Acheronta  - Revista de Psicoanálisis y Cultura
O discurso psicanalítico sobre a histeria,
de 1910 a
2002; uma revisão
corpo, sintoma e caráter na história da psicanálise
Gustavo Adolfo Mello Neto

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Resumo

O presente artigo tem como objetivo apresentar revisão da produção psicanalítica em torno da histeria, ao longo dos últimos 70 anos. Para isso recorremos a artigos indexados pela APA (American Association of Psychology), registrados no PsycInfo, material esse que faz parte de pesquisa em andamento intitulada Histeria ainda. Como se trata de primeiro momento da pesquisa maior, baseamo-nos principalmente em resumos.

Enquanto resultados, tratou-se de mostrar as diversas discussões, sejam elas conceituais, inovadoras, de criação da própria psicanálise, de mudanças ou sejam elas revisões, enfoques históricos, epistemológicos, clínicos e outros, a partir do discurso sobre a histeria.

Palavras chave: histeria, psicopatologia, psicanálise, história da psicanálise,

Summary

This article aims a revision of the psychoanalytic production about hysteria, through the last 70 years. For that purpose, we referred to the APA (American Assotiation of Psychology) indexed articles, registered at PsycInfo, a material which is a part of a ongoing research entitled Hysteria Still. As it is a first step of a larger research, we based the text mainly on abstracts.

As results, it dealt on showing the several discussions, some of them conceptual, innovative, about the creation of the psychoanalysis, about changes or revisions, historical focuses, epistemological, clinical and others, starting off from the debate over hysteria.

Words key: hysteria, psychopathology, psychoanalysis, history of the psychoanalysis.

 

Agradecimentos

Ao CNPq, pela verba de fomento atribuída; e ao Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá, pelo apoio financeiro

 

Este artigo surgiu a partir do projeto de pesquisa intitulado "Histeria ainda" , cujo objetivo é o de mapear e analisar o discurso pós-freudiano sobre a histeria, decompondo-o em temas. Isso tem sido feito tomando como ponto de partida a leitura de artigos indexados pela Associação Americana de Psicologia e registrados no seu banco de dados, o PsycInfo.

A proposta se justifica enquanto histórico-epistemológica pelo fato de que o discurso sobre a histeria esteve todo o tempo como pano de fundo na criação da psicanálise por Freud (e Breuer). Contudo, de "enfant gaté" da psicanálise —no princípio do século e nos finais do séc. XIX, desde o estágio de Freud com Charcot —, a histeria, a partir dos DSMs e da influência que eles possam ter sobre a prática psicanalítica, passou a ter o seu status questionado. Ao mesmo tempo, com todo o percurso teórico psicanalítico, também a etiologia e descrição da histeria foram sofrendo modificações consideráveis. Interessa, pois, esse percurso à discussão da psicanálise como ciência e interessa à sua historiografia.

Do mesmo modo, interessa ao clínico praticante saber do "estado da coisa", saber como era e que direção toma esse debate. Ora, antes de mais nada, é um debate clínico. É desse modo que propomos esta revisão de textos como bastante útil seja ao teórico, seja ao praticante e, melhor ainda, aos dois unidos na figura do psicanalista. É assim que propomos este artigo como uma contribuição imediata que a universidade tem condições de dar à prática da psicanálise.

Antes da leitura propriamente dita dos artigos em si, o que fizemos foi um exame dos resumos. Trata-se de um conjunto de 860 referências, acompanhadas de resumos. Como já achamos muito útil a própria revisão desses resumos, pensamos em publicá-la, antes mesmo do exame dos artigos em si (o que ainda estamos realizando). O texto que ora apresentamos, portanto, é baseado no exame dos resumos de artigos sobre a histeria, publicados de 1910 a 2002. O leitor verá que os resumos permitem uma imediata visão do todo, mais rápida e mais totalizante que os textos inteiros. A eles, pois.

No início do século XX, os temas abordados com assiduidade eram os relatos de casos clínicos, geralmente acompanhados da descrição dos tratamentos utilizados. Também havia o relato da utilização de hipnose como técnica para o tratamento da histeria, e, em conseqüência, o abandono da mesma. Vejamos alguns títulos: "Experiências recentes no estudo e tratamento da histeria no Hospital Geral de Massachusetts", de Putnam (1907), ou, ainda, "Um estudo psicanalítico de um caso severo de histeria", de L. E. Emerson, de 1913, que é médico no mesmo hospital de Massachusetts. Tem-se, ainda, o texto de K. Brousseau, de 1923; "O efeito da sugestão num caso de histeria traumática", .

Durante esses primeiros 20 anos, tem-se que a própria ainda está surgindo e com ela o discurso em torno da histeria. Não só isso, o discurso psicanalítico ainda está começando a ser divulgado. É assim que encontramos uma tradução do Caso Dora para o francês em 1928, na Revista francesa de Psicanálise, que já existe então. Têm-se também autores que se tornaram clássicos, como W. Reich, com o artigo "Uma psicose histérica em status nascendi", de 1927. Reich 2, por sua vez, cita Rank e Ferenczi. Têm-se, então, artigos de diagnóstico e, sobretudo, aqueles que buscam mostrar um sintoma como histérico e explicá-lo psicanaliticamente.

Alguns textos: "Diagnóstico psicanalítico em um caso de gamofobia [horror a casamento]", de 1930. Segundo o resumo, o autor, D. Feigenbaum, faz recomendações acerca do uso do termo "diagnóstico psicanalítico" e apresent a um caso de histeria de angústia. Encontramos também, por exemplo, o livro de W. Unger, intitulado Diagnóstico diferencial das psiconeuroses, neuroses funcionais, e estados de exaustão (1927), escrito em alemão, mas publicado em Oxford. Ali já encontramos expressões como "caráter nervoso [neurótico?]", referida a Adler, "neurose de órgão" , "neuroses viscerais", histeria como reação histérica e como caráter histérico. Entre os sintomas, aparecem sobretudo a epilepsia, a enxaqueca combinadas com o fenômeno da nervosidade, "combinação de distúrbios corporais e mentais". Fala também de técnicas diagnósticas, tais como anamnese, estudo da constituição corporal e mental, assim como estudo do sistema nervoso visceral, etc.. Esses estudos ao mesmo tempo médico-somáticos e psicanalíticos vão se repetir, como mostra J. Ajuriaguerra em artigo de 1951.

Têm-se também artigos em que a histeria aparece referida, mas são textos de divulgação da psicanálise, como aquele do próprio Freud, publicado em 1910, intitulado "A origem e o desenvolvimento da psicanálise". Trata-se, possivelmente, de um produto de suas conferências nos Estados Unidos.

Tudo junto parece nos mostrar um misto de divulgação da psicanálise, e não somente nos textos que o fazem expressamente, de conquista e de construção da teoria. A conquista parece ser o mais interessante, a conquista do campo da patologia pela psicanálise, através de divulgação, descrição e teorização de outros autores para além do texto freudiano. Há, pode-se supor, mais de um campo a ser conquistado. Digamos que há o campo médico e outro. O campo médico é o que estamos vendo, sobretudo quando o diagnóstico diferencial busca mostrar que certas manifestações somáticas podem bem ser histéricas e, portanto, objeto da psicanálise. O outro campo é variado, mas veja-se este título do pastor Pfister, de 1928, "Religiosidade e histeria". Segundo o resumo, o texto, que está em alemão, contém comentários sobre "o culto histérico da Madonna".

Nos anos 30, a conquista, digamos, continua. A grande parte dos artigos parece focalizar temas sobre a histeria relacionados com outras "doenças", como a tuberculose, fobias em geral, cegueira etc. Os sintomas conversivos eram constantemente discutidos, sendo essas doenças geralmente consideradas como conversão histérica. Além disso, iniciavam estudos que, seja como for, revisavam a teoria freudiana, com algumas críticas. Entretanto, em geral, apontavam-se as contribuições desta teoria para o estudo das patologias ditas mentais.

