lembrar que a Morte, é em alemão substantivo masculino der Tod e é tradicionalmente representada pela personificação de um homem.

10 - Jedermann (Todo-Homem), é uma típica encenação germânica medieval que mereceu sua mais célebre versão literária do austríaco contemporâneo e concidadão de Freud Hugo von Hofmannstahl em 1911: Jedermann Das Spiel Vom Sterben Des Reichen Mannes. Com traços claros do drama de Fausto, neste, o personagem epônimo se vê entre Deus, o Diabo e a Morte personificada e de sua impossibilidade face à finitude humana.

11- O elemento Deus não está em IS mas em EL como em Daniel, Rafael, Samuel, etc.

12 - Fausto – Trajédia Subjectiva.

13 - Curioso ponto quanto à terminologia: Freud, ao elaborar a sua teoria sobre o Narcisimo, também tira o IS de Narzissismus - forma mais habitual de referência ao mito grego na língua alemã - rebatizando o termo Narzissmus.

Referências:

ASSOUN, Paul-Laurent. Littérature et Psychanalyse. Paris : Ellipses, 1996.

FREUD, Sigmund. Die Traumdeutung in Gesammelte Werke – Chronologisch Geordnet. Frankfurt am Main: Fischer Verlag, 1900 / 1999.

FREUD, Sigmund. Eine Kinderheitserinnerung des Leonardo da Vinci, in Studienausbage. Frankfurt am Main: Fischer Verlag, 1910 / 2000.

FREUD, Sigmund. Massenpsychologie und Ich-Analyse, in Studienausbage. Frankfurt am Main: Fischer Verlag, 1921 / 2000.

FREUD, Sigmund. Selbstdarstellung, in Gesammelte Werke – Chronologisch Geordnet. Frankfurt am Main: Fischer Verlag, 1925 / 1999.

FREUD, Sigmund. Zur Psychopathologie des Alltagslebens, in Gesammelte Werke – Chronologisch geordnet; Frankfurt am Main: Fischer Verlag, 1901/1999.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.

GAY, Peter. Freud: Uma Vida para Nosso Tempo. São Paulo: Companhia das Letras, 1988 / 1999.

GOETHE, Johann Wolfgang von. Faust I und II. Colônia: Könemann, 1997.

HARARI, Roberto. O que Acontece no Ato Analítico? - A Experiência da Análise. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2001.

LACAN, Jacques. Le Séminaire – Livre XII – Problèmes Cruciaux pour la Psychanalyse. (inétido), 1964-65.

LEJEUNE, Philippe. Le pacte autobiographique. Paris: Seuil, 1975.

MAHAL, Günther. Faust – Die Spuren eines geheimvollen Lebens. Reinbeck bei Hamburg: Rowohlt Taschenbuch Verlag, 1980 /1995.

MAHAL, Günther. Faust-Museum Knittlingen. Braunschweig : Georg Westermann Verlag, 1996.

MANN, Thomas. Doktor Faustus. Das Leben des deutschen Tonsetzers Adrian Leverkühn erzählt von einem Freunde. Frankfurt am Main: Fischer Verlag, 1947 / 2003.

MARLOWE, Christopher. Doutor Fausto – The Tragical History of the life and Death of Doctor Faustus (Edição Bilingue). Sintra: Publicações Europa América, 2003.

PAZ, Octavio. Fernando Pessoa – O Desconhecido de Si Mesmo. Lisboa : Vega, 1983.

PESSOA, Fernando. Fausto – Tragédia Subjetiva, Organização de Teresa Sobral Cunha. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1991

RODRIGUÉ, Emílio. Sigmund Freud – O século da Psicanálise: 1895 – 1995. Volume 1, São Paulo: Escuta, 1995.

SCHAVELZON, José. Freud. Un paciente con cancer. Buenos Aires: Paidos, 1983.

SPIES, Johann (Editor). Historia von D. Johann Fausten – Dem Weitbeschreybten Zauberer und Schwarzkünstler. Stuttgart: Reclam, 1587 / 1992.

VILLARI, Rafael A. Imagens de Freud – Biografia e Representação. Tese de Doutorado em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2001.

Volver al sumario del Número 25
Revista de Psicoanálisis y Cultura
Número 25 - Diciembre 2008
www.acheronta.org