Vejamos alguns títulos "enquadrando" o campo patológico: "Um estudo psicanalítico de um caso de amaurose histérica" (Marui 1933). Como se sabe, a amaurose é uma cegueira total ou parcial cuja lesão não é localizável ou facilmente localizável 3. Ao buscar outros, encontramos o importante artigo de Franz Alexander, "Psicanálise e medicina", de 1932. Chama a atenção o nome da revista, "Higiene mental", que publicou o artigo, o que nos remete às relações entre o higienismo médico e a psicanálise, principalmente em países como o Brasil4. Vejamos algo do conteúdo do resumo. Diz-se ali: "A psicanálise tem ocupado uma posição duvidosa, nos anos recentes, porque ela mesma não se tem decidido quanto ao "onde" ela pertence". Isso, pois, muito claramente vem de encontro à idéia de conquista, de que aqui se fala, conquista de territórios, de "ondes". Ela teria começado justamente revelando a histeria. Com a associação livre, de um lado, e a hipnose, de outro, ela tornou-se a ciência que "descreve o funcionamento mental em termos de mecanismos e dinâmica". É, então, que entra em cena o fenômeno da resistência, não somente no tratamento, mas do público em geral e, sobretudo, do campo científico. Essa resistência que, a princípio é emocional, transforma-se em coisa intelectual. O conselho ao médico, então, é de conhecer sua própria personalidade e poder levar o paciente à associação livre, libertando-o de seus sintomas.

Em artigo de 1936, também de Alexander, cujo título é "O valor médico da psicanálise", fala-se principalmente nas "contribuições da psicanálise para o conhecimento das relações psicossomáticas", fala-se na extensão que teria a histeria de conversão no campo das doenças orgânicas, propõe uma etiologia esquemática dos distúrbios psicogênicos de órgão: o autor diferencia as forças psicológicas e biológicas em três categorias, que são a de incorporação, eliminação e retenção. Em 1984, vamos encontrar outro artigo semelhante, do mesmo autor5, que se chama "Aspectos psicológicos da medicina", que usa expressões como "medicina psicossomática", "neurose de órgão", "distúrbios psicogênicos de órgão ".

Na década seguinte, o debate sobre os sintomas conversivos continua, aparentemente, nos mesmos moldes. Não é a abordagem que parece mudar, mas os tipos de sintomas escolhidos. Agora se trata sobretudo de frigidez, impotência, alergias dermatológicas, amenorréia, anestesias, paralisias, histero-epilepsia, eritrofobia. Há também um curioso artigo, de Needles (1943) sobre o estigma histérico aparecendo numa sessão de análise. No caso, tratava-se de uma descoloração das mãos de um jovem paciente. Continuando com a década de 40, é interessante notar que o tratamento pela hipnose é ainda utilizado em psicanálise. Vejamos, por exemplo, o texto de L. R. Wolberg, de 1945, que se intitula "Um mecanismo de histeria elucidado durante a hipno-análise". O autor relata um caso em que usou, ao mesmo tempo, livre-associações e hipnose para "descobrir e corrigir" um trauma visto como causa de uma anestesia histérica num paciente alcoólico.

No mesmo ano, tem-se, o artigo "Hipno-análise num caso de sonambulismo histérico", de R. M. Lindner (1945). O sintoma é explicado em termos da 2ª tópica, de maneira que o sonambulismo surge aí como mecanismo protetor contra as pressões do id e as demandas do superego. A fantasia de base é interpretada como de uma homossexualidade latente, pintada de sadismo e relacionada à angústia de castração composta de forma pré-edípica e transformada em sintoma. De mais interessante está que a hipno-análise aí é defendida como técnica que abreviaria a duração do tratamento. propiciando ab-reação e revivescência. Talvez não seja por coincidência que hipnotismo e sugestão, de Freud (1888) —prefácio à "De la suggestion et ses applications à la thérapeutique", de Berheim,— é traduzido para o inglês em 1947. Infelizmente não se relaciona o nome do tradutor. Do ponto de vista do diagnóstico diferencial, a comparação da histeria com a esquizofrenia surge mais de uma vez. Um dos artigos é de Karl Abraham, de 1946, que aparece na Revista de Psicoanalisis, da Associação Argentina de Psicanálise. Trata-se, segundo o resumo muitíssimo breve, de mostrar diferentes estruturas por meio das qualidades psicossexuais das duas patologias.

Na década de 50, o trabalho de "colecionar" sintomas analisados continua. Tem-se, por exemplo, sintoma de diarréia, de úlcera duodenal, de impotência/frigidez, bócio exoftálmico, alguns casos de histero-epilepsia. Há também alguns artigos que voltam a diferenciar a histeria da esquizofrenia. Mas o que mais salta aos olhos, entre 1950 e 1960, é a freqüência de textos sobre a histeria de angústia.

Tem-se, além de tudo, a discussão do tratamento da histeria de angústia. Lucy Jones, em artigo de 1954, fala de um ego capaz de suportar as manifestações pulsionais, mas somente até o ponto em que a satisfação arrisca-se à punição. A perseguição dos objetivos pulsionais para além desse limite teria como uma possível conseqüência a angústia; e descreve tratamentos detalhados.

Outro exemplo é o artigo de François Perrier, intitulado "Fobias e histeria de angústia" (1956), em que o autor considera que a angústia seria um estado que intervém entre uma perturbação das antigas relações imaginárias e o estabelecimento de novas, o que envolveria desamparo passivo e problemas de identidade. Essas relações imaginárias estariam em torno de um eu também imaginário e narcísico. Importante dizer que Perrier representa a primeira geração simpática às idéias de Jacques Lacan (Roudinesco e Plon, op. cit.). Trata-se de uma geração que está criando conceitos.

Uma temática que também chama a atenção, pela freqüência, nos anos 50, é a das relações entre histeria e oralidade. De interessante está um artigo de Judd Marmor, de 1953, publicado no primeiro número do Journal of the American Psychoanalytical Association, intitulado "Oralidade na personalidade histérica". É interessante porque, além do problema da oralidade, traz a temática da personalidade histérica. Não se trata de termo novo. O próprio Freud o utilizou em "Três ensaios...", mas o que mais chama a atenção é que isso vai ser preponderante a partir dos anos 70, tanto uma certa redução da discussão sobre a histeria à discussão sobre a personalidade histérica (hoje histriônica) como as relações entre histeria e oralidade.

Marmor propõe o que os autores do resumo chamam uma reavaliação da psicodinâmica do caráter histérico. Essa reavaliação é feita através da idéia de fixação oral. Não fica claro no resumo porque fala em reavaliação. Podemos supor que se trata de retirar o foco do complexo de Édipo e de castração e pensar, como fez Abraham em relação à melancolia, em regressão mais precoce.

Para Marmor, a predominância oral levaria a que o complexo de Édipo do histérico (é interessante como da expressão caráter histérico há um deslize para o substantivo "histérico") tem como molde algo de fortemente pré-genital. Haveria, então, uma proximidade bem marcada entre histeria e adições, certos tipos de depressão e esquizofrenia. A dependência, receptividade e passividade são culturalmente femininas e aí estaria a explicação da freqüência da histeria em mulheres. A diferenciação entre uma oralidade neurótica ou psicótica seria relativa à força do ego "balance between ego stress and ego strength".

As idéias que giram em torno de expressões como somatização, psicossomática continuam a ser relacionadas com a histeria. Depois do artigo que mencionamos acima, de Franz Alexander, de 1936, encontramos na década de 40 em torno de 5 artigos em que essas expressões aparecem e 4 na década de 50. De chamativo está que a idéia de uma medicina psicossomática parece estar então bem firmada. Isso é possível ver já nos títulos. Em 1946, podemos notar que o periódico Psychosomatic Medicine 6 está em seu oitavo volume. Se se trata de revista anual, é possível que a sua fundação tenha sido em 1938. Nos anos 50, encontramos o Zeitschrift-fuer-Psychosomatische-Medizin-und-Psychoanalyse (o n. 5 é de 1958). Nem sempre o fato de um artigo estar numa revista explicitamente de medicina psicossomática fá-lo empregar essa terminologia e, ao mesmo tempo, o fato de estar classificado sob a expressão terapia psicanalítica obriga a psicanálise a estar de fato presente. É caso, por exemplo, de "O papel das áreas disparadoras somáticas nos padrões de histeria", de Janet Travell e Nolton Bigelow, de 1947, que examinamos inteiramente. Trata-se da apresentação de 3 casos, dos sintomas, tais como musculares, cutâneos, respiratórios, visuais, para os quais não se encontrou explicação no plano orgânico. Seriam portanto psicógenos? Não dizem os autores. O que afirmam é que se trata de padrões de histeria que são tidos como espécies de reflexos referidos a certas áreas ditas disparadoras somáticas. Nessas áreas, por exemplo, um músculo, faz-se infiltrações de procaína. O resultado, segundo os autores, é que o sintoma "desaparecia". O contrário também era feito. Um músculo, por exemplo, por estimulação elétrica era "levado" a causar, em outro lugar, uma dor referida. En passant, isso nos faz lembrar Charcot duas vezes: uma pela idéia de "zonas histerógenas"; outra pela reprodução "experimental" da histeria. Vai-se ver mais adiante como as idéias em psicopatologia estão ligadas a sua própria história.

Ao mesmo tempo, encontramos na mesma revista um artigo cujo próprio título obriga a presença do universo psicanalítico: "O papel da transferência no tratamento de um paciente com conversão histérica", de Beulah Bosselman, de 1946. É também o que encontramos no artigo do dinamarquês Oluf Brueel (1959), intitulado "Sobre o complexo de Eletra". O autor analisa o caso de uma mulher de 26 anos e aí interpreta sentimentos incestuosos. Mas, mais que isso, busca mostrar semelhanças entre as reações da paciente e tabus de povos primitivos.

Há, portanto, sob a expressão medicina psicossomática uma certa amplitude e, ao mesmo tempo, uma certa indefinição.

O que está aí em questão é, mais essencialmente, o conceito de somatização. Isso nos obriga, de algum modo, a recorrer rapidamente a um texto bastante atual, assinado por Christian Marin e Raphaël Carron, de 2002, e que pudemos examinar inteiro.

Segundo os autores, o conceito de somatização parece sem problemas e desde há muito na moda. Entretanto, ele traz uma polissemia, uma multiplicidade de significações muito problemática e laços com a histeria tanto históricos como pouco claros. Além disso, traz o sempre insolúvel problema corpo-mente.

Quem primeiro teria usado a palavra somatização teria sido Stekel, nos anos 20. Melhor que isso, teria sido J. Van Teslaar, ao traduzir a expressão "linguagem de órgão", do alemão para o inglês, quem utilizou o termo somatização, em 1925. Com "linguagem de órgão", Stekel está explicando a conversão. Em 1935, o próprio Stekel escreve "Somatisationen", aceitando o termo de seu tradutor e o consagrando. Mas é somente em 1950, segundo Marin e Carron (op. cit.), que o termo volta a reaparecer e o faz no CID-6.

Não podemos concordar inteiramente. Acabamos de mostrar a recorrência do termo nos anos 40, até mesmo em título de revistas, mas a entrada no CID dá-lhe, digamos, oficialidade psiquiátrica.

No CID-6, "somatização" está sob a rubrica "Psiconeuroses". No CID-8, de 1967, o termo desaparece, assim como a palavra psiconeurose, em proveito de "problemas físicos de origem psicogênica presumida". No CID-9, de 1977, isso é substituído por "disfunções fisiológicas secundárias a causas mentais". O DSM-II, da APA, de 1968, fala de problema psicofisiológico e parece referir-se às definições do CID-6, ligadas à psiconeurose, mas estende o conceito para patologias orgânicas, como úlcera péptica, colite ulcerosa etc.. Isso parece seguir a linha de Franz Alexander que, como anotam Marin e Carron (op. cit.), lidera um movimento nesse sentido. No DSM-III, enfim, de 1987, reaparece o termo como "transtorno de somatização" e, ainda, "transtorno de conversão", como diferentes. O que se tem, então, como resultado é uma grande indefinição. A maior delas é a relação da "somatização" com a histeria.

Seja como for, o nosso levantamento leva-nos menos a uma crítica à indefinição, mas a vê-la do ponto de vista da variedade de fontes de conhecimento com que se vai criando a psicossomática. É a psicanálise, de um lado, a propositora, e de outro, a própria história da psiquiatria e a experiência médica que vão introduzindo uma certa impossibilidade de unidade conceitual. Mas, talvez e ao mesmo tempo, introduza riqueza de conceitos, métodos e experiências.

Vimos esse texto de Marin e Carron e dissemos que ele está em Évolution psychiatrique. Chamamos a atenção para o fato de encontrarmos um texto semelhante de Parcheminey, mas de 1948, contido na Revue française de psychanalyse. O texto se intitula "A problemática do psicossomático". Ali o autor discute a idéia de que haveria em Freud uma medicina antropológica, às voltas com a problemática do dualismo corpo-mente. Georges Parcheminey é um dos fundadores da revista Évolution psichiatrique...

Se nos anos 40, principalmente, diversos artigos relatam casos clínicos para apresentar a conversão como o elemento indicativo da histeria, mais adiante podemos ver que os artigos apresentam um entrelaçamento entre conversão, somatização e, posteriormente, hipocondria. O artigo " Conversão histérica e hipocondria", de José Bleger (1979) é ilustrativo.

O interessante dessa espécie de indicativos da histeria é que, em todos eles, é o corpo que se manifesta, seja com a belle indifférence, da conversão, seja com o sofrimento somático, como sinal do psíquico, seja, enfim, com o excesso da hipocondria. Alguns autores sustentam que a histérica foge e se esconde de qualquer possibilidade de satisfação sexual, outros afirmam que ela avança com seu corpo pelas vias da sedução. Corpo sexualizado, ou dessexualizado, corpo doente sofrido ou doente indiferente, o corpo da histérica, seja pela linguagem da indiferença, da dor ou da doença é, de todas maneiras, um corpo que se comunica e tem um público a quem se dirigir.

Nos anos 60, passemos a eles, ainda encontramos a preocupação em torno de diagnosticar, descrever e interpretar as conversões. É assim que vemos artigos sobre cefaléia, como aquele de P. Bourdier (1962), em que o autor discute a dor de cabeça infantil como um método de dizer "não", exprimindo dificuldades "caracteriológicas" em que se relacionam a palavra reprimida e o gesto hiperexpressivo. Fala em histeria e em formulações psicossomáticas. Mas o que mais chama a atenção, e trata-se de algo relativamente novo, é a ênfase sobre a personalidade histérica 7. E o discurso sobre a personalidade histérica vem relacionado àquele sobre a fixação oral. É como se o caráter anal, proposto por Freud, ligado à neurose obsessiva, mas nem sempre desenvolvida, tivesse que ter como sucedânea uma suposta personalidade histérica/ " caráter oral".

Vimos na década de 50 o artigo de Judd Marmor (1953), vemo-lo agora influenciar outros, tais como aquele de Mcclain Johnston, "Características de oralidade na personalidade histérica" (1963). Trata-se da descrição de um caso e de uma análise abertamente baseada em Marmor. Outros são, por exemplo, "Personalidade histérica; uma reavaliação", de Bárbara Easser e Stanley Lesser (1965), onde os autores separam a personalidade histérica de outras manifestações ditas também histéricas e mostram a sua dinâmica, a partir da observação de um grupo de pacientes-mulheres. Buscam mostrar ainda diferenças entre personalidade histérica e histeróide, nesse caso borderline e psicótica. Embora vejam uma continuidade entre histérica e histeróide, onde o grau e precocidade da fixação vai aumentando da primeira para a segunda, e, nesse último caso, a relação com a mãe doadora de amor e proteção é que está em causa, ao final do artigo, que foi todo examinado, os autores criticam o excesso de ênfase na oralidade por oposição à causalidade edipiana. Dizem:

A prática clínica e a literatura psiquiátrica mudaram bastante e modificaram sua primeira formulação sobre a histeria. Uma crescente ênfase tem sido posta sobre as fixações orais e seus esforços resultantes de dependência, juntamente com um certo descarte do conflito edipiano enquanto núcleo da neurose. Cremos que se pode errar tanto ao enfatizar fixações precoces quanto ao afirmar que toda histeria é edípica em sua origem. É preferível separar os pacientes em duas classificações diagnósticas (...). Nós reservamos o termo personalidade histérica para a mais madura e integrada e chamamos o amplo grupo que se estende desde o pré-genital até o psicótico de histeróide.(p. 404-405)

Entretanto, apesar de todas as diferenciações e críticas feitas, a nosso ver muito pertinentes, a paciente classificada pelos autores desse artigo como "personalidade histérica" continua a ser chamada simplesmente de "histérica". Embora os autores não nos falem em nenhuma espécie de conversão, é curioso que todas as pacientes do grupo analisado pelos autores têm uma queixa acerca do sexual, representado enquanto gozo físico.

O procedimento lembra um pouco aquele empregado por Freud (1985/1990) sobre a neurastenia de Beard. Freud toma toda a descrição do psiquiatra americano e separa os sintomas diretos ou que podem estar representando a angústia e os integra no que chama neurose de angústia.

Easser e Lesser (op. cit.) fazem algo semelhante com a histeria. Sabemos que, desde Charcot, a histeria é descrita, de um lado, pelos estigmas, o que Freud chamou conversões, e, de outro, pela emocionalidade, inclusive sugestionabilidade (Babinski). Easser e Lesser recortam a emocionalidade, isto é, o comportamento e o interpretam, a nosso ver, como neurose. O que ficamos sem saber é que relações a personalidade histérica tem com a histeria ou se ela recobre esta última quase toda.

Um trabalho que também nos pareceu interessante é o de Elisabeth R. Zetzel, cujo título é "O assim chamado bom histérico", de 1968.

A autora separa sujeitos diagnosticados como histéricos em quatro grupos. A separação tem como critério não uma observação geral do sujeito, mas é analítica, isto é, trata-se de uma classificação segundo a resposta ao tratamento. Os grupos são: (1) bons histéricos que estão preparados para a análise tradicional; (2) histéricos potencialmente bons; (3) mulheres com uma estrutura de caráter depressivo subjacente e que manifestam sintomas histéricos; e (4) mulheres com sintomatologia aparentemente histérica, mas interpretável como pseudo-edipiana e pseudo-genital.

Para o que chamamos a atenção é, primeiro, Zetzel, fala-nos em caráter histérico e neurose histérica 8, parece não ter grandes preocupações em separar histéricos de personalidades histéricas. O que conta parece ser o "jogo" do tratamento. A divisão, sim, que parece importante, é aquela já feita por outros (Easser e Lesser, op. cit.) entre o edipiano e pré-edipiano como causas centrais.

Também nos anos 60 aparecem artigos sobre a dissociação, muitos sobre o tratamento e estudo de casos, e, surpreendentemente, história da psicanálise — Freud e Breuer, a histeria e a descoberta da psicanálise. Trata-se, por exemplo, do artigo "O estilo científico de Breuer e Freud nas origens da psicanálise", de Schlessinger (et al.,1967).

Os anos 70, por sua vez, inauguram-se justamente com um texto de história. Trata-se de "Hysteria", de E. Trillat, onde o autor propõe uma história sobre pontos de vista, que inclui Charcot, Janet, Babinski e, finalmente, Freud. Há, ainda, texto sobre historia da psicanálise em geral e da psicoterapia.

Próximo a isso se tem texto sobre o homem Freud, evidentemente no seu papel de criador da psicanálise. Um exemplo é "Freud em Paris; um estágio crucial" (1970), de Leon Chertok ou, ainda "Freud em Paris; um estudo psicobiográfico" (1985-85). Aliás, esse autor tem inúmeros textos sobre Anna O., publicados em revistas psicanalíticas. O mesmo se pode dizer de Henri Ellenberger (1970).9

Próximo a isso, tem-se a retomada de casos de Freud e de Breuer. O mais referenciado é o caso Dora, em seguida o de Anna O. e, depois, o de Emmy Von N..

Parece haver três espécies de abordagens. Uma delas é biográfica. Trata-se de expor a vida inteira da paciente antes, depois e durante o tratamento com Freud ou com Breuer, ou trechos, seja de algum familiar ou amigo. Um exemplo é "Uma nota adicional a ‘Fragmentos da análise de uma histeria, de Freud’", escrito por Arnold A. Rogow (1978), em que o autor faz uma espécie de psicobiografia de Otto Bauer, influente dirigente do Partido Socialista Austríaco, marxista importante, que era irmão de Ida: Dora. Faz, ainda, um reexame do caso —analisado por Freud— trazendo elementos do meio político e cultural da época. Diz ele poder trazer nova luz ao caso (Dora).

Isso nos leva à segunda abordagem, que de certa forma está presente no texto de Rogow. Trata-se de artigos que buscam acrescentar ou analisar algo que Freud teria como que deixado de perceber ou não pudesse fazê-lo. Um exemplo é "A transferência no caso Dora", de Merton e Muslin (1978). O que o curto resumo aponta é a idéia de que vai mostrar que o que cegou Freud, no caso, como se sabe, ele mesmo o diz, teria sido a contratransferência.

Um terceiro aporte é próximo a esse, mas visa dar algo como uma outra explicação ao caso ou, ao menos, olhá-lo de outro ponto de vista. Um exemplo é o "Dora revisitada", de Karl K. Lewin (1973). A proposta é discutir aspectos do caso, principalmente as relações entre histeria, masoquismo e desenvolvimento psicossexual da mulher. A idéia é de que os conflitos de Dora são aqueles comuns do desenvolvimento das meninas, intensificação do desejo por suas mães e inveja da primazia do pai, de maneira a desejar livrar-se do rival, ao mesmo tempo buscando manter sua posição dentro da família, como meninas adoráveis. O deslocamento e a sublimação viriam como maneira de converter o amor homossexual pela mãe em amor heterossexual. Dora não teria conseguido fazer esse deslocamento.

O que se vê aí está ainda muito próximo do horizonte de explicação freudiana, sobretudo se nos lembrarmos de "A feminilidade". Entretanto, não é ela que se encontra no texto do caso ("Fragmentos da análise de uma histeria") e nem é essa a noção de desenvolvimento que Freud ali utiliza.

É interessante esse crescimento abrupto e constante do interesse por Freud e pela história. Não saberíamos dizer o que o motiva. O fato é, em 1970 ou 77, a psicanálise se dá conta que tem uma história e portanto uma identidade e esta se torna influente. Com isso, há uma volta a Freud, mesmo fora do campo lacaniano. Volta, a nosso ver, quer dizer que não se está mais nele ou com ele, mas é preciso fazer um movimento, seja para repetir, seja para reformular.

Nesse influxo, é importante notar o aparecimento de artigo de Jean Laplanche, que apareceu no Bulletin de Psychologie, em que se introduz leituras freudianas universitárias. O título é bem comunicativo: " Pulsão, angústia, sociedade, do ponto de vista subjetivo: pode a análise ser ensinada na universidade?" (1971-72). Sabemos que isso vai alcançar profundidade e universalidade com a publicação de suas Problématiques.

Dois pontos importantes, já mencionados sobre a década de 60, continuam a aparecer com intensidade e até mesmo a dar os contornos do campo. Trata-se do edipiano versus pré-edipiano, o que leva à problemática da mãe (primitiva) e, junto a isso, o diagnóstico diferencial histeria versus personalidade histérica e ambos versus psicose e estados borderline. Isso se pode ver com clareza justamente num texto do próprio Laplanche, de 1974, que faz uma espécie de estado da coisa, que, na verdade, é o relatório de um painel sobre a histeria, acontecido em Paris, no 28º Congresso da IPA, em julho de 1973. Laplanche expõe as idéias de quatro autores, além das próprias colocações. Numa primeira exposição, que é do americano David Beres, o que logo aparece diz respeito a essa diferença propalada entre histeria e personalidade histérica. Para esse autor, seja o sintoma, isto é, a conversão, ou seja a conduta, isto é, o caráter, ambos podem ser lidos no mesmo nível, que é o da expressão do conflito. Isso é semelhante ao que vimos de Elizabeth Zetzel (op. cit.), que é, digamos, o perpassar um fio de racionalidade analítica sob fenômenos aparentemente diversos. Na continuidade, ficamos sabendo que Beres propõe como núcleo do conflito o complexo de Édipo, tal como Freud, tendo o recalcamento como principal defesa. Em seguida, vem Alfredo Namnum, da cidade do México. Também para esse autor surge o problema do caráter histérico. Mas antes disso, o autor coloca-nos que o que se tem da histeria e que separa a psicanálise da psiquiatria é a idéia de expressão de conflito sexual, muito mais que uma síndrome. Entretanto, a revolução sexual teria feito desaparecer a histeria como se viu com Charcot. Nos dias de hoje, restaria muito mais uma espécie de personalidade. Entretanto, o caráter histérico não seria algo muito definido, como é, por exemplo, o caráter anal-obsessivo. Descobriu-se, na histeria, segundo o autor mexicano, fixações orais que sublinhariam as relações primitivas com a mãe. Entretanto, isso não teria sido integrado com a bem estabelecida teoria do conflito edípico. A coesão desses dois pontos seria a condição para salvar a idéia de caráter histérico. O fator cultural, isto é, para quem a histérica dirige o seu pedido seria fundamental no sentido de entender as mudanças do sintoma. Outro autor é Eric Brenman, da Grã-Bretanha. Esse autor fala em avanços da psicanálise. Mas, essa idéia de evolução que surge é justamente a oposição edipiano versus pré-edipiano. O autor descreve uma personalidade histérica de matizes quase borderline, em que a dependência e voracidade, no sentido kleiniano, seriam a tônica. Num jogo de idealizações, projeções e introjeções, ter-se-ia uma transferência de intensidade muito primitiva. Tudo isso seria reportável à primitiva relação com a mãe e o autor traz o conceito de good enough mother, de Winnicot. De muito interessante é a teoria que Brenman vai tecendo em torno da idéia de catástrofe: o sujeito histérico comporta-se como se estivesse sempre à beira de uma catástrofe. Ora, isso leva, do mesmo modo à idéia de vivências muito primitivas. O conferencista seguinte é André Green que, rapidamente, propõe conciliar a teoria freudiana do conflito edipiano com fixações mais primitivas, vistas de maneira kleiniana-Bioniana. A mãe histerogênica proveria sua criança de um amor excessivamente idealizado e incentivaria a voracidade e a dependência.

O que se tem, a partir dos três últimos autores é que o caráter histérico remeteria a um mundo muito primitivo, a tal ponto que um dos membros do público questiona se todos estão falando do mesmo histérico ou se não seriam casos muito diferentes inclusive limites.

Diferente disso, o comentador, Laplanche, já abre suas asserções limitando a histeria à histeria de conversão, tal como Freud a descreveu. Mas, mais que isso, Laplanche propõe a idéia de cena. O histérico tem algo a dizer na cena que monta e faz o outro participar e, nesse lugar, está o corpo, principal cenário. A cena é triangular, ligada ao Édipo e faz desenrolar, nela mesma, os fantasmas originários, sobretudo a cena primitiva. A fixação oral, que vimos aqui sobretudo a partir de Judd Marmor (1953), não contradiz o ponto de vista da cena, que é o edipiano.

Vemos então, que nesse momento dos anos 70, trata-se, para muita gente, de integrar as ditas "novas descobertas" do primitivo, com o edipiano. Talvez haja mesmo aí um jogo em que a própria identidade da psicanálise é posta em questão. Talvez isso esteja indo pelo mesmo caminho de necessidade que faz apelar à história, sobretudo da fundação, com Freud.

Por essa mesma trilha, de análise do mais primitivo, temos artigos como "Histeria de conversão e sintomas conversivos; uma revisão de classificação e conceitos", de Melitta Sperling (1973), em que o processo conversivo é discutido enquanto regressão psicossomática ao tipo de relação com a mãe. Outro exemplo é o artigo de M. Masud Khan e B. A. Hons, que tem o sugestivo título de "Rancor e histeria", de 1975, que discute as relações entre maternagem (good enough mothering 10) histeria e privação.

Tem-se também o artigo Compulsion hysteria, de E. Verbeek (1975), que comenta a personalidade histérica, naquilo que ela tem de tirânico, relacionando fixação anal e fase edipiana.

É também nos 70 que a expressão "transtorno de personalidade histriônica" se faz sentir no material. Isto é, a APA (PsycInfo) classifica os artigos sobre histeria com essa palavra-chave.

Um ponto também importante é a espécie de nosologia que aparece (não estamos tomando essa palavra ao pé da letra, mas falamos em psicopatologia analítica). Se nos anos 30 e 40 encontramos entre os artigos um verdadeiro catálogo de conversões, se nesses anos também o diagnóstico diferencial está em torno de separar histeria de esquizofrenia, se nos anos 50 e 60 a separação é em torno de histeria e histeria de angústia, nos anos 70 já não se faz um catálogo de conversões, mas de fantasias histéricas recolhidas nas análises, assim como o diagnóstico diferencial é em relação ao dito paciente borderline 11.

Com relação às fantasias, podemos encontrar artigos sobre as fantasias bissexuais —evidentemente isto vem no rastro da via aberta por Freud — fantasias sexuais de várias espécies, fantasias dos casos de Freud. Etc.

Por sua vez, a proximidade borderline tem muita importância. Bollas (1999) chama a atenção para isso. Segundo ele, os anos 70 confundiriam as duas patologias, de tal forma que a histeria praticamente cedeu lugar aos estados-limite. Como exemplo de artigos, têm-se "Sexualização na dinâmica familiar e seu significado para a etiologia da histeria borderline", de Semmler (1977). O autor fala de um grupo de pacientes ditos borderline, em que os sintomas giram em torno de grande sexualização, com incapacidade parcial de recalcar e fantasias sexuais abertas. A interpretação é de que a criança teria sido idealizada e colocada como substituto do parceiro.

Finalmente uma curiosidade em relação aos anos 70: aparece um único artigo sobre neurose de guerra, de Biran e Wertheimer (1975). Trata-se da guerra entre árabes e israelenses, em 1973.

Anos 80, passemos a eles.

Essa década traz a surpresa de um salto quantitativo, que talvez possa ser explicado apenas pela capacidade material de comunicação da própria época. Comunicação aí deve ser tomada como publicação, divulgação, indexação e criação de novos grupos psicanalíticos ligados ou não à IPA12.

Os temas encontrados são mais ou menos os seguintes e parecem ser menos variados do que a quantidade poderia indicar: história da psicanálise, sobretudo em relação a Freud; críticas a Freud; revisões dos casos de Freud (principalmente Dora e Emmy) e de Anna O.; fenômenos culturais como ritos de passagem, transe e possessão, arte e literatura; gênero e feminilidade; psicossomática; o fenômeno da transferência em geral, a transferência histérica, a aliança terapêutica, o corpo na transferência. Do ponto de vista das patologias comparadas ou próximas, aparecem as fobias, as epilepsias 13, os estados borderline, os estados maníaco-depressivos, assim como a depressão na histeria aparece com certa freqüência. A personalidade histérica aparece pouco, enquanto temática específica, mas está sempre presente na medida em que a expressão-chave "transtornos de personalidade" é bastante usada. As relações entre histeria e psicose continuam a aparecer, agora enfatizando o narcisismo na histeria; entretanto, as relações tão diretas entre histeria e esquizofrenia diminuem muito14. Os fantasmas de bissexualidade no sintoma histérico são retomados com ênfase. Conceitos como identificação projetiva e relações objetais e clivagem aparecem, vindos de sua origem kleiniana e pós-kleiniana, assim como a função da linguagem e até mesmo a forclusão e a origem lacaniana dessa discussão também têm um certo destaque.

Além disso, outros temas são: discussões entre psicanálise e teorias neuro-cognitivas; abuso sexual; gênero e feminismo. Essas últimas são temáticas que poderíamos dizer de época, com repercussão social advinda de fora do campo da psicanálise, mas que nele são retomadas com ênfase.

Vejamos com um pouco mais de detalhe alguns desses temas.

A crítica a Freud aparece de maneira um tanto chocante. Trata-se de um livro publicado por J. Masson, que tem o significativo título de O atentado à verdade; a supressão da teoria da sedução por Freud (1984). Masson foi funcionário do Museu Freud e, fazendo referências a documentos de época, acusa o criador da psicanálise de ter sabido que crianças com muita freqüência sofriam de abuso sexual e violência, mas teria preferido calar-se e voltar atrás em sua teoria explicativa da neurose, em que essa seria causada sobretudo pelo trauma de sedução. Mas, como contrapartida tem-se, artigos de defesa de Freud. Encontramos vários, mas chama a atenção este título : "Em defesa de Sigmund Freud contra a carga de covardia de Masson", texto de J. C. Morrant (1985), da Associação psiquiátrica do Canadá. É interessante que se trata de uma defesa moral. Segundo Morrant a honestidade e a coragem de Freud é inquestionável e isso é bem visível quando, muito depois do abandono da teoria do trauma de sedução, ele se viu ainda confrontado a críticas infamantes, feitas a teorias bem posteriores àquela dos anos 1890.

Ainda em relação a Freud, está o tema da história da psicanálise que é um dos mais freqüentes. Cabe aqui a mesma observação que fizemos sobre os anos 60. Trata-se de ter uma história, isto é uma identidade. Secundariamente a isso, essa história traz também renovação e discussão dos conceitos psicanalíticos. Isso é bem visível nos casos freudianos "revisitados". Um exemplo curioso é o do artigo, de 1985, de W. W. Meissner, da escola de medicina de Harvard, em que o autor além de chamar a atenção para os aspectos contratransferenciais do par Freud-Dora, como já vimos antes, estabelece um novo diagnóstico para Dora: tratar-se-ia de algo diferente de uma neurose histérica, mas seria mais propriamente um caso de personalidade borderline e isso poderia ser notado justamente a partir da relação transferencial-contratranferencial. Isso sobretudo porque o autor vê aí dinâmica paranóide 15.

É difícil concordar com Meissner a partir apenas do caso, isto é, do texto de Freud. Talvez o artigo tenha mais elementos, mas o resumo não deixa entrever. Seja como for, a mudança de diagnóstico dos pacientes de Freud é muito significativa. Na década de 90, Sílvia Bleichmar publica artigo com os seguintes dizeres: "não são muitos os analistas atuais que considerariam Anna O. ou Emmy Von N. como portadoras de neuroses histéricas. Borderline, psicose histérica, são algumas das denominações de diagnóstico para entidades que, na época de Freud, enquadravam-se perfeitamente no terreno das neuroses" (1996: 91-92). Isso que Bleichemar diz para os anos 90, servem também para os anos 80. Ora, é a época que se modifica, é a psicanálise que se modifica e é também a psiquiatria. A impressão que se tem dessas mudanças é a de aprofundamento da gravidade dos diagnósticos, em que o fator narcísico torna-se mais enfatizado, mesmo na histeria. É desse modo que aparece um interessante artigo de Alfredo Liendo Marranti, na Revista de psicoanalisis, da Argentina, em 1986, que se intitula: "Histerias, narcisismos e psicoses". Trata-se da discussão de mudanças culturais na psicopatologia humana desde Freud até os nossos dias. O autor propõe haver relações entre transtornos histéricos, narcísicos e psicóticos. Um título também sugestivo desse mesmo número é "Sobre histeria, caracteres histéricos, psicose histérica", de Edgardo Rolla (1986).

Um ponto a ser ressaltado no artigo de Meissner, citado acima, está na idéia de diagnóstico a partir da contratransferência. É muito possivelmente pela idéia de uma contratransferência difícil e uma transferência com matizes paranóides que o autor conclui pelo rótulo de borderline. Aliás, esse artigo traz em si um conjunto de três temas muito prese ntes nos anos 80: a contratransferência, os estados próximos ao psicótico e a revisão de Freud. Parece que nos anos 80 a contratransferência toma mais importância em si mesma e como veículo de diagnóstico. Isso, a nosso ver, faz retirar aspectos psiquiátricos de décadas anteriores, em que o paciente aparece isolado com a sua patologia a ser vista "objetivamente ". Parece haver, então, uma guinada para o par analítico. Ao mesmo tempo, os rótulos começam a se aproximar do DSM-III (item "transtornos de personalidade").

A ênfase nos elementos narcísicos não impede que aspectos objetais continuem a ser enfocados. Os fantasmas de bissexualidade (e o Édipo), já mencionados por Freud, aparecem com freqüência. Damos alguns exemplos de artigos: "Fantasma de bissexualidade, histeria motriz e processo de simbolização", de Marie Bonnafe-Villechenoux (1989); "Apontamentos sobre a histeria feminina", de Hugo Mayer (1986); "Mas quem sou eu, então?, de Pearl Lombard (1985).

Chamam, também, muito a atenção os artigos ligados ao tema gênero, isto é, ao feminismo. Comentamos dois deles.

Ricardo O. Moscone, em "A histérica, uma antifeminista?", artigo de 1986, depois de discutir a psicossexulidade no desenvolvimento da histeria, afirma que, de alguma maneira, a histérica recusa, pois, o feminino e isso que justifica o título do artigo. Aqui, vêm-nos as afirmações de Lacan (1988), feitas no seminário 3, sobre a impossibilidade da histérica saber, de fato, sobre o feminino, ao se perguntar, através do sintoma, "o que é uma mulher?"... Temos a impressão que, de algum modo, é o próprio Lacan quem introduz o tema do gênero ou, ao menos, dá instrumentos para isso.

Outro texto que queremos fazer referência é o livro de Harriet G. Lerner, intitulado Mulheres em terapia (1988), onde a autora mostra como algumas idéias feministas inspiraram e informaram sua visão psicanalítica. Como já afirmamos, essa temática tem relação muito explícita com a época de sua produção e vai ser também bastante enfatizada na década seguinte.

Porém, antes de passar para a década de 90, vale a pena apontar a importância e produção crescente em torno da temática da histeria, nos anos 80, com a realização de dois eventos europeus. Trata-se do 44º Congresso de Psicanalistas de língua francesa, organizado pela Sociedade Portuguesa de Psicanálise e realizado em Lisboa em 1984. Evento ao qual é dedicado um número, de mais de 500 páginas, da Revue Française de Psychanalyse, publicado em 1985. Sob o nome de Ainda a histeria, a mesma revista dedica um outro volume à publicação, em 1986, da produção decorrente de um segundo evento, desta vez realizado na França, um ano mais tarde, e conhecido como o Colóquio de Deauville. São mais de 50 autores que debatem diversos aspectos da histeria, sob o amplo tema "Da neurose de angústia à histeria" . Mencionamos alguns exemplos ilustrativos dessa diversidade e importância marcante na produção sobre a histeria. Assim temos o relatório de A. Jeanneau, "A histeria; unidade e diversidade" (1985), onde o autor, ao longo de mais de 200 páginas, apresenta uma exaustiva revisão dos principais conceitos da histeria. Inicia abordando a ambivalência em relação a histeria, os afetos provocados pela histeria e que transporta cada um de nós para os confins incertos de emoções e decepções. Sugere que a crise histérica deve ser atendida dentro da linguagem possível, a depressão, como diálogo que responde ao paciente também ao nível da sua depressão.. Enfoca as relações da histeria com outras neuroses, como a fobia, e com os estados borderlines; e aborda temas clássicos psicanalíticos tais como recalcamento, angústia, bissexualidade, castração, conversão, além disso, menciona alucinação. O autor, ainda, comenta as apresentações dos participantes do evento, naquilo que elas inovam, retomam ou omitem.

Outros artigos são chamativos pelos seus títulos. Assim temos: "Da histeria à depressão", de Matos (1985); "Histeria traumática na infância" (Ferreira, 1985); "Discurso sem corpo, discurso no corpo" (Ksensé, 1985); "Conversões", de Pragier (1985); "Sobre o encontro da histérica e da situação analítica" (Donnet, 1986); "Eu sou aquela que você crê" (Urtubey, 1986) e outros...

Grosso modo, os assuntos abordados, nesses dois eventos dos anos 80, correspondem, na leitura de Roux (1986), a três grandes temas: o nosográfico, o metapsicológico e a relação entre histeria e depressão.

O tema nosográfico discute sobre o possível desaparecimento da histeria e da histérica, bem como os efeitos da contratransferência ao revelar os aspectos mais ou menos histéricos de um paciente.

Quanto à discussão metapsicológica, a autora a situa principalmente em torno do funcionamento psíquico e as representações: representações-palavras, afetos, ações, representações impossíveis do feminino e da morte, os irrepresentáveis da vida psíquica. Identificação e sedução são amplamente discutidas.

Finalmente, sobre as relações entre depressão e histeria, a autora aponta como objeto da histérica a sua procura, seja como espectadora, seja como continente, seja como atriz no lugar do sujeito, daí a importância das demonstrações histéricas. Discute, ainda, a organização anal, na histeria, relacionada com a dificuldade maior da histérica, que se localiza precisamente na parte inferior do seu corpo. Em seguida, Roux cita Anna O. e faz uma passagem da analidade ao fantasma da gravidez, presente em todo tratamento psicanalítico e, de forma metafórica discute a fecundidade ou esterilidade, a aceitação e a recusa nos resultados do tratamento.

Feitos esses comentários, passemos, a seguir, aos anos 90. O que se tem, então, não é muito diferente da década anterior, por isso, e porque o texto já está muito grande, vamos poupar o leitor de detalhes. Isto quer dizer que a exposição dessa década vai ser muito breve.

O que parece haver na década de 90 é, talvez, uma maior ênfase em assuntos já tocados e que, de fato, não deixam de ser ligados à época. São assuntos tais como estados borderline e histeria; a importância da contra-transferência; histeria e relações de gênero; e Sigmund Freud como personagem. Também aparecem os temas: história da psicanálise; narratividade e escrita em psicanálise; o trauma; a oralidade; fantasmas bissexuais; fantasmas edipianos; angústia e histeria; relações de gemelidade (um único aparecimento); relações familiares. Em termos de psicopatologia comparada, aparecem relações com a drogadicção, com as fobias, com o pânico, com a anorexia e com as neuroses ocupacionais (isso é novo); aparece também a discussão do caráter histérico. O tema do abuso sexual volta a aparecer com intensidade e ainda o tema da crítica a Freud, seja como defesa ou acusação; há, ainda a republicação do livro de Masson. Há também crítica a Melanie Klein.

Em termos de cultura, parece ter ênfase o tema do transe e da possessão; aparece a etnomedicina, assim como discussões em termos de arte e literatura. Apontam-se personagens como "a bruxa", Drácula, Dostoievski.

Quanto aos personagens clássicos da psicanálise, Dora surge com uma freqüência apenas menor que o próprio Freud como personagem. Aparecem também, com muita freqüência, Emmy e Anna O.. Há um aparecimento surpreendente de Elisabeth, outro de Cecilie e outro de Lucy. No ano de 2001, a revista Junguiana Journal of Analytical Psychology, sediada na Grã-Bretanha, publicou diversos textos sobre Sabina Spielrein e suas relações com Jung, que foi seu analista e com quem teve conturbadas relações amorosas. Trata-se de uma personagem psicanalítica da época em que Jung pratica a psicanálise, ainda incluído no grupo de Freud..

Aparecem também teorias que merecem ser nomeadas. Há alguns textos kleinianos; os artigos claramente lacanianos surgem com muita freqüência, principalmente na discussão de gênero, como foi comentado; e aparecem teorias ou enfoques teóricos, digamos, novos, como a sedução generalizada, de J. Laplanche e a psicopatologia fundamental, iniciada por P. Fedida. É surpreendente o reaparecimento, com ares de modernidade, das idéias de Fairbairn, nascidas nos anos 40, em proximidade com o grupo kleiniano.

Vejamos um pouco dos artigos.

Comecemos com o tema gênero.

Um texto que chama a atenção, embora tenha um resumo muito curto, é de origem brasileira e tem por autora Ângela Moreira Utchitel. Intitula-se "A histérica e suas controvertidas relações com o campo do feminino" (2000). A autora busca discutir, de maneira lacaniana, as relações da histérica com os papéis masculino e feminino. Conclui que a histeria e a posição feminina não se correspondem. Isso não é nenhuma novidade quando lembramos dos ditos de Lacan sobre Dora (Seminário 3) e a pergunta da histérica sobre "o que é uma mulher". Contudo, mesmo assim, a associação entre feminino e histeria parece ser quase um dogma desde Freud, desde que ele associou histeria e passividade e neurose obsessiva e atividade.

Outro artigo também de leitura lacaniana que chama a atenção não está numa revista propriamente psicanalítica, mas no Journal of lesbian studies, e tem por título "Conversa livre; teoria lésbica, histeria, domínio e a coisa homem/mulher" (Leeks, 2000). Trata-se de crítica a Freud. Utilizando a teoria dos quatro discursos, a autora busca analisar as posições subjetivas na crítica à psicanálise. Segundo a autora, a crítica feminista concentrou-se em criticar o que chama a principal obra narrativa de Freud, que são os relatos sobre os casos de histeria. O próprio Freud, dizem algumas, teria desenvolvido histeria "ao produzir narrativas sobre mulheres e feminilidade". Entretanto, continua, feministas e autoras lésbicas arriscam-se a reproduzir o suposto descuido de continuar a ver a sexualidade em termos de uma bissexualidade feita de componentes masculino e feminino. O que talvez seja preciso, diz a autora, é produzir discursos de perversão —não produzidos por Lacan, diz— em torno do falo e em torno da coisa homem/mulher. De algum modo, portanto, a autora vê no discurso do analista algo muito, digamos, conformista e genital. Pede pela perversão, isto é, pela revolta e pela não aceitação de uma sexualidade restrita a duas categorias anatômicas e sociais.

Dissemos que esse artigo não está em revista psicanalítica. Mas ele é muito revelador do em torno.

A autora falou em narrativa. Vemos que há vários textos sobre a narratividade em Freud, onde o relato psicanalítico é visto como obra de escrita e de ciência. Na verdade, a narratividade guarda em si três assuntos importantes: história da psicanálise, epistemologia da psicanálise e discussão clínica, por vezes. Um exemplo é o artigo de Anne E. Thompson, publicado em 1990 e intitulado "O fim da história de Dora; uma nota de rodapé de Deutsch como narrativa". Examina texto de Hélène Deutsch que relata o caso Dora e propõe questões em torno da validade de relato de casos em geral. Segundo a autora, Deutsch está muito influenciada pelo próprio texto de Freud e por suas relações com ele. Discute também o papel do acabamento do relato enquanto texto. A partir desses questionamentos gerais, afirma que Deutsch teria excluído a subjetividade de Dora e a possibilidade de interpretações outras além das de Freud.

Um outro exemplo é o de Max Kohn que, em artigo publicado em Bulletin de psychanalyse (2000), propõe a identidade narrativa como terceiro elemento entre teoria e prática em psicanálise, um elemento intermediário. Segundo o resumo, a histeria, aí, é vista como uma identidade narrativa.

Do ponto de vista do trauma, há muitos, muitíssimos artigos, que vão desde de crítica a Freud até uma certa retomada da teoria do trauma como causação da histeria. Chama a atenção o artigo de Hikka Huopainen, "A visão de Freud sobre a histeria à luz da pesquisa moderna sobre o trauma" (2002).

O autor expõe a dita primeira teoria das neuroses em Freud até o ponto em que esse último escolhe o abuso sexual pelo pai como causa mais provável dos estados histéricos e, em seguida, abandona essa teoria. Entretanto, diz o autor, pesquisas recentes sobre o trauma teriam "redescoberto" a dissociação por trauma, mas, diferente do recalcamento. Isso levaria a um possível "novo entendimento" de dinâmicas originadas do trauma assim como do tratamento. Não há detalhes, mas, encontramos na bibliografia de Hoapainen textos sobre trauma diversos, tanto psicanalíticos, como os de Joyce MacDougall, de Bollas, como textos psicológicos. Entre os textos citados, há um do próprio Huopainen, em dinamarquês, cuja tradução é "Pedofilia; dissociação patológica e trauma" (2002). Daí podemos inferir que, de algum modo, o trauma de que se fala é aquele mesmo de que falava Freud, sobretudo o abuso sexual. Isso faz-nos, evidentemente, pensar num laço com a temática do feminismo e de temas bastante atuais e polêmicos.

É interessante apontar que o livro de Masson, The Assault on Truth; Freud and Child Sexual Abuse, é republicado nessa década (1992) e é citado por Houpainen.

Aí mesmo, a pretexto da temática do trauma, podemos mencionar artigos que buscam relacionar psicanálise e neurociências. Um artigo de Yoram Yovell o permite. Intitula-se "Da histeria ao transtorno de stress pós-traumático; psicanálise e a neurobiologia de lembranças traumáticas" (2000). É interessante, ainda, que essa publicação está em uma revista cujo título é Neuropsicanálise.

Segundo esse autor, as lembranças e, principalmente, lembranças traumáticas têm sido, há 100 anos, muito importantes em psicanálise. Contudo, mais recentemente, isso passou a ser objeto de controvérsia. Isso seja na psicologia, psiquiatria e, mesmo na mídia. Por esse mesmo caminho, achados neurobiológicos parecem ir na contracorrente das idéias psicanalíticas. O artigo de Yovell, por sua vez, atém-se a um caso para discutir o que chama de aproximação psicanalítica. A partir daí, concordando com a idéia de importância do trauma na causação da neurose, busca expor como isso poderia ser ilustrado pela função das estruturas de memória no cérebro.

No que diz respeito a uma espécie de nosografia comparada, vemos, ao lado da histeria, rótulos como anorexia nervosa, estados borderline, etc. que carregam consigo a idéia de modificações seja nos próprios rótulos ou seja nas patologias. Chama muito a atenção o livro de Júlia Kristeva, publicado em francês, em 1993, e em inglês em 1995 e que tem por título Nouvelles maladies de l’âme. Segundo Kristeva, as mudanças sociais teriam enviado um novo tipo de paciente ao divã. Tais mudanças estariam relacionadas com revoltas políticas, mídia e transformações ditas dramáticas na família. É desse modo que os modelos clínicos e teóricos de Freud e Lacan deveriam ser revistos tendo em vista esse novo paciente. O resumo não nos diz de que doenças se trata, entretanto, ao reexaminar Lacan, Freud, Hélène Deutsch e alguns escritores, Kristeva propõe que há algo de criativo nessas enfermidades 16, algo de novo para o espírito, mas que precisa saber-se escutar para saber seus efeitos sobre indivíduos e coletividade. Além disso, o que traz um laço com o feminismo, a autora propõe que as mulheres têm uma contribuição nova e singular para a vida psíquica contemporânea.

Aqui, pois, vemos que o que os artigos escolhidos até aqui, no que diz respeito à última década, discutem a modernidade e pós-modernidade, a nova mulher, os novos pacientes. Evidentemente, nessa década, as mesmas discussões sobre a dinâmica da histeria estão presentes, é o que vimos rapidamente quando enumeramos os temas. Contudo, o que há de novo é justamente isso, o discurso sobre o novo. Desde o começo de nosso levantamento, que é o início do século, nunca o novo esteve tão em pauta como nos anos 90-2000. É como se o final de século —e de milênio— fizesse notar, quase que traumaticamente, que o novo aí está, como que obrigado a isso. Contudo, parece ser também uma retomada, talvez em outro diapasão, do que ocorreu no outro fim de século, do século XIX, quando Freud abandonou a teoria do trauma de sedução. Aí está ele de volta... A nova mulher e o "novo" analista tem de levá-lo em consideração.

A nosso ver isso é o que de mais forte aparece. E isso ocorre mesmo teoricamente. É o caso da teoria da sedução generalizada de Jean Laplanche que, afastando-se da sedução focal (evento traumático de sedução), propõe a idéia de uma sedução obrigatória para todos os humanos. Isto é, a criança, ao nascer, seria cuidada por pais que "têm" um inconsciente, isto é, conteúdos sexuais enigmáticos. Esses últimos, de algum modo, tomariam a criança como receptor de mensagem sexual. A impossibilidade de elaborar, metabolizar, diz o autor, é o que levaria ao fracasso e à criação do que Freud chamou de um corpo estranho: o inconsciente. Encontramos, em nosso levantamento, alguns artigos conduzidos a partir dessas idéias. Um exemplo é o artigo de Emilce Dio Bleichmar, intitulado "O segredo na constituição da sexualidade feminina; os efeitos do olhar sexual do adulto sobre a subjetividade da menina" (1995)17.

Ao nosso ver, a teoria da sedução generalizada é uma das construções do presente para o futuro e é desse modo que encerramos nosso texto com o artigo de Bleichmar.

Segundo essa autora, a teoria de Laplanche pode projetar alguma luz sobre as mudanças de objeto de desejo em meninas. Por esse caminho, é possível pensar que a sedução paterna pode criar algo de intersubjetivo com significado sexual, através do olhar. Esse último acabaria por fundar justamente um espaço intersubjetivo, secreto e silencioso, no qual o intercâmbio não vai além do olhar. O olhar sexual, então, instala na mente da menina significado ligado a seu corpo —mesmo vestido, ele, o corpo, pode provocar um olhar que o desnuda. Daí tem-se que a provocação tem como efeito a constituição do conflito público versus privado, exibicionismo versus voyeurismo. A histeria pode ser aí vista como um efeito extremo, um efeito extremo de sedução. É desse modo também, por essas operações intersubjetivas que se constitui a sexualidade da mulher e é também por isso que se lhe atribui sobretudo a provocação (provocativeness).

Finalmente, enumeramos rapidamente alguns —nem todos— movimentos, que pudemos apontar através dos tempos examinados:

Da explicação da histeria pelo edipiano (e fixações fálico-genitais) a explicações baseadas em processos bem mais primitivos (fixações orais, ansiedades primitivas, relações objetais precoces, ansiedade de catástrofe, etc.);

Comparações e aproximações da histeria com patologias diferentes em diferentes épocas, até a idéia de novas patologias e de novo paciente;

Aparecimento com mais freqüência, em épocas mais recentes, de teorias explicativas diferentes da Psicologia do Ego, tais como teorias do sujeito (lacanianas), psicanálise das relações objetais, teoria da sedução generalizada;

Aproximação da discussão psicanalítica com temáticas mais "modernas" e "militantes", sobretudo ligadas ao feminismo (o feminino, o lésbico, o abuso infantil, etc.);

Do afastamento à reaproximação do discurso fundador de S. Freud; por vezes da própria figura de Freud;

Aumento significativo de textos de história da psicanálise, sobretudo no que concerne à atividade de Freud, mostrando uma certa formação da identidade psicanalítica. Talvez o próprio Freud esteja se tornando uma figura mítica de identificação;

Aparecimento regular de outras personagens — reinterpretadas ou não— como Anna O., Dora, Emmy, Emma, Elisabeth, Sabina Spielrein. Etc.

Notas

2. Também de Reich, vai ser muito citado, pelos autores, o livro "Análise do caráter", cuja edição é de 1933.

3 Há de notável nesse artigo saber que foi produzido no Japão, embora o título esteja em alemão.

4. Em 1931, temos, no Brasil, médicos que se destacaram como higienistas e que produziram textos como: "A pesquisa do inconsciente e sua significação médica e científica", publicado no Arquivo brasileiro de higiene mental (Porto Alegre, v. 4, n.1, p. 62-63, jan-fev, 1931). Nesse mesmo ano, Durval Marcondes e J. Barbosa Correia publicam uma tradução de Cinco lições de psicanálise, de Freud. O livro de Elisabete Mokrejs (1993) traz uma bibliografia datada bastante interessante nesse sentido. Chama a atenção também o capítulo de livro, de Ocimar Dacome, psicólogo da Universidade Estadual de Maringá, intitulado " Higienismo e Psicanálise" (2003)

5. Alexander é considerado o fundador da escola de Chicago e parece inspirar-se em Ferenczi (Roudinesco e Plon, 1998).

6. Ver http://www.psychosomaticmedicine.org

7. Dizemos que é relativamente novo porque a idéia vem principalmente de Reich. Trata-se de enfatizar não o sintoma, mas o caráter que estaria subjacente a todos os sintomas, no caso, histéricos. Para Reich —e a referência é Análise do caráter, de 1933,— o objetivo psicoterapêutico não diz respeito propriamente ao sintoma, mas à mudanças no caráter a eles associado.

8. O resumo não nos permite saber como essa divisão é feita e descrita.

9 . Ellenberger publica um enorme volume cujo título é bem sugestivo: The discovery of the unconscious, the history and evolution of dynamic psychiatry.

10. Sabe-se que Khan foi analisando de Winnicott (Roudinesco e Plon, 1998).

11. Jacques André (1999: 7) informa que a expressão borderline surge em 1945 com Adolf Stern. A expressão justa era borderline neurosis.

12. Veja-se a seguinte tabela. Trata-se da distribuição por período de nosso levantamento. Veja-se que na década de 80 há um número de textos que perfaz quase todas as décadas anteriores somadas. Veja-se, ainda, como a década de 90 mantém o mesmo número da de 80 e como os anos 2000 apontam para a possibilidade de produzir muito mais que as décadas anteriores.

Período Número de referências
1910-1922 15
1922-1930 33
1930-1940 70
1940-1950 46
1950-1960 31
1960-1970 57
1970-1980 57
1980-1990 248
1990-2000 240
2000-2002 51
Total 848

13 . Apenas como curiosidade, a relação entre epilepsia e histeria podemos situá-la muito tempo antes de Charcot. A distancia temporal é grande e situa-se na época de Hipócrates (séc. V a.C.), pois na sua classificação dos males, curiosamente o denominado "mal de Héracles" ou epilepsia, consta, não no capítulo do "Mal sagrado", mas no de "doenças das mulheres", porém, distingue o "mal de Héracles" daquele da "sufocação uterina" (Neyraut-Sutterman, 1997).

14. A esse respeito, nessa década, há um único artigo de Hans H. Studt: Schizoide versus hysterische Persoenlichkeitsstruktur. Teil II: Sozialverhalten und krankungssituation. / Schizoid versus hysterical personality structure: II. Social behavioral and triggering situation (1986)

15. Vai se ver adiante, no que diz respeito a dois artigos da década seguinte, o caso de Dora sendo tratado não mais ou não simplesmente como um caso de histeria, mas como um problema de psicopatologia da adolescência.

16 . É interessante remeter o leitor a Freud que, em Neurose de transferência: uma síntese (Manuscrito recém-descoberto, 1915?/1987), se refere ao surgimento da angústia como uma forma criativa do aparelho psíquico para a sobrevivência frente às catástrofes. Dentro desse raciocínio, Freud supõe que no decorrer de uma psicopatologia do desenvolvimento da humanidade, também formas criativas seriam desenvolvidas com a mesma finalidade defensiva, tais como a histeria de angústia, seguida da histeria de conversão, logo a neurose obsessiva, demência precoce, segue a paranóia e, finalmente a melancolia-mania. Kristeva, contudo, não está falando apenas da criatividade da defesa, mas de uma criatividade artística e social do espírito humano.

17. Este artigo foi produzido para o Colóquio Internacional Novos Fundamentos para a Psicanálise de 1992, ocorrido em Montreal, Canadá).

18. A. N. = Accession Number da American Psychology Association (APA). Todos foram obtidos pela base eletrônica intitulada "Psyc-Info".

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Revista de Psicoanálisis y Cultura
Número 23 - Octubre 2006
